• Por que apenas 1% das pessoas com deficiência estão empregadas?

    Por que apenas 1% das pessoas com deficiência estão empregadas?

    De acordo com dados do IBGE, dos 45 milhões de brasileiros que declararam serem pessoas com deficiência, apenas 1% está dentro do mercado formal de trabalho. Segundo o professor e advogado, especialista em direito público, direitos humanos e direito da pessoa com deficiência, Alexandre Nápoles isso acontece por vários fatores. Confira o vídeo:

    O preconceito enfrentado pelas pessoas com deficiência desde o núcleo familiar, aliado à falta de programas de reabilitação para os trabalhadores com deficiência, são fatores determinantes que prejudicam a inclusão desses indivíduos no mercado de trabalho. Porém, ainda de acordo com Alexandre Nápoles, a postura do empresariado brasileiro também contribui para falta de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Confira no vídeo:

    Podemos concluir, então, que vários fatores são responsáveis pela falta de inclusão dos trabalhadores com deficiência no âmbito profissional.

    Preconceito familiar: provoca menos acesso a uma melhor qualificação.

    Falta de acessibilidade: as cidades e empresas não são acessíveis para pessoas com deficiência

    Falta de políticas de reabilitação: mesmo sendo seu dever, o estado não faz políticas públicas de reabilitação para que as pessoas com deficiência possam se manter ou voltar ao mercado de trabalho

    Mentalidade do empresariado brasileiro: os empresários brasileiros não valorizam esses trabalhadores e muitas vezes não estão dispostos a pagar mais de um salário mínimo para pessoas com deficiência, independente da função exercida. Isso faz com que a maioria prefira ficar em casa recebendo o benefício financeiro do governo o BPC.

    É importante salientar que as cotas exigidas por lei são essenciais para melhorar esse cenário de exclusão do trabalhador com deficiência, mas tudo que foi dito acima confirma que é preciso evoluir em vários outros aspectos para que o número de pessoas com deficiência aumente no mercado de trabalho.

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  • “Vale a pena lutar”

    “Vale a pena lutar”

    Algumas brincadeiras acabam passando dos limites e podem trazer consequências graves para vida de uma pessoa. Foi assim com Cicero Correia de Floresta, atualmente com 55 anos. “A minha deficiência começou quando tinha cinco anos. Eu estava brincando com um menino mais velho e, em determinada parte da brincadeira, ele colocou os joelhos nas minhas costas e puxou com força causando a lesão”.

    Os dias foram passando e Cícero começou a sentir dificuldades para andar. Sua mãe estranhou e o levou ao médico. O diagnóstico constatou uma lesão na medula, duas cirurgias foram feitas para que Cícero pudesse voltar a andar normalmente, mas as operações não tiveram sucesso. Alguns anos depois, ele ainda fez outra cirurgia e usou aparelhos para auxiliar no seu caminhar, mas não surtiu o efeito desejado e gradativamente ele se tornou cadeirante.

    Cícero Correia de Floresta em entrevista ao eficientes

    A partir desse momento, Cícero passou a ter novos desafios de vida. Oriundo de uma família humilde, era complicado conseguir uma cadeira de rodas, uma vez que os pais não tinham condições financeiras. Por causa disso, ele viveu vários anos apenas dentro de casa. “Naquela época, as escolas públicas não tinham estrutura para receber pessoas com deficiência e principalmente no meu caso, que não andava. Então fui alfabetizado em casa. Minha mãe pagava professores particulares para ir me ensinar. Eu tinha consciência que se quisesse ter alguma coisa melhor na vida, ainda mais sendo uma pessoa com deficiência, precisava estudar, por isso que nunca desisti”, afirma Cícero.

    Aos 16 anos, Cícero foi a primeira vez para escola que ficava na sua comunidade, em Santo Amaro. “Eu ainda não tinha cadeira de rodas, minha irmã me levou num carrinho de mão e não era fácil porque as ruas eram cheias de lama e buracos, além de serem completamente desniveladas. Muitas vezes precisei que pessoas da comunidade me ajudassem para poder chegar à escola, mas depois consegui uma cadeira de rodas”.

    Depois de muita luta e insistência, Cícero fez supletivo e concluiu o Ensino Fundamental. Ele continuou estudando e fez vestibular. Na primeira tentativa não passou, então resolveu fazer um curso técnico em computação. Durante esse curso, Cícero conseguiu um estágio como digitador na Universidade Católica de Pernambuco onde foi contratado e já trabalha há mais de 30 anos. Também na Unicap Cícero se formou em Ciências Biológicas. É importante salientar que Cícero começou a trabalhar na Universidade Católica muito antes da lei que obriga as empresas a contratarem pessoas com deficiência. Atualmente, ele continua trabalhando como digitador da instituição, mas também ajuda nas questões de atendimento aos alunos.

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  • Qual a nomenclatura correta?

    Qual a nomenclatura correta?

    A Constituição Federal de 1988, que está completando 30 anos em 2018, foi a primeira constituição brasileira a trazer avanços para as pessoas com deficiência. Em relação à nomenclatura, foi acordado que as pessoas com deficiência deveriam ser reconhecidas como “portadoras de deficiência” ou “portadores de necessidades especiais”.

    Atualmente, esses dois termos estão ultrapassados e são considerados incorretos. A Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência definiu que a forma correta para se referir a alguém com essa condição é utilizando o termo “pessoa com deficiência”.

    Para o advogado Alexandre Nápoles, especialista em direito público, direitos humanos e da pessoa com deficiência, utilizar o termo correto é importante não só do ponto de vista linguístico, mas é uma questão de respeito e quebra de paradigmas. “A palavra ‘portar’ diz respeito a trazer consigo, então quando dizemos que alguém é portador de deficiência estamos dizendo que ela está portando a deficiência como se fosse um objeto que pode ser deixado de lado, mas isso não é possível”.

    Ainda de acordo com Alexandre Nápoles, o termo “necessidade especial” também é incorreto. “Pessoas com necessidades especiais podem ser idosos, obesos, gestantes, lactantes e não necessariamente pessoas com deficiência. Então, se pensarmos de forma inclusiva, afim de não aceitar estereótipos e preconceitos, além de entender que a pessoa com deficiência tem direito à dignidade humana e não pode ser comparada com um objeto, é de extrema importância usar o termo ‘pessoa com deficiência’, que é o correto”.

    Confira o que diz a legislação

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  • “Sou prova viva que as pessoas com deficiência são capazes”

    “Sou prova viva que as pessoas com deficiência são capazes”

    A contadora Andréa Serino Barbosa tinha um tumor na medula desde a gestação, mas ninguém sabia. Aos doze anos, ela começou a sentir sinais, pois estava com problemas para impulsionar o pé e subir os degraus. Sua mãe percebeu que aquela dificuldade não era normal e procurou um ortopedista. Os médicos, então, analisaram Andréa e disseram que poderia ser algo neurológico. A partir deste momento, a família procurou vários neurologistas do Recife, porém o diagnóstico correto demorou a ser descoberto.

    Depois de vários anos investigando o caso, os médicos descobriram um tumor na medula que estava afetando o corpo de Andréa. “Na época foi muito difícil saber que tinha um tumor. Estava com 17 anos, em plena adolescência, e não dava para prever como minha vida mudaria. O tumor tinha 9cm, tamanho considerado grande para padrões da medicina”, conta.

    Andréa passou por diversos procedimentos e soube do risco de ficar paraplégica. “Fiz sete cirurgias no total, quatro para retirar o tumor e três porque tive algumas complicações e precisei refazê-las. Os médicos me alertaram que se a cirurgia não desse certo poderia ficar paraplégica. Durante a operação, o cirurgião tentou retirar todo o tumor, mas nessa tentativa acabou atingindo a minha perna esquerda causando uma lesão”.

    Ela estava na metade do Ensino Médio e, por causa do tratamento, teve bastante dificuldade para concluir os estudos.“Muitas vezes no final de semana precisei de professores particulares para me ajudar a conseguir terminar meus estudos”, afirma.

    Assim que terminou a escola, ela não foi aprovada no vestibular e passou três anos de sua vida só fazendo o tratamento do tumor. Entre 1992 e 2002, Andréa precisou retornar diversas vezes ao médico para ver se o tumor havia reaparecido. Nesses dez anos fez fisioterapia intensa.

    A última cirurgia ocorreu em 2002, para retirar todo o tumor, mas Andréa acabou contraindo no hospital uma meningite bacteriana que afetou os seus movimentos. “Antes eu andava com andador ou a muleta. Por conta da meningite, perdi mais movimentos. Então hoje em dia eu andando mais com o andador e o aparelho nas pernas, mas fiquei mais dependente da cadeira quando é para andar longas distâncias”, conta.

    Andréa Barbosa trabalhando no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco

    Atualmente, Andréa não consegue andar um grande percurso com o andador nem com os aparelhos na perna, uma vez que perdeu a força total do membro direito como consequência da meningite. “Quando eu vou para o trabalho, desço do carro com o andador, mas quando chego na minha sala tem uma cadeira de rodas para poder me movimentar melhor e sem depender dos colegas”.

    Andréa relata que sofreu discriminação quando estava procurando estágio para poder ser formar. “Quando eu passava pelas entrevistas para estágio, as empresas diziam que tinha gente que havia sido melhor do que eu nas entrevistas. Eu sabia que aquilo não era verdade. Eles queriam uma mão-de-obra de barata que podia produzir o máximo”.

    Ela só conseguiu um estágio porque o seu tio falou com primo da família que trabalhava no Hospital Português. “Quando eu terminei o estágio de um ano, o hospital queria me contratar como funcionária, mas conversando com minha família, achamos que seria melhor estudar para concurso porque o salário que me ofereceram era baixo e não havia perspectiva de crescimento dentro hospital”, afirma Andréa.

    Seis meses após terminar a faculdade, ela, que já vinha estudando para concurso público, passou na prova da Prefeitura do Recife. Assumiu o cargo e passou quatro anos trabalhando lá, mas continuou estudando para os concursos e foi aprovada como técnica judiciária no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco. Ela relata que nesses dois órgãos nos quais trabalhou nunca aconteceu de sofrer preconceito, pois eles tiveram de se adaptar às suas condições.

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  • Inclusão é para todos

    Inclusão é para todos

    Fundada há 70 anos, a Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) é uma instituição educacional criada a partir de princípios religiosos. A universidade busca ter um olhar diferenciado para questões sociais e essa postura garante que a instituição seja um espaço plural e humanista. Porém é importante ressaltar que na época de sua fundação as pessoas com deficiência eram ainda mais discriminadas, e muitas vezes excluídas, socialmente e isso também se refletia de certa forma na Unicap.

    Um exemplo comum deste problema são as construções antigas que não tinham e muitas ainda não têm acessibilidade para receber pessoas com deficiência. A universidade também apresenta alguns problemas estruturais que já deviam ter sido solucionados há bastante tempo.

    Mas com o tempo as pessoas com deficiência foram conquistando espaço socialmente. O Brasil sancionou leis que garantem vários direitos para essa parcela da população. Entre as mudanças mais significativas está a obrigatoriedade de empresas com mais de cem funcionários contratarem deficientes e também que as empresas e instituições do país precisam se adaptar estruturalmente para receber essas pessoas.

    Diante de todos esses avanços, a Universidade Católica como empresa precisou se adaptar. A chefe da divisão de pessoal da empresa, Valdice Dantas, fala sobre essas adaptações: “Trabalho na Unicap há 54 anos e acredito que a parte humana e religiosa da instituição é um diferencial na questão das pessoas com deficiência. Mesmo antes da lei já tínhamos funcionários com deficiência trabalhando na empresa, mas a lei trouxe formalidade ao processo contratual desses funcionários”.

    Valdice conta como é feito o processo de seleção dos funcionários e afirma que atualmente a empresa cumpre exatamente o que é exigido por lei.

    A chefe da divisão de pessoal, Valdice Dantas, em entrevista ao site Eficientes

    “O candidato com deficiência concorre normalmente a vaga de emprego, a não ser em casos específicos que eu queira contratar uma pessoa com deficiência para desempenhar determinada função. Atualmente a Universidade conta com aproximadamente 900 funcionários, como exigido por lei, 4% tem alguma deficiência ou seja 36 funcionários”.

    Na parte estrutural, a universidade também tem muito o que melhorar e isso acaba interferindo no processo de contratação do deficiente. “A empresa tem se esforçado para fazer as adaptações, mas ainda é preciso melhorar. Na hora de contratar uma pessoa com deficiência, observo se ele conseguiria trabalhar bem naquele setor. Caso contrário não posso contratar ou devo realocar aquele funcionário em outro setor da universidade”, afirma Valdice.

    Segundo o arquiteto da Unicap, Alex Lucena, a instituição tem consciência desses problemas estruturais e está trabalhando para resolvê-los. “Foi feito um diagnóstico dessas questões da Unicap e, a partir dele, em parceria com o núcleo de inclusão e acessibilidade da Universidade, traçamos um plano diretor para solucioná-las. O plano consiste em ações que estão sendo feitas desde 2017 e vão até 2026, visando tornar a Católica um local completamente acessível e, desta forma, receber melhor os alunos e funcionários que têm alguma deficiência”.

    Também segundo Alex, esse projeto não diz respeito somente à parte interna da Universidade. “Vamos adaptar toda parte de banheiros, rampas e sinalizações dentro da Unicap, além das áreas de circulação dentro e fora da Católica. O entorno da instituição também vai ser adaptado, pretendemos recuperar as ruas e calçadas próximas. Contudo, essa parte não depende só de  nós”. Confira no vídeo:

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  • Educação e inclusão, o exemplo do Colégio Apoio

    A escola é o primeiro passo para o mercado de trabalho. É nela que os alunos se desenvolvem no meio educacional, depois crescem e exercem uma profissão. Dentro desse segmento, o Colégio Apoio surgiu no Recife com uma proposta de ensino construtivo e não tradicional como era oferecido na maioria das escolas da cidade. A instituição foi uma das primeiras escolas particulares a olhar para as pessoas com deficiência de forma inclusiva, além de se preparar estruturalmente para receber esses alunos.

    A coordenadora e pedagoga do Colégio Apoio, Elisa Maria Araújo Moreira em entrevista ao site eficientes

    Elisa Maria Araújo Moreira é pedagoga, trabalha no Colégio Apoio há 21 anos e atualmente é coordenadora de práticas inclusivas da escola. Ela conta como tudo começou: “Em 2018 o Apoio completa 34 anos e na época de sua inauguração não era muito comum a sociedade olhar e aceitar as pessoas com deficiência, mas essa sempre foi uma preocupação nossa, mostrar que essas pessoas existem e que são capazes. Inicialmente a escola surgiu para atender especificamente esse público, mas com o crescimento nos tornamos um colégio “regular”, explica.

    A partir desse ponto, o Apoio precisou entender como trabalharia a integração entre alunos sem e com deficiência. “Acreditamos que a escola é para todos, então as pessoas com deficiência que estudam aqui são incluídas em sala de aula e podem desenvolver sua aprendizagem. Isso é positivo para eles que se sentem incluídos e veem outras pessoas com deficiência na escola e também é positivo para os alunos sem deficiência que desde crianças aprendem a conviver e respeitar as diferenças”.

    O colégio Apoio deu o pontapé inicial, porém para as pessoas com deficiência ingressarem numa escola continuou sendo complicado. A rede pública de ensino, apesar de muitas vezes não ter estrutura, não pode negar vaga a um aluno com deficiência, mas nas escolas particulares era bem diferente. Seja por falta de estrutura ou apenas por norma institucional, muitos colégios particulares não aceitavam alunos com deficiência. A advogada Walleska Maranhão é ativista dos direitos das pessoas com deficiência e conta uma situação que presenciou do preconceito dos colégios na hora de receber um aluno com deficiência. Confira o áudio:

    Transcrição completa do áudio de Walleska Maranhão

    Em 2015 as coisas começaram a mudar. A elaboração da LBI (Lei Brasileira de Inclusão), que entrou em vigor em 2 de janeiro de 2016, trouxe muitos avanços para as pessoas com deficiência. No campo educacional ficou definido que as escolas particulares são obrigadas a aceitar alunos com deficiência e também devem fazer as adaptações necessárias para receber esses estudantes. Essa conquista demonstra que a sociedade está começando a olhar com mais respeito para as pessoas com deficiência, uma vez que agora eles têm o direito de escolher onde querem estudar.

    Novamente levando em consideração que a escola é o primeiro passo para o mercado de trabalho e mostrando o exemplo do Colégio Apoio, eles também se preocupam com a forma como essa inclusão se dá. “Como empresa, nós acreditamos que a deficiência não impede a pessoa de desenvolver um bom trabalho e sempre tivemos funcionários com deficiência na equipe. Já ocorreram casos de alunos com deficiência que concluíram o ciclo educacional conosco e acabaram trabalhando aqui como “estagiários”. Atualmente, nós temos cinco pessoas com deficiência em nosso quadro de funcionários e todos eles desempenham muito bem as suas funções”, finaliza.

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  • “Quando aprendi libras passei a ser mais feliz”

    “Quando aprendi libras passei a ser mais feliz”

    Durante a vida, atividades com andar, falar, enxergar e escutar são consideradas ações simples para a maioria das pessoas, mas nem todos têm o privilégio de fazer isso normalmente. O ato de falar e ouvir facilita bastante a comunicação entre as pessoas e se comunicar é essencial na vida em sociedade. Então imagine como é o cotidiano de uma pessoa surda que, por consequência, tem muita dificuldade para falar.

    De acordo com dados do IBGE, aproximadamente 9,8 milhões de brasileiros tem alguma deficiência auditiva. Deste total, 2,6 milhões são surdos e 7,2 milhões tem dificuldade auditiva parcial. A surdez afeta tanta gente no país que foi base para o tema da redação do mais recente Exame Nacional do Ensino Médio realizado em 2017. Roberta Oliveira de Malta Alencar é mais uma brasileira que enfrenta diariamente as barreiras de não escutar.

    “Não nasci surda, mas em função de fortes febres que tive com dois anos de idade e também dos remédios que tomei para estabilizar a temperatura corporal me tornei deficiente auditiva. Nunca foi fácil para minha família, eles sempre tiveram muita pena de mim e ao mesmo tempo preocupação com o meu futuro, ninguém era preparado para lidar com uma filha surda” – explica Roberta.  

    Roberta Alencar em entrevista ao site Eficientes

    A princípio os médicos achavam que o quadro da paciente era reversível e indicaram que Roberta fizesse sessões de fonoaudiologia. Então ela foi para São Paulo atrás de especialistas que recomendaram o uso de um aparelho auditivo. “Passei alguns anos com o aparelho, mas não obtive resultados. Meus pais ficavam tentando me ensinar a falar e eu não entendia nada”, conta.

    Roberta também fala como era a relação com o restante da família: “Muitos me olhavam como uma pessoa doente e não faziam questão de tentar se comunicar comigo”. Com oito anos, ela foi matriculada na Suvag, uma escola gratuita para surdos do Recife, e começou a aprender a falar em libras. “Quando comecei a aprender libras passei a ser uma pessoa mais feliz, porque conseguia me comunicar melhor e, consequentemente, a viver melhor. Minha mãe e alguns primos mais próximos também fizeram o curso e se comunicam bem comigo”, explica.

    Antes disto, Roberta estudou em outros colégios, nos quais não conseguia aprender muita coisa. “Os professores não eram preparados, então só depois que fui para a escola de surdos realmente consegui me desenvolver melhor na educação e conclui o Ensino Fundamental. No Ensino Médio, fui para o Visão, um colégio inclusivo que possibilitava contato com pessoas com e sem deficiência. Lá conclui o Ensino Médio”.

    Roberta é formada em Desing de Moda e está cursando o oitavo período de Letras com Especialização em Libras. “Cheguei a trabalhar com moda, mas a chefe mudou minha função, passei a trabalhar em um setor da empresa que eu não tinha interesse e contrataram outra pessoa com a mesma qualificação em moda para fazer a função que eu exercia. Conseguir emprego é difícil para todos, porém o preconceito deixa tudo ainda mais complicado para pessoas com deficiência”, afirma.

    Roberta Alencar com a intérprete de libras Paulina Souto

    Após desistir de trabalhar com moda, ela decidiu se dedicar à educação e, apesar de ainda não ter concluído o curso de Letras, já trabalha na área. “Trabalho como professora de libras em uma escola do Governo de Pernambuco e sou feliz por isso. Hoje sinto que sou mais respeitada no ambiente de trabalho e também que existem mais intérpretes nos locais, mas ainda estamos longe do ideal. O preconceito é menor, mas ainda está presente na sociedade.

    Atualmente, Roberta tem 29 anos. Ela procura não fazer planos para o futuro, mas diz que quer ter um filho e ser ainda mais feliz. “Espero que a sociedade seja cada vez menos preconceituosa e que as pessoas com deficiência tenham mais oportunidades”, finaliza.

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  • “Não devemos nos abater com as dificuldades”

    “Não devemos nos abater com as dificuldades”

    Muitas pessoas que possuem alguma deficiência já nascem com essa condição, mas a deficiência também pode ser decorrente de um acidente ou doença que acomete alguém durante a vida. É o caso de Elias Heleno da Bezerra que hoje tem 50 anos. Elias nasceu no ano de 1968, numa família simples de Cavaleiro, bairro de Jaboatão dos Guararapes. Ele não tinha nenhuma deficiência e conta o que aconteceu: “O local onde eu morava estava com um surto de meningite viral. Tinha seis anos e comecei a sentir alguns sintomas da doença, mas os médicos demoraram a me tratar e, por causa dela, tive sequelas que me deixaram com limitações físicas”.

    A Meningite Viral é um dos tipos mais perigosos da doença. Ela afetou o membro superior esquerdo e o inferior direito de Elias que mesmo assim afirma que a infância não foi tão complicada por isso. “Desde que me entendo por gente, já tinha essa condição física. Antes eu era muito novo e não me lembro de tantas coisas, fazia tudo normal junto com as outras crianças”.

    Elias Bezerra trabalhando no laboratório de informática da Universidade Católica de Pernambuco

    Os problemas e dificuldades começaram a se agravar na adolescência “Quando fui ficando mais velho, as pessoas da rua passaram a ter um olhar mais preconceituoso, a minha própria família me deixava de lado por achar que a minha deficiência atrapalhava a vida deles”.   

    Na hora de procurar um emprego, Elias sentiu na pele as dificuldades. “A mentalidade do empresariado brasileiro é restritiva e não pensa na inclusão das pessoas com deficiência”. Por cauda disso, ele passou muito tempo como profissional autônomo: “Fiz alguns cursos no Senai e passei muitos anos da minha vida trabalhando de forma autônoma na área de manutenção, montagem e configuração de computadores”.

    Pensando em ter uma estabilidade financeira maior, Elias se cadastrou na Agência do Trabalho e começou a tentar se inserir dentro de alguma empresa. Primeiro ele trabalhou na Caixa Econômica do Cais do Apolo no Recife. Depois trabalhou três anos e meio no colégio Agnes, também na capital pernambucana. Ele afirma que as leis criadas em benefício dos deficientes ajudaram  na sua inserção dentro do mercado de trabalho: “A lei que impõe uma cota de funcionários deficientes nas empresas, junto com o meu cadastro na agência do trabalho, facilitou a minha inclusão nesse meio. Até hoje eu recebo varias ligações falando sobre vagas de emprego”.

    Elias trabalha há nove anos na Universidade Católica de Pernambuco. Lá teve a oportunidade de fazer graduação em Administração e Pós-Graduação em Gestão de Negócios. Ele afirma que a instituição já era um ótimo local para as pessoas com deficiência, mesmo antes da existência das leis voltadas para elas.  (Confira no vídeo) 

    Diante de tudo o que já viveu, Elias acredita que a sociedade ainda tem muito a melhorar. Ele afirma que as pessoas com deficiência não devem se abater pelas dificuldades. (Confira o vídeo) 

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  • “Me tornei uma pessoa melhor depois do acidente”

    “Me tornei uma pessoa melhor depois do acidente”

    Até 2014, o médico Rodrigo Carvalho tinha uma vida “normal”, mas um acidente o deixou paraplégico e mudou completamente sua forma de viver. Tudo aconteceu no dia 4 de outubro. Era apenas mais um sábado com amigos em Maria Farinha, praia do litoral pernambucano. Rodrigo estava numa festa realizada próxima ao píer da cidade, Rio Timbó. Durante o evento, aproximadamente às 20h, ele decidiu voltar para o barco. “Sempre tive casa em Maria Farinha e, por conhecer bem a região, achei que não seria perigoso pular do píer. Eu havia bebido, mas estava consciente dos meus atos. Resolvi não ligar para o marinheiro me buscar e pulei, porém o rio estava quase seco e não percebi”, conta.

    O nutrólogo Rodrigo Carvalho trabalhando em sua clínica

    Com a pancada, Rodrigo fraturou a 6ª e 7ª vértebras torácicas e acabou ficando paraplégico. Imediatamente ele foi operado no Recife, mas após uma semana, mudou para São Paulo para se reabilitar no Hospital Albert Einstein.

     “No primeiro momento, foi um choque muito grande, você pensa em várias coisas e se faz diversos questionamentos, mas com o apoio dos meus amigos e familiares fui conseguindo me reabilitar para viver bem e feliz”.

    Ainda no Einstein, surgiu a oportunidade de Rodrigo fazer parte de uma pesquisa no Exterior. Ele e a atleta Laís Souza, que também sofreu lesão medular, são os únicos brasileiros a fazerem parte do Miami Project, projeto que ainda está em fase inicial em humanos e consiste em injetar células de Schwann e ver se, com o tempo, elas são seguras para o corpo humano e podem possibilitar algum ganho para os pacientes. Rodrigo será acompanhado pelos americanos até 2020.

    “Depois disso, voltei para São Paulo onde morei por mais um ano e continuei com a reabilitação no Einstein e em outros centros como AACD e Acreditando. Também trabalhei muito a minha mente e toda a parte psicológica. Eu sabia que ia precisar voltar para o Recife, voltar a trabalhar e encarrar essa realidade”, explica.

    Então o médico começou a planejar como seria sua vida no Recife. “Antes eu trabalhava como chefe de emergência nos hospitais, ainda cheguei a dar plantão nessa função durante dois meses depois que voltei, mas percebi que, por causa da correria dentro das emergências, ia ser complicado para mim. Então resolvi optar por algo mais tranquilo e me tornei nutrólogo, me especializei na área, montei um consultório e atendo meus pacientes”.

    Rodrigo também afirma ser uma pessoa melhor depois do acidente, Confira no vídeo

    Além de tudo, garante que com as adaptações é possível permanecer fazendo tudo o que fazia antes: “Não me considero deficiente e, sim, eficiente. Sempre gostei de praticar esportes e continuo praticando. Antes andava de bicicleta, agora eu tenho uma handbike, andava de jet ski e continuo andando, dirijo, faço tudo normalmente e de forma independente”.

    Em relação ao preconceito enfrentado por pessoas com deficiência na sociedade, Rodrigo fala seu ponto de vista e deixa uma mensagem de incentivo. Confira no vídeo

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  • “Nós precisamos ter a chance de mostrar que somos eficientes e capazes”

    “Nós precisamos ter a chance de mostrar que somos eficientes e capazes”

    A descoberta de uma gravidez é um momento de muita alegria e não foi diferente para os pais de Pâmela Melo. Tudo corria bem durante a gestação, mas no sétimo mês os médicos deram o diagnóstico: Pâmela foi acometida por uma síndrome rara; a osteogênese imperfeita, uma doença que é popularmente conhecida como síndrome dos ossos de vidro.

    A gravidez seguiu até o fim, porém o fato de saber que a filha nasceria com uma deficiência grave, provocou várias incertezas na família. A osteogênese imperfeita é uma doença rara, de caráter genético e hereditário, que afeta aproximadamente uma em cada 20 mil pessoas. A principal característica é a grande fragilidade dos ossos que se quebram facilmente. Em decorrência disto, o paciente precisa ter muito cuidado para não se fraturar.

    Dia 6 de Maio de 1997. Pâmela Melo nasceu. Ela afirma que as dificuldades e preconceitos surgiram desde a infância. “Como não é uma condição comum, a minha própria família não me aceitava bem, muitas vezes me deixavam sem sair de casa por vergonha de andar comigo na rua”.

    Pâmela Melo circulando no jardim do bloco G da Universidade Católica de Pernambuco                                        

    Como se não bastasse o que enfrentava dentro de casa, estudar não foi uma tarefa fácil

    Transcrição completa do áudio de Pâmela Melo 

    Uma nova etapa estava para começar e novamente nada seria fácil. Sempre muito aplicada nos estudos, Pâmela foi aprovada no curso de Jornalismo, em 2016, na Universidade Católica de Pernambuco. “Tudo estava bem, mas quando comecei a procurar estágio, tive decepções. Muitas vezes eu passava nas seleções e as empresas tinham vagas disponíveis, mas quando chegava lá e viam que sou deficiente diziam que a vaga já havia sido preenchida”.

    Infelizmente, essa situação se repetiu com Pâmela que até o fechamento do nosso trabalho não conseguiu um estágio. Ela explica que se sente discriminada. “As pessoas têm um olhar preconceituoso para o deficiente e nós precisamos ter a chance de mostrar que somos eficientes e capazes de desempenhar um trabalho como qualquer outra pessoa”.

    Atualmente, Pâmela Melo tem 20 anos e está cursando o quarto período de jornalismo. Durante a vida ela já sofreu 22 fraturas pelo corpo, mas não se abateu. Hoje ela é um grande exemplo de superação que reflete as dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência dentro de um mundo que ainda não sabe respeitar todas as diferenças. Mas uma coisa é certa: Pâmela não vai desistir.

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