A segunda edição do projeto Circo Acessível oferece aulas gratuitas de tecido e visa incluir PCDs no universo circense. As inscrições seguem até 10 de janeiro
A inclusão e a acessibilidade estão no centro da segunda edição do projeto Circo Acessível, que busca ampliar as oportunidades para pessoas surdas no universo das artes circenses. A iniciativa gratuita acontecerá a partir do dia 18 de janeiro de 2025 e oferecerá aulas de tecido acrobático, lira e trapézio fixo para 10 participantes surdos, na sede do Casulo Artes Circenses, localizada em Casa Amarela, Zona Norte do Recife.
O Circo Acessível nasceu em 2024 como um módulo da Formação Livre para Instrutores de Circo (FLIC), uma iniciativa apoiada pelo Sistema de Incentivo à Cultura (SIC) do Recife. O curso híbrido de 42 horas capacitou 20 praticantes circenses e plantou as sementes para a inclusão de pessoas surdas no circo.
Malu Vieira, diretora do Casulo Artes Circenses, após duas edições, chegou a conclusões que norteiam seu trabalho com pessoas surdas desde então. “Ter gente surda no circo é bem menos complicado do que se pode imaginar, mas há caminhos a serem traçados. Na prática, dar aulas para pessoas ouvintes e não ouvintes gera demandas diferentes para os professores, o que não deve ser tido como obstáculo, mas como necessidade de adaptação, para que sejam encontradas formas diferentes de instruções”, reflete.
Para ela, a falta de pessoas surdas nas artes aéreas está relacionada à ausência de políticas públicas efetivas de acessibilidade. “O objetivo do Circo Acessível é justamente contribuir para a mudança desse cenário”, conclui.
As inscrições podem ser realizadas até 10 de janeiro, por meio do formulário disponível no perfil do Instagram @casuloartescircenses. O resultado dos selecionados será divulgado no dia 13 de janeiro. Não há pré-requisitos técnicos para participar. A única exigência é que os interessados sejam maiores de 18 anos e residam em Recife ou na Região Metropolitana.
As aulas acontecerão nos dias 18 e 25 de janeiro e 1º de fevereiro, das 14h às 16h, totalizando uma carga horária de 6 horas. As sessões serão conduzidas por Malu Vieira, aerialista com 13 anos de experiência e diretora do Casulo Artes Circenses. Para garantir a acessibilidade, o projeto contará com o apoio dos intérpretes de LibrasLeo Ramos e Monique Marry e da consultora surda Letícia Lima.
A educação inclusiva não é apenas um conceito pedagógico. É a garantia do direito de todos os cidadãos terem acesso à educação. Ela gera não só a igualdade de oportunidades, mas abrange diversidades étnicas, sociais, culturais, intelectuais, físicas, sensoriais e de gênero, e promove a mudança de hábito e a transformação cultural, conscientizando a população sobre práticas de inserção.
No Brasil, o cenário da educação inclusiva reflete desafios que perpassam, sobretudo, pela complexidade do sistema educacional, os estigmas sofridos pelas pessoas com deficiência (PCD) e a falta de políticas públicas eficazes que leve para sociedade o conhecimento necessário para aplicar a inclusão social das PCD, além de investimentos financeiros nesta pauta. De acordo com dados do módulo Pessoas com Deficiência, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2022, cerca de 18,6 milhões de pessoas de 2 anos ou mais de idade do país têm algum tipo de deficiência.
Os números, no entanto, são ainda mais preocupantes quando se observa a taxa de analfabetismo: no terceiro trimestre de 2022, ela chegou a 19,5% entre pessoas com deficiência, enquanto, para pessoas sem deficiência, essa taxa foi de apenas 4,1%. A pesquisa também destaca que apenas 25,6% das pessoas com deficiência concluíram o Ensino Médio, em comparação com 57,3% das pessoas sem deficiência. No Ensino Superior, a situação é ainda mais crítica: apenas 7% das pessoas com deficiência conseguem finalizar o processo educacional.
Esses números deixam claro que, ao longo da jornada educacional, ocorre uma queda expressiva no número de pessoas com deficiência que conseguem concluir sua formação. Para entender melhor o impacto dessa realidade, a equipe da Eficientes conduziu entrevistas entre julho e agosto com pessoas com deficiência das periferias do Recife e com gestores públicos. O resultado desse trabalho foi uma reportagem especial e uma websérie de seis episódios, disponíveis em nossas redes sociais.
“Eu tenho alguns amigos, mas a maioria da classe não se aproxima muito de mim, mas os professores estão sempre dando um jeito de me ajudar”. A fala que inicia esta reportagem foi dita por Laís Rodrigues da Silva, uma jovem de cabelos longos, lisos e pretos.
Aos quatro anos, ela contraiu uma doença rara que atingiu a sua retina e foi diminuindo os níveis de visão. Hoje, aos 15 anos, ela tem cegueira total.
Motivada por sua mãe, Laís cresceu entendendo que o preconceito e a falta de acessibilidade não tornariam sua vida fácil. Mas sempre teve certeza de que nada lhe é impossível. “Ela sempre disse que não ia ser fácil, que as pessoas poderiam me olhar diferente, me tratar diferente e achar que eu não sou capaz, mas ela sempre disse que eu posso fazer tudo que eu quero. Eu aprendi a andar de bicicleta sem rodinha sozinha, eu já participei da colônia de férias do horto, minha mãe me ensinou a pular corda, fiz natação, aula de piano, ballet”, contou.
Ela cursa o primeiro ano do ensino médio na Escola de Referência em Ensino Fundamental e Médio Joaquim Xavier de Brito, no bairro da Iputinga, no Recife, local onde aconteceu a entrevista. Ao entrar na escola, no lado direito, há uma rampa, e corrimãos onde estão presas várias bicicletas. A escola possui várias pilastras, e logo em seguida, nos deparamos com uma escada que leva à sala de recursos com quatro computadores, um bebedouro, um armário e uma estante com vários jogos acessíveis. Apesar de ser uma unidade de referência, a escola não dispõe de alguns recursos importantes para garantir a acessibilidade arquitetônica, como o piso tátil, um elemento tão importante para dar maior autonomia e segurança às pessoas cegas, já que marca o caminho que ela precisa para entrar em determinados locais.
Laís não usa bengala e sempre conta com o apoio de alguém para se locomover dentro das dependências da escola. Para a entrevista, ela foi trazida pelo seu pai até a sala de Recurso, um ambiente que dispõe de materiais educacionais acessíveis e os profissionais que aplicam as metodologias de acessibilidade. No fim da conversa, ela foi acompanhada por um amigo até outro espaço da unidade.
Laís precisa de apoio para circular pelos ambientes da escola.
Perguntada sobre a principal dificuldade que enfrenta no colégio, ela ressalta a solidão. “Eu acho que talvez pela falta de inclusão, os meninos parecem, sei lá, ter medo de se aproximarem de mim ou por não saber como me ajudar. E termina muitas vezes me ignorando e isso é doloroso. É bem ruim a dor da solidão e várias vezes eu falei na escola: ‘gente, eu sou normal’”, contou.
Na escola, a estudante tem o suporte de uma professora braillista, que recebe todas as atividades realizadas pelos professores de Laís e a encaminha em braile. “Isso é bem legal, porque eu não preciso de alguém a todo instante perto de mim. Minha mãe é muito ocupada e não dá para ficar todo tempo pedindo ajuda dela, então a tarefa em braile é importante porque a qualquer hora eu posso fazer, responder e entregar aos professores”, pontuou.
Focada em finalizar o ensino médio e a estudar algum curso universitário que trabalhe a biologia, Laís conta que ainda não pensou muito sobre sua entrada no mercado de trabalho. “Eu acho que pode ter alguma dificuldade nesse acesso, mas como tudo na vida vou vencer. Acredito nisso, eu penso isso. Eu vou fazer um curso na faculdade e depois vou dar um outro passo. Um de cada vez, mas sempre vencendo os obstáculos”, disse.
UNIVERSIDADE É AINDA MAIS HOSTIL
“Quando o professor me deu a prova com a fonte normal, eu o chamei e expliquei que não conseguia identificar as palavras. E ele disse: ‘se vire. Você que sabe se vai fazer a prova ou não. Você está deficiente visual, não era nem para estar aqui’. Ele virou e voltou a observar os outros alunos, e eu fiquei com a prova na mão sentada na cadeira, raciocinando sobre o que tinha sido me dito”.
O relato que inicia esta segunda parte da reportagem é de Elaine Silva, uma jovem negra de 26 anos que perdeu a visão aos 18 anos após uma hidrocefalia. Elaine é o nome fictício escolhido por ela que, por receio, preferiu não se identificar e nem apontar a instituição de ensino superior pernambucana onde foi palco de uma das experiências mais tristes que vivenciou.
Na época estudante de Educação Física em uma universidade pública, Elaine foi socorrida para a emergência hospitalar com fortes dores de cabeça exatamente no dia do retorno às aulas. No hospital, ela passou por uma cirurgia na cabeça para a drenagem do líquido, mas ficou em coma por pouco mais de dois meses. Ao acordar, não conseguia enxergar. “Quando eu saí de casa, eu enxergava. Quando acordei do coma, que vi a escuridão, fiquei em dúvida se eu estava acordada. Mas aí ouvi a voz da minha mãe”, contou.
Amante da leitura e dedicada aos estudos, após a alta hospitalar Elaine não trancou a matrícula na faculdade. Um ano depois, decidiu que voltaria ao curso e foi até a coordenação da universidade com sua mãe entender se o retorno seria possível. “Minha mãe alertou à faculdade que eu precisaria de alguém para me auxiliar nas avaliações ou que eu precisaria de provas com fontes maiores e um tempo maior para fazer. Na época, eu conseguia enxergar um pouco. Voltei ao curso e entrei em quatro disciplinas”, disse.
No entanto, em uma das avaliações, não foi cumprido o combinado feito com mãe e filha. Elaine recebeu uma prova com fonte pequena e não houve a opção de assistência. “Fui vendo que os alunos estavam saindo e vi que não tinha como fazer a prova. Com as linhas muito unidas umas nas outras, eu não conseguia entender. Eu simplesmente entreguei a prova, sem nem escrever meu nome, e sai da sala bem abalada”, afirmou.
O episódio fez Elaine desistir do curso. Mas o desejo pela formação superior seguiu latente, fazendo com que, anos depois, ela se matriculasse em outra instituição de ensino. Hoje, ela cursa o oitavo período do curso de Nutrição em uma faculdade particular, longe da instituição onde foi vítima do capacitismo, mas conta que as dificuldades com a falta de acessibilidade continuam. ”Falta de empatia e falta de acessibilidade vão existir em todo canto. Essa faculdade que estou hoje também disse que ia garantir todos os artifícios, todo o suporte que eu precisasse. Mas também não é assim”, apontou. “É difícil a sociedade tratar a acessibilidade. É difícil a gente tratar a empatia. A gente tem que trabalhar esses temas desde pequeno, para quando a gente crescer, aplicar e incluir às pessoas com deficiência”, destacou.
Apenas 7% das pessoas com deficiência concluem o Ensino Superior Crédito: Carlos Pontes
Questionada quais seriam as acessibilidades que deveriam ser aplicadas na instituição de ensino em que estuda, ela inicia a resposta ressaltando a inacessibilidade que começa desde a saída de casa. “O caminho de casa até a faculdade é um grande desafio. Calçadas com buracos, falta de sinalização. Vou sozinha, então, às vezes, tem algumas crianças no caminho que me param e dizem “moça, deixa eu ir com você; você vai bater no poste”. E eu digo que não tem problema, que se eu bater, vou aprender e decorar que naquele lugar tem um poste ali, que eu não posso passar mais ali. Minha perna está toda manchada e isso tudo é pancada que eu levo na rua. Na minha rua mesmo, vocês viram as calçadas, né?!”, perguntou à equipe de reportagem.
Elaine mora no bairro do Bongi no Recife, não muito longe do campus da insituição onde estuda, local de casas simples e ruas e calçadas desniveladas e estreitas, o que a impede de se locomover com segurança e autonomia. Os dados do IBGE informam que o bairro tem taxa de alfabetização de 92,3% e renda mensal por domicílio de R$ 1.860,98.
Na faculdade, ela destacou que o mais difícil é a falta de livros acessíveis. “Seria muito importante encontrar alguns livros específicos da minha área no formato digital”, apontou. Na parte física da instituição, ela apontou a falta de piso tátil em todas as dependências da unidade de ensino e indicou a falta de manutenção nos recursos de acessibilidade que foram aplicados. “As escadas têm fitas antiderrapante, mas estão desgastadas e, apesar dos computadores terem os softwares de leitor de tela instalados, não temos o suporte de uma pessoa para nos ajudar”, afirmou. “Mas tudo isso é construção e esse tipo de construção demora muito. E não sou eu, Elaine, quem vai mudar isso. Quando todo mundo parar dizer assim ‘a gente tem que mudar isso’, é que vai mudar realmente. Mas eu acho que ainda vai demorar séculos e séculos, é muito lento para ter uma solução”, completou Elaine
COMO ATUA O GOVERNO DE PERNAMBUCO
Em 2015 foi instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência para assegurar e promover, em condições de igualdade, os direitos e as liberdades fundamentais das pessoas com deficiência, visando à sua inclusão social e à cidadania. Dentre as diretrizes estabelecidas pela lei de inclusão, o artigo 28 determina que é incumbência do poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar o sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida. No entanto, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), apesar da inclusão escolar ter avançado nos últimos anos, ainda há desafios significativos na implementação de práticas efetivas que atendam a todos os alunos equitativamente.
Em Pernambuco, há aproximadamentee 14 mil estudantes com deficiência matriculados nas 1.601 escolas estaduais. Desse número, 549 unidades dispõem de salas equipadas com recursos acessíveis, como impressoras em braille, itens pedagógicos, mobiliários acessíveis e outros, e apenas 192 estão totalmente adequadas à acessibilidade.
De acordo com a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco, a meta é que, até o final de 2026, todas as escolas do estado sejam acessíveis. “Desde 2004, com a própria organização da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e a Lei de Acessibilidade, a gente vem brigando para que cada vez mais os prédios públicos se tornem acessíveis. Nós temos estruturas nas nossas escolas de prédios antigos, mas hoje a gente tem Investe Escola e geralmente a gente foca e dá prioridade para esses pontos de acessibilidade arquitetônica”, apontou a gerente estadual de Educação Inclusiva, Sunnye Gomes.
Sunnye é gerente de Educação Inclusiva de Pernambuco Crédito: Larissa Pontes/Eficientes
O Programa Investe Escola Pernambuco (Piepe), citado pela gestora, promove a manutenção e a melhoria das infraestruturas física e pedagógica das unidades escolares. Em matéria publicada no site da secretaria em 24 de janeiro de 2024, há o indicativo de que o Governo do Estado liberou R$ 101 milhões para serviços de infraestrutura das unidades para 2024.
Sobre o orçamento estadual total previsto para a educação inclusiva, a SEE informou que do segundo semestre de 2024 ao segundo semestre de 2025 serão investidos R$ 13.060.873,48. Em relação à formação de professores, a gerente de Educação Inclusiva do Estado, destacou que a meta do ano é capacitar 1.754 professores da Educação Especial. Ela destaca que há o convite para que os professores da educação regular e outros profissionais das unidades escolares também se capacitem. “A gente inicia o nosso movimento de formações continuada desde o início do ano. Nas nossas formações, a prioridade é para os professores do Atendimento Educacional Especializado, mas convidamos sim professores da sala comum, porque a gente acha importante esse diálogo. A gente quer que esse professor chegue mais perto da gente, porque, na verdade, o aluno está mais tempo na sala de aula regular. Então, há o convite para esses professores também, assim como a gente mobiliza a equipe de gestão, os educadores de apoio e outros agentes, outros protagonistas da escola”, afirmou.
Para a gerente de Educação Inclusiva do Estado, Sunnye Gomes, Pernambuco se destaca por oferecer o Atendimento Educacional Especializado (AEE). “A estratégia mais forte, que é uma grande marca do nosso Estado, é a garantia do Atendimento Educacional Especializado. Sem a garantia desse atendimento é praticamente impossível efetivar uma inclusão. Então essa é a nossa maior estratégia e com isso, obviamente, você tem alunos surdos inclusos, com intérpretes de libras em sala de aula. Se temos alunos cegos, há professores braillistas. Então, o aluno matriculado na unidade escolar ele tem a garantia da oferta do Atendimento Educacional Especializado”, pontuou.
Mas é importante ressaltar, que a Lei da Inclusão, ainda em seu artigo 28, determina que é dever do poder público construir e oferecer um projeto pedagógico que institucionalize o Atendimento Educacional Especializado para atender os estudantes com deficiência. “A educação é um processo contínuo de aprendizagem. São 30 anos de educação especial, eu vim de internatos e hoje falo de inclusão de estudantes cegos. Não tenho como dizer que a gente não avançou. A gente avançou muito, mas ainda precisamos melhorar mais. Acredito muito no que a gente está construindo e eu sei o que a gente está crescendo”, atestou a gestora.
FALTAM AÇÕES AFIRMATIVAS
Em relação ao ensino superior, o Governo do Estado atua através da Universidade de Pernambuco (UPE). O pró-reitor de Graduação da UPE, Ernani Martins, afirma que a primeira iniciativa inclusiva acontece nos processos seletivos onde o candidato pode indicar sua demanda, apresentar o laudo e ter garantido uma equipe técnica para dar condições necessárias. “Por exemplo, um candidato com deficiência intelectual que às vezes necessita usar um computador específico. Ele faz o requerimento, traz o equipamento e esse computador é analisado por uma equipe técnica que vai atestar que aquilo que ele pede é uma condição necessária e que não será uma vantagem em relação aos outros candidatos”, explicou.
No entanto, no ingresso à instituição, o pró-reitor ressalta que ainda não há uma ação afirmativa específica para estudantes com deficiência que queiram ingressar nos cursos de graduação, pois a lei de Cotas obriga apenas as universidades federais e concursos públicos. “A gente vem trabalhando paulatinamente, discutindo com o governo estadual as condições para que a gente faça isso, como melhorar toda a infraestrutura física”, pontuou, reforçando que o mesmo não se aplica nos cursos de pós-graduação. “Já tem uma ação afirmativa, uma cota específica para pessoas com deficiência que queiram fazer mestrado e doutorado”, disse. De acordo com dados de 2023, a UPE tem cinco estudantes com deficiência auditiva, seis com deficiência física e 66 estudantes com deficiência visual, sendo baixa visão, monocular e outras. Ao todo, a universidade tem 14 mil alunos.
Ernani destacou ainda que a universidade não tem profissionais específicos para atuar na aplicação das acessibilidades necessárias no dia a dia dos estudantes com deficiência, mas indica que há formações sobre acessibilidade e inclusão para os docentes compreenderem como atuar com os alunos com deficiência, tendo 25% do quadro docente com alguma formação específica sobre os temas este ano. “A gente precisa ter uma lei que crie cargos na universidade de intérprete de libras, tradutor, braillista e outras não têm, então não podemos fazer concurso. Mas a gente pretende até 2027 ter todas essas necessidades para as políticas públicas avançarem na instituição”, afirmou.
Martins, pró-reitor da UPE, acredita ser possível adequar infraestrutura Crédito: Larissa Pontes/Eficientes
Apesar disso, o gestor frisa haver estudantes com deficiência na UPE e que, quando o aluno necessita de tecnologias assistivas, são ofertadas pela instituição os recursos e equipamentos necessários “Quando eles entram, a gente faz um estudo para entender sua condição e ofertar uma formação equitativa, respeitando as características de cada curso”, afirmou.
Diferente do ingresso para a formação universitária, a UPE aplica a política de cotas afirmativas no processo de seleção profissional, garantindo o percentual determinado por lei para a contratação de pessoas com deficiência. “Quando elas passam no concurso e são convocadas, depois da junta médica, tem uma equipe que acolhe na pró-reitoria de Desenvolvimento Pessoas para entender as necessidades dessas pessoas e alocar no setor que vai atuar e dar toda a infraestrutura do que é possível dentro da universidade para que essa pessoa trabalhe da melhor forma possível”, disse.
Para sanar as faltas de acessibilidade na instituição, a Universidade de Pernambuco instituiu em 2021 o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão. “Ele funciona dando essa assistência em várias direções, em apoio psicopedagógico, em equipamentos, para que a gente tenha, de fato, um tratamento equitativo para todos os alunos que estão nas graduações da universidade, em todas as macrorregiões do estado onde a UPE está distribuída”, detalhou indicando que a perspectiva é que até 2027 o núcleo seja ampliado. “O objetivo maior é a gente não só dar o acesso à universidade, mas instituir a permanência dessas pessoas, entendendo a universidade como um espaço plural para todas as pessoas.”
Embora a ampliação do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão seja um passo na direção certa, é necessário questionar por que os processos de implementação de acessibilidade avançam tão lentamente. O núcleo existe desde 2021, mas só em 2024 foi possível iniciar a capacitação dos professores. E isso não se limita a UPE; é importante que outras instituições exerçam políticas inclusivas, como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Rural de Pernambuco (UFRPE), que não forneceram à equipe de reportagem os questionamentos sobre suas políticas de inclusão. Será que há, de fato, um comprometimento das instituições de ensino e do poder público com a criação de um ambiente acadêmico inclusivo e acessível?
Uma coisa é certa: a implementação de ações que promovam a inserção e permanência de estudantes com deficiência não deveria ser uma exceção, mas sim uma regra. No entanto, ainda há um longo caminho para que esse compromisso se transforme em práticas consistentes e eficazes, capazes de gerar um impacto real na sociedade, fortalecendo a diversidade e garantindo a equidade no ensino médio e superior, ao invés de cumprir apenas metas institucionais.
E NO MERCARDO DE TRABALHO?
Roberta Soares, professora de libras, sempre foi incentivada pela família a estudar. Para isso, até o ensino médio, frequentou uma unidade de ensino particular e bilíngue, onde existiam alunos surdos e professores que se comunicavam na língua de sinais. Após esse período, ela foi matriculada na Escola Técnica Estadual Professor Agamenon Magalhães (Etepam) e passou a vivenciar os problemas que a falta de inclusão na sociedade gera às pessoas com deficiência, sobretudo aos surdos.
Ela conta que no começo a escola não disponibilizou intérprete de libras e nenhum professor sabia a língua de sinais. “Os surdos ficavam lutando para conseguir esse profissional, que chegou depois. Mas o ensino médio foi difícil, foi tudo diferente do que eu tinha vivido. A maioria dos alunos eram ouvintes, a metodologia de ensino não era a mesma. Mas eu me esforcei, estudei, fiz reforço, principalmente para matemática e química, e consegui passar por essa fase”, pontuou.
Com o ensino escolar concluído, Roberta foi em busca de um trabalho numa fábrica. E nessa etapa, ela enfrentou novos desafios. “Foram nove anos nesse emprego e, para as pessoas com deficiência é bem difícil, tem muitas barreiras, muito preconceito e tinha muito impedimento comunicacional. Minha ideia sempre foi evoluir, sair de lá e me formar professora efetiva”, contou. Foi então que, conciliando com o emprego fabril, ingressou na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para cursar o primeiro curso de Letras Libras.
Para Roberta, entrar na UFPE não foi algo difícil. A prova para o vestibular era toda em libras e o curso tinha apenas alunos surdos. “Me lembrou a escola bilíngue e eu não tive dificuldade. A gente teve disciplinas de português, para praticar a leitura, mas o professor sabia libras, os trabalhos eram feitos nessa linguagem”, ressaltou. Sobre a equipe administrativa da universidade, ela destacou que, em 2008, ano em que iniciou o curso, não existia uma estrutura inclusiva completa. “A coordenação não sabia libras, mas os professores que sabiam apoiavam e tinha os intérpretes também, além de grupos de ouvintes que sabiam libras e grupos de surdos. Com o tempo, eles foram evoluindo e hoje, em 2024, melhorou muito”, reforça. “Lembro que, na minha época, tinha uma mulher surda no curso de Matemática e foi muito difícil para ela”, completou.
Durante os estudos na graduação, Roberta mirava para o futuro: sua meta seria estudar e ser aprovada em um concurso público. “Hoje, sou professora da rede estadual”, contou. Como docente de libras, ela ensina pessoas ouvintes e surdas, mas já teve experiência com pessoas cegas. “Foi um desafio para mim, por que fiquei pensando ‘qual material irei utilizar?’. Porque existiam várias possibilidades, acabou sendo difícil no início. Mas foi importante para mim, porque aprendi a trabalhar, mudar a estrutura de trabalho e pensar nas adaptações”, afirmou. A partir das vivências no trabalho, Roberta destacou que vão se criando ferramentas para ultrapassar os desafios que o mercado de trabalho apresenta. Mas será que recorrer ao concurso público será a única perspectiva de futuro para as pessoas com deficiência no mercado de trabalho?
*Esta reportagem foi produzida pelo Portal Eficientes, em parceria com a Marco Zero Conteúdo, e financiada pelo Instituto Fala!, uma organização sem fins lucrativos fundada por quatro mídias independentes referências no jornalismo de causas: Alma Preta, Marco Zero Conteúdo, 1Papo Reto e Ponte Jornalismo.
A reportagem, financiada pelo Instituto Fala, fala sobre a educação inclusiva em Pernambuco, os desafios das pessoas com deficiência nesse processo e os investimentos estaduais para o tema
Texto: Larissa Pontes / Revisão: Equipe Eficientes
A Eficientes participou da quinta edição do FALA! – Festival de Comunicação, Culturas e Jornalismo de Causas, que aconteceu em agosto, na Universidade da Amazônia (Unama), em Belém/PA, apresentando os detalhes da produção da reportagem especial sobre educação inclusiva em Pernambuco, conteúdo que será publicado em breve no portal e nas redes sociais da Eficientes.
A reportagem foi financiada pelo Instituto FALA a partir de um edital de fomento para conteúdos jornalísticos que abordassem o tema “Jornalismo, comunicação e cultura nos territórios: novos formatos como meio de transformação social”. Ao longo de três meses, a equipe de reportagem da Eficientes entrevistou pessoas com deficiência e gestores estaduais para compreender a realidade por trás do processo de aprendizado inclusivo em Pernambuco. A matéria “Para além da sala de aula: como o estado de Pernambuco tem atuado para garantir educação pública de qualidade e inclusiva para as pessoas com deficiência” conta ainda com uma websérie com relatos dos personagens que participaram da reportagem.
“Fomos convidadas a participar do festival FALA, onde apresentamos a reportagem, que inclui textos e seis episódios de uma websérie sobre como a educação impacta o mercado de trabalho. Também discutimos os desafios enfrentados na produção dessa reportagem”, pontua a diretora executiva e autora da reportagem, Larissa Pontes.
Festival – De 22 a 24 de agosto, o festival levantou o debate sobre o futuro do jornalismo e seu impacto na sociedade brasileira, abordando a importância da comunicação e da cultura na defesa dos territórios e, em última instância, na defesa da vida. O evento explorou a interseção entre comunicação, arte e cultura sob uma perspectiva popular, utilizando diversas linguagens artísticas.
O Festival FALA, organizado pelo Instituto FALA, tem como objetivo criar um ambiente de reflexão sobre o jornalismo independente e a comunicação popular como ferramentas em prol de uma democracia plena. O evento debateu a importância da cultura, da identidade e das variadas formas de expressão artística no fazer jornalístico, estimulando o desenvolvimento de uma rede de mídias alternativas que favoreça discussões amplas e contínuas sobre os principais temas do país e do continente, além de colaborar na proteção dos profissionais da imprensa independente.
Durante todo o evento, estiveram presentes diversos jornalistas, bem como apresentações artísticas que abordaram temas como comunicação, ancestralidade e tradição. Ocorreu também uma sessão de exibição audiovisual organizada pela Negritar Produções & Pulitzer Center, além de oficinas técnicas, performances artísticas, mesas de debate e rodas de conversa para analisar temas como: a tradição oral e a importância do rádio na comunicação dos povos da floresta, como acessar recursos financeiros, a imprensa negra – ética e técnicas de reportagem, o jornalismo de causas e o diálogo com tecnologias ancestrais.
A Inova.aê contribuiu para o desenvolvimento acessível da 19ª edição do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que aconteceu em julho, no campus Álvaro Alvim da ESPM-SP, na Vila Mariana, em São Paulo. O trabalho foi idealizado para que o evento pudesse incluir e receber bem as pessoas com deficiência. Além disso, a Inova.aê também ministrou oficinas e palestras sobre comunicação e jornalismo acessível.
Durante os meses de março a abril, o Instituto realizou treinamentos com a equipe da Abraji, fornecendo informações de como aplicar as diretrizes de acessibilidade comunicacional em eventos e quais seriam as intervenções físicas necessárias para garantir a locomoção com autonomia do público com deficiência. Para garantir a fluidez do site para as tecnologias assistivas, os consultores da Inova.aê verificaram o site e apontaram os itens que precisavam ser melhorados.
Para oferecer capacitação e fortalecer a discussão em torno de um jornalismo inclusivo e acessível, os especialistas da Inova.aê ministraram duas mesas e uma oficina no Domingo de Dados. Na sexta-feira (12) a mesa “Quem cabe no seu todos? Tecnologia na garantia do direito à informação para pessoas com deficiência”, foi mediada por Mariana Clarissa, diretora de projetos da Inova.aê. A atividade discutiu as possibilidades de união entre a tecnologia e a comunicação para a construção de projetos inovadores e que contribuam para que as pessoas com deficiência tenham acesso à informação jornalística com qualidade.
Mariana pontuou como foi elaborada a construção da Lume Acessibilidade, um aplicativo agregador de notícias jornalísticas construído a partir das diretrizes de acessibilidade digital. Acessível à população com deficiência visual no Brasil, a ferramenta nasceu a partir do desdobramento do projeto Acessibilidade Jornalística: um problema que ninguém vê, vencedora do Innovation Challenge do GNI em 2021. Estiverem presente também Gabriel Sales, que é estudante de estatística da UFF e criador do projeto IA Libras, e Carla Beraldo, pesquisadora, especialista em acessibilidade e idealizadora do Protocolo Reverta de Acessibilidade.
O segundo momento aconteceu no sábado (13), com a mesa “Cultura interna: como os gestores podem promover diversidade e inclusão no jornalismo”, que trouxe um panorama atual da diversidade no jornalismo brasileiro. Foram apresentados os resultados da pesquisa “Retrato do Jornalismo Brasileiro”, expostos por Angela Werddemberg que coordenou o projeto na Enóis. A atividade também destacou a diversidade racial, de gênero e territorial através da fala de Mário Rogério, diretor de programa de indicadores do CEERT.
Além disso, foi discutido os desafios enfrentados pelas iniciativas para promover práticas inclusivas e sugestões para criar ambientes mais representativos, fala feita por Michel Platini, consultor em Acessibilidade da Inova.aê. O debate foi mediado por Gabi Coelho, jornalista independente e diretora da Abraji.
Domingo de Dados – No Domingo de Dados, programação que tem ênfase no jornalismo de dados, a Inova.aê apresentou a oficina “Jornalismo de dados acessível: como planejar gráficos interativos e informativos para pessoas com deficiência ou baixa visão” ministrada por Larissa Pontes, presidente Inova.aê, e Mariana Clarissa, diretora de projetos. A atividade expôs os recursos necessários para a criação de infografias acessíveis.
Oi! Eu sou Mariana Clarissa, uma mulher negra de estatura mediana. Meus cabelos são cacheados, em um tamanho médio e pretos. Este é o terceiro episódio da série “Pessoas com Deficiência e Empreendedorismo: um caminho para o mercado de trabalho”, um conteúdo produzido pela Lume Acessibilidade em parceria com o portal Eficientes, empresas do Instituto de Inovação em Comunicação Acessível, a Inova.aê.
(Locução de Larissa)
E sou Larissa Pontes, uma mulher branca, de cabelos cacheados, tamanho médio, cor castanho escuro, estatura mediana. Aproveitando: esse é um podcast totalmente acessível que discute acessibilidade comunicacional e temas que fazem parte do universo da pessoa com deficiência.
(Locução Mariana)
Chegamos ao último episódio desta série e aqui vamos contar a história de empreendedores com deficiência e ressaltar como eles estão transformando as suas realidades e o contexto local de onde vivem. Você também vai compreender o atual cenário do mercado de trabalho brasileiro para as pessoas com deficiência.
(Música)
(Ana carolina)
A minha trajetória com deficiência visual começou quando eu tinha apenas 8 anos de idade. Naquela época, eu cheguei em casa da escola com os olhos vermelhos, então a minha mãe me levou ao oftalmologista. Após uma série de exames, eu descobri que tinha uma uveíte, que é uma inflamação nos olhos. Essa condição ocasionou outras doenças, como catarata, glaucoma e, por exemplo, que foi o que causou a perda total da visão aos 26 anos de idade.
(Locução Larissa)
Essa é Carolina Lemos, uma mulher branca de cabelos longos e pretos, que sempre teve a veia empreendedora pulsando. Já vendeu galeto com sua mãe e foi revendedora de perfumes e maquiagens. Mas os negócios não deram certo. Ao perder a visão, ela decidiu que não desistiria do empreendedorismo e investiu no ramo da beleza.
(Ana Carolina)
A beleza além da visão é um projeto que eu idealizei. Após a perda da visão, depois que me tornei consultora de beleza, tive acesso facilitado aos produtos. Comecei a treinar técnicas e formas para que eu pudesse me maquiar sozinha, porque quando eu era baixa visão eu não me sentia segura para isso, eu pedia que as minhas amigas me maquiassem e também porque eu não queria que as pessoas que me conheceram enxergando pensassem assim, Carol depois que ficou cega não se arruma mais, não se ajeita e eu não queria depender de ninguém para isso. Então comecei a treinar quando eu me maquiava sozinha que saía, as pessoas elogiavam e perguntavam quem tinha feito a minha maquiagem, quando eu falava que tinha sido eu, ninguém acreditava. Então eu vi que estava dando certo e surgiu o desejo de transformar algo ruim que aconteceu comigo, que foi a perda total da minha visão em algo bom, em algo belo, né? O “Beleza Além da Visão”. Então comecei a ensinar outras mulheres a se maquiarem sozinha também. Hoje eu já consegui alcançar mais de 50 mulheres, né? Ministrando cursos e oficinas pelo projeto. E o, beleza lenda visão, ele não só ajuda na autoestima, na autonomia, na independência, no empoderamento. É também na questão da pessoa se sentir capaz, saber que é capaz, ter confiança em si mesmo e não desistir dos seus sonhos.
Além disso, resolvi expandir as minhas habilidades, fiz um curso de massoterapia, isso me permitiu trabalhar em uma outra área e oferecer um serviço adicional para os meus clientes. A massoterapia não só me ajudou a diversificar minha fonte de renda. Ela também me proporcionou ajudar outras pessoas a se sentirem bem.
(Locução Mariana)
Mas, tanto na massoterapia como na consultoria de beleza, sentiu dificuldades para empreender. Ela remete isso à falta de acessibilidade nas ferramentas de gestão e comunicação, que nem sempre são acessíveis para quem tem deficiência visual, e ao preconceito da sociedade que subestima a sua capacidade.
(Ana Carolina)
Para superar algumas barreiras que eu enfrentei na minha jornada de empreendedora, eu utilizei de algumas estratégias. Primeiro, recursos de acessibilidade como software de leitores de tela. Depois eu busquei parcerias com outras empreendedoras para aumentar a minha rede de contato. E também sempre participando de cursos e workshops para poder estar ali expandindo as minhas.
(Locução Larissa)
Todos os personagens dessa série, quando perguntamos se utilizam auxílios governamentais ou de instituições como SEBRAE, CIEE e outras, as respostas sempre eram negativas: não, ou nunca utilizei nenhum recurso. A pesquisadora da NOZ inteligência, Juliana Vani, uma mulher branca com cabelos lisos pretos, realizou o estudo sobre a empregabilidade das pessoas com deficiência que aponta alguns resultados que podem nos levar a algumas reflexões importantes.
(Juliana Vanin)
Empreender é uma oportunidade, mas também um grande desafio. Para o empreendedorismo ser um caminho viável, é necessário qualificação. Hoje em dia, em quais marcas e produtos o consumidor com deficiência se identifica? Como uma empresa pode pensar nesse público se ela ainda tem dificuldade de incluir esses profissionais, de contratar esses profissionais? Então eu vejo esse mercado como oportunidade para empreendedores com deficiência. O capacitismo, que faz com que os profissionais com deficiência não recebam as mesmas oportunidades que os profissionais sem deficiência.
(Locução Mariana)
Mas essas barreiras não são só na hora da contratação. Elas acontecem em todos os âmbitos da vida das pessoas com deficiência. Para eles, é algo sempre presente. Mas como será no futuro?
(Juliana Vanin)
O futuro do mercado de trabalho para pessoas com deficiência, acho que ainda não está claro como será no curto prazo. Lógico que é um desejo de mudanças, mudanças significativas e duradouras, mas infelizmente ainda essas mudanças progridem lentamente. Um dos primeiros achados na pesquisa de pessoas com deficiência e empregabilidade foi a falta de informação. A gente tem algumas pesquisas sobre a percepção corporativa, percepção dos empregadores, mas muito pouca informação das pessoas com deficiência, da percepção do profissional com deficiência. Acho que a gente precisa acelerar a mudança e medir essas mudanças para entender. Um ponto positivo que eu vejo, e que eu acho que precisa ser explorado e trabalhado, é o aumento de debate sobre o assunto, sobre o mercado de trabalho para os profissionais com deficiência, e, especialmente, a pauta anticapacitista. Ela precisa estar presente e ela faz com que a mudança realmente aconteça. Como pesquisadora, eu espero realizar a pesquisa de pessoas com deficiência e empregabilidade e medir essa velocidade, entender como ela está acontecendo e trazer, em outro momento, uma resposta mais clara e fundamentada em dados para a gente entender como tem sido essa evolução.
(Locução Larissa)
Sem definição de futuro e sem a existência de políticas públicas e ações que promovam de fato a inclusão de qualidade das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, Marcelo Zig, um homem negro de cabelo medianos traçados e que usa cadeira de rodas, tem atuado para transformar essa realidade de forma mais humanizada com o quilombo pcd, um coletivo que une a luta antirracista à anticapacitista, e a Inckua, organização que conecta profissionais com deficiência às vagas de trabalho.
(Marcelo Zig)
Não como eu enxergo, mas como eu trabalho para que seja e como eu desejaria e desejo que se torne um dia de fato. Que as relações dentro do ambiente de trabalho sejam humanizadas e humanizadoras a partir da perspectiva da pessoa com deficiência. Porque quando a gente fala dos recursos utilizados, das adequações a serem promovidas para a participação da pessoa com deficiência nesse espaço, em diálogo com as pessoas sem deficiência elas sempre trazem a referência que elas gostariam também de ter o tratamento que a pessoa com deficiência deveria ter já no mercado de trabalho, na relação do ambiente de trabalho. Então, por que não é? Para toda pessoa reconhecer as especificidades de cada corpo, as demandas, as necessidades e compor a partir do interesse dessa pessoa a melhor oportunidade tanto para ela quanto para as empresas. Mas isso ainda não é, mas a gente segue na luta.
(Locução Mariana)
Este é o terceiro e último episódio da terceira série do Lumecast. Pessoas com deficiência e empreendedorismo: um caminho para o mercado de trabalho é uma produção da Lume Acessibilidade em parceria com o portal Eficientes, empresas do Instituto de Inovação em Comunicação Acessível, a Inova.aê. Eu sou Mariana Clarissa, idealizadora deste podcast e co-criada deste roteiro e a voz por trás da locução deste episódio.
(Locução Larissa)
E eu sou Larissa Pontes, produtora desta série, co-criadora do roteiro e a voz que também narra este episódio. Você pode acompanhar outras produções no site www.eficientespcd.com.br e no nosso Instagram, @eficientes_ e @inova.aê. A gente se encontra na próxima temporada do Lumecast!
Olá! Eu sou Mariana Clarissa, uma mulher negra de estatura mediana. Meus cabelos são cacheados, em um tamanho médio e pretos. Este é o Lumecast, um podcast produzido pela Lume Acessibilidade em parceria com o portal Eficientes, empresas do Instituto de Inovação em Comunicação Acessível, a Inova.aê.
(Locução Larissa)
E sou Larissa Pontes, uma mulher branca, de cabelos cacheados, tamanho médio, cor castanho escuro, estatura mediana. Aproveitando: esse é um podcast totalmente acessível que discute acessibilidade comunicacional e temas que fazem parte do universo da pessoa com deficiência.
(Locução Mariana)
Este é o segundo episódio da série “Pessoas com Deficiência e Empreendedorismo: um caminho para o mercado de trabalho do Lumecast. Aqui vamos contar a história de empreendedores com deficiência e ressaltar como eles estão transformando as suas realidades e o contexto local de onde vivem. Aqui, você também vai compreender o atual cenário do mercado de trabalho brasileiro para as pessoas com deficiência.
(Música)
(Locução Larissa)
Já pensou em viver da sua arte? Não é fácil trocar o CLT pelo empreendedorismo, afinal, isso requer coragem. Daniel Oladai, homem branco de cabelos pretos ondulados, decidiu dar esse passo aos 36 anos.
(Locução Mariana)
Daniel nasceu em Brasília. É filho de um pernambucano com uma paulistana. Tanto na escola como na faculdade, sempre sentiu muitas dificuldades para se integrar. Por uma pressão familiar, estudou direito e passou quinze anos advogando. Mas ele não amava o que fazia e resolveu mudar de carreira.
(Locução Larissa)
Ele começou a fazer arteterapia para superar alguns traumas, rompeu laços familiares que considerava problemáticos e começou a traçar planos para o seu futuro.
(Daniel Oladai)
Eu comecei a acompanhar, dá uma olhada por alto em algumas pessoas que trabalham nesse ramo e que conseguem trabalhar sozinha. Digamos assim, né? Fizeram um trabalho de turismo contra a própria ali. Então eu observei uns artistas que eu gosto, tenho como referência que já o senhor ele e a esposa foi estudar isso, eu estudo de caso deles, aliás, como é que eles fizeram, eles fazem assim, assim, assim, assim, assim é interessante, né? Uma referência de dígamos lá porque esse empreendedor que não que não tá 30 anos só vendendo os bugiganga na praia, né? Tá conseguindo se manter que tá conseguindo se estruturar, né?
(Locução Mariana)
Com ajuda da sua mãe, Daniel decidiu sair do trabalho e passou a se dedicar exclusivamente a sua arte: criar mandalas.
(Daniel Oladai)
Precisava de alguém que me ajudasse a pagar as contas, minha mãe me segurou esse período, então, eu tô nesses últimos anos, eu vou fazer 39 anos. Então nesses últimos três anos, eu tô só desenvolvendo isso, tempo integral nesse trabalho de arteterapia, de arte, eh, com ajuda da minha terapeuta. Feliz também a gente para eu conseguir fazer algo precisaria neh? Vi que eu tinha ideias e tal, mas eu sentia que precisava de ajuda.
Então minha terapeuta me ajudou, um amigo meu que é do SEBRAE me ajudou por um tempo também, né? Na camaradagem.. eh.. Imediatamente de alguém para fazer um… coitado… eu alugava ele 15 horas numa reunião e saia exausto sem ganhar um real. Mas assim, eu precisava de alguém para fazer um né? Aí saiu ele, ficou só a minha terapeuta, usei e abusei do conhecimento dela ali pra conseguir fazer isso. E aí eu também fiquei com essa exposição por entender porque eu já vinha visitando alguns tempo ou algumas feiras de arte independente do Brasil. E aí observando que tá tem alguma coisa, como é que essa galera consegue se bancar com arte? Mas tem um outro, que tá preeminente aqui em brasília, que como tal isso me deu uma referência
(Locução Larissa)
A organização mundial da saúde estima que haja setenta milhões de pessoas com autismo no mundo, sendo cerca de dois milhões só no Brasil. Aos trinta e seis anos, Daniel foi diagnosticado com o espectro do autismo. No início, sentiu muita dificuldade para compreender, porque não tinha muitas informações.
(Daniel Oladai)
Logo após o diagnóstico, não tinha noção, eu tive um pouquinho antes do diagnóstico do “boom” midiático, né? Então tipo primeiro algo muito raro, então eu tive de primeira referência, digamos é termos de acolhimento foi ele é youtubers gringos, né? Falava de diagnosticar tardio com a cabeça zoada, então foi encontrando ali, micro grupos ali, infelizmente eles foram ajudando porque foi tendo e passei a fazer parte de um grupo de artistas aqui que se reúne uma vez por mês.
(Locução Mariana)
A arteterapia ajudou Daniel no autoconhecimento e a compreender o que é ser uma pessoa com autismo. Através da arte, ele se permite sonhar e a planejar seu futuro no empreendedorismo.
(Daniel Oladai)
Eu comecei a fazer a conta da terapia, né? Então ela é de fato algo íntimo que eu tô levando ali, sei lá, imagina em algum momento tá num para poder né? Ter uma referência bem né? Sonhar alto é justamente tá no museu é abriu lá nos Estados Unidos que é um museu de artes psicodélica e que ele tem várias raças lá de artes psicodélicos do mundo inteiro faz eventos lá e a meta é participar de um evento desse eventualmente ter um quase um padrão gigante meu lá.
Eu tô aqui há uns cinco meses, né? Que eu tô vendendo os meus produtos, eh… mas eu fiz antes disso preços de testes, eu peguei alguns vários colegas amigos e amigas e coloquei eles para o principal trabalho que eu faço é justamente arteterapia nessa segunda linha para pessoa pintar. Então eh…. como eu queria saber se a coisa funcionaria para outras pessoas, né? Que eu tinha essa dúvida, não funcionou só para mim tá? Mas terapeuta veio aqui em casa, pensando em um brogodó, colocou TV aqui um vídeo lá de uma pessoa que trabalha com a arte a fazer todo um troço, se você fazer um negócio dessa pessoa, vai acontecer alguma coisa… e aconteceu! Eu tive tive tive tive lógico, não foi com todo mundo.. Mas há pessoas que são mais ou menos propícias, mas isto aconteceu! Tem uma essência do que eu esperava que era a pessoa conseguir olhar para ser ali, né?
(Locução Larissa)
O futuro sempre foi algo pensado por Daniele Louvores, mulher branca de cabelos longos e pretos, de 45 anos. Ela usa cadeira de rodas. Formada em pedagogia e pós-graduada em pedagogia empresarial, Daniele sempre quis ser protagonista da sua história, mas sabia que encontraria desafios para construir o seu futuro.
(Daniele Louvores)
Tive muita dificuldade na escola, por que não tinha adaptação e eu ficava pensando muito né? No meu futuro. Se um dia ia conseguir ter um emprego, até porque é desde a escola eu tive muita dificuldade, né? Devido à acessibilidade. A uma das maiores dificuldades, que eu acho que uma pessoa com deficiência enfrenta, é a falta de credibilidade, a falta de oportunidade, é as pessoas olham para mim muitas vezes olha pra cadeira e esquece que quem está ali sentado é uma pessoa, que é protagonista de uma história, uma pessoa que tem vontades, que tem anseios né? De ter como todo mundo né?
(Locução Mariana)
Mesmo com base acadêmica, Daniele se deparou com os mesmos desafios encontrados por Pamela, Claudia e Daniel. Diante da falta de acessibilidade no ambiente de trabalho, ela visualizou uma solução para contribuir com a inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho.
(Locução Larissa)
Foi nesse momento que surgiu a consultoria voar, uma empresa que, de acordo com ela, fortalece as asas das pessoas.
(Daniele Louvores)
Dentro das empresas também é a gente, por mais que estude, por mais que eu busque a evolução, né? Acadêmica, a gente vê que a gente não consegue subir de cargo, né? Pagam um salário muito baixo e, pensando nisso, eu comecei fazer na minha consultoria de equidade, de diversidade, de inclusão que se chama voar. Iniciei o meu próprio negócio, primeiro online, né? Quando eu comecei a visitar as empresas e dar consultoria, palestra sobre os sete pilares da acessibilidade que são arquitetônicas, comunicacional e entre outras. Eu comecei a trabalhar dentro das empresas preparando as empresas para receber as pessoas com deficiência
(Locução Mariana)
Nos últimos anos, o trabalho de consultoria em acessibilidade tem sido uma realidade para muitas pessoas com deficiência. de acordo com o estudo realizado pela noz inteligência, das pessoas entrevistadas pela pesquisa, 2,3% afirmaram ser consultores. Michel Platini é publicitário e consultor em acessibilidade. Para ele, o trabalho de consultoria é, além de uma alternativa de trabalho, uma forma de combater a realidade excludente que estão inseridas as pessoas com deficiência.
(Michell Platini)
Eu posso trazer a realidade de projetos com pessoas com deficiência atuando com consultores e sem pessoas com deficiência como consultores. O resultado com a presença das pessoas com deficiência é muito melhor, muito superior, pois elas conseguem trazer os feedbacks do que está faltando, do que está realmente funcionando e de maneira técnica e profissional.
Projetos que não tem a consultoria eles vão apresentar falha e vão apresentar defeitos, vão trazer experiências constrangedoras para as pessoas com deficiência, e vai ser um projeto que acaba que não vai ser funcional para a pessoa com deficiência e posso também afirmar que é a importância de convocar a perspectiva da pessoa com deficiência faz o projeto tem uma visibilidade também para a comunidade de pessoas com deficiência, porque as pessoas vão começar a consumir o conteúdo, porque sabem que passou por uma pela mão de pessoas com deficiência também. Porque existe um lema nada sobre nós se nós, né? Das pessoas com deficiência. Então o projeto que tenha participação de pessoas com deficiência ele tem o selo, né? Da inclusão.
Não só por ser uma pessoa com deficiência, mas por ser uma pessoa com deficiência com qualificação profissional. Percebo, também, que há uma grande crescente de pessoas se formando na área de acessibilidade, para atuarem como consultores, mas eh ainda eh, muito pouco a contratação de pessoas com deficiência. Então é importante que a gente comece a contratar mais pessoas, fazer e isso um ciclo de geração de renda
(Locução Larissa)
Como consultora, Daniele fala sobre como atua para sensibilizar as empresas sobre a importância da inclusão, da diversidade e da aplicação de práticas acessíveis.
(Daniele Louvores)
Várias formas de influenciar através das minhas experiências, né? Das minhas próprias dores, das dores das pessoas com deficiência é influenciar as empresas, trabalhar a sensibilização. E aí eu comecei a trabalhar muito essa questão e foi difícil porque a gente não recebe um apoio, né? De incentivo do governo, de outras instituições… é tudo muito sozinho, é tudo muito, é uma jornada solitária. A gente tem preenchido as lacunas na área da empregabilidade com esses programas, inclusive que as empresas pagam a gente para prestar essa consultoria e conseguir começar a romper com as empresas nessa questão da cota, as multas, que eles pagam também porque muitas vezes é eles ficam como se fosse algoz das pessoas com deficiência, mas, na verdade, é porque falta é preparo para essas adaptações.
(Locução Mariana)
Este é o segundo e último episódio da terceira série do Lumecast. Pessoas com deficiência e empreendedorismo: um caminho para o mercado de trabalho é uma produção da Lume Acessibilidade em parceria com o portal Eficientes, empresas do Instituto de Inovação em Comunicação Acessível, a Inova.aê. Eu sou Mariana Clarissa, idealizadora deste podcast e co-criada deste roteiro e a voz por trás da locução deste episódio.
(Locução Larissa)
E eu sou Larissa Pontes, produtora desta série, co-criadora do roteiro e a voz que também narra este episódio. Você pode acompanhar outras produções no site www.eficientespcd.com.br e no nosso Instagram, @eficientes_ e @inova.aê. A gente se encontra na próxima temporada do Lumecast!
Você sabia que existem 45 milhões de brasileiros com deficiência? Apenas 1% dessas pessoas estão inseridas no mercado de trabalho. Para contornar as inúmeras barreiras e preconceitos enfrentados ao procurar um emprego, algumas dessas pessoas têm buscado o empreendedorismo como alternativa.
(Locução Larissa)
O empreendedorismo, embora desafiador e repleto de obstáculos, representa para muitos o único caminho para entrar no mercado de trabalho e até a oportunidade para transformar seus objetivos em realidade.
(Música inicial)
(Locução Mariana)
Olá! Eu sou Mariana Clarissa, uma mulher negra de estatura mediana. Meus cabelos são cacheados, em um tamanho médio e pretos. Este é o lume cast, um podcast produzido pela Lume Acessibilidade em parceria com o portal eficientes, empresas do Instituto de Inovação em Comunicação Acessível, a Inova.aê.
(Locução Larissa)
E sou Larissa Pontes, uma mulher branca, de cabelos cacheados, tamanho médio, cor castanho escuro, estatura mediana. Aproveitando: esse é um podcast totalmente acessível que discute acessibilidade comunicacional e temas que fazem parte do universo da pessoa com deficiência.
(Locução Mariana)
Esta é a terceira série do Lumecast e aqui vamos contar a história de empreendedores com deficiência e ressaltar como eles estão transformando as suas realidades e o contexto local de onde vivem. Além disso, vamos também trazer um panorama sobre o cenário atual do mercado de trabalho para as pessoas com deficiência.
(Música inicial)
(Locução Mariana)
Mesmo o trabalho sendo considerado um elemento social importante para o desenvolvimento do indivíduo e da própria sociedade, há um grupo de pessoas que ainda enfrentam inúmeros desafios para se inserir no mercado de trabalho.
(Locução Larissa)
Falta de capacidade, habilidade, competência e outros estão entre a lista de estigmas que fazem com que as empresas não identifiquem as pessoas com deficiência como profissionais qualificados para compor o seu quadro de funcionários.
Segundo dados do estudo “Pessoas com Deficiência e Empregabilidade”, da Noz Inteligência, trinta e quatro por cento dos entrevistados estavam desempregados. Ainda de acordo com a pesquisa da noz, o quantitativo que consegue se inserir no ambiente de trabalho, enfrentam a falta de oportunidade para ascender profissional. Os dados apontam que sessenta por cento das pessoas com deficiência nunca foram promovidas de cargo, mesmo trabalhando na mesma empresa por mais de dez anos.
(Locução Mariana)
Essa foi a realidade de Claudia Silva, mulher branca de cabelos lisos castanho-claro. Aos nove meses de nascida, ela teve poliomielite, o que a causou uma deficiência física. Durante sua vida, ela fez uso de muletas. Entrar no mercado de trabalho não foi fácil. Mas ela conseguiu se inserir. E por vinte e oito anos trabalhou em uma empresa de energia elétrica. No entanto, nunca teve sua função alterada.
(Claudia)
Trabalhei por 10 anos como prestadora de serviço, né? Como contratada aí depois de 10 anos, eh, eles efetivaram o quadro de atendimento ao público e aí não podia ter atendimento terceirizado, tinha que ser próprio da empresa. Aí eles efetivaram todo mundo e eu fiquei 28 anos na empresa, mas assim esse projeto que eu entrei como cota né? De cotista de deficiente eh, na verdade, as empresas mascaram né? Porque eles fazem só o social porque a inclusão não tem! Eu trabalhei 28 anos na empresa e deficiente dentro da empresa, não tem, não tem como subir de cargo. Tá mesmo que você seja capacitado com faculdade, pós-graduação, etc. não é dado é essa oportunidade
(Locução Larissa)
Devido uma fratura na coluna, há três anos ela usa cadeira de rodas. O fato agravou a sua rotina de trabalho. Sem conseguir se aposentar por não receber um parecer conclusivo do INSS, ela se viu sem poder trabalhar e sem recursos financeiros suficientes para se manter.
(Claudia)
Eu me vi sem poder trabalhar numa cadeira de rodas e sem nenhum recurso financeiro, né? Então eu tive que me reinventar. E aí eu comecei a pensar o que eu poderia estar fazendo, que enquanto eu não recebesse nenhum provento do INSS, aposentadoria, nem auxílio por um por doença, nem aposentadoria, o que eu poderia estar fazendo para poder sobreviver? Então eu comecei a fazer eh caldos, salgadinho, vender bebida, o que daria para eu fazer numa cadeira de roda, né? E assim comecei o meu negócio
(Locução Mariana)
Com a ideia do negócio montada, Claudia analisou os desafios financeiros que precisaria enfrentar, criou uma estratégia e empreendeu. Abriu o boteco na vizinha, um estabelecimento de vendas de bebidas e comidas no bairro de Madureira, no Rio de Janeiro.
(Claudia)
O primeiro desafio, né? Como uma empreendedora seria capital de giro, né? Então o que eu fiz? Comecei a vender uma coisa com valores menores, né? Que é onde eu tinha um capital para poder investir e ter um retorno. E a partir daí eu fui aumentando o meu capital para poder investir numa coisa melhor e que me desse um retorno maior, né? Eu comecei vendendo eh, bebidas, refrigerante, cerveja aproveitando o período, né? De calor. Aí a partir do dinheiro das bebidas, eu comecei a poder comprar material para começar com os caldos, né? Porque aí o caldo e a comida teriam um retorno mais rápido.
(Locução Larissa)
O negócio progrediu e, apesar de ter conseguido se aposentar meses depois, manteve as vendas que até hoje complementam a sua renda mensal. Cheia de planos para o futuro, Claudia vislumbra o crescimento do seu empreendimento.
(Claudia)
Eu comecei com as vendas, né? De bebidas, refrigerante, eh, vinho, eh, bolinho de bacalhau, caldos e torresmo. Então, eu verifiquei que o meu carro chefe era o torresmo. Então o meu assim, o meu futuro como empreendedora, eh, seria fazer uma franquia de torresmo. Ou seja, eu vou fornecer para outras pessoas revenderem.
(Música)
(Locução Mariana)
Segundo o censo superior de 2018, apenas 0,52% das pessoas com deficiência conseguem finalizar um curso superior. Elas também enfrentam dificuldades para se inserir no mercado formal de trabalho.
(Locução Larissa)
Pâmela Melo, mulher parda de cabelos cacheados com luzes loiras, que usa cadeira de rodas e é uma pessoa com nanismo, vivenciou esse dado. Aos 27 anos, ela é formada em jornalismo e, atualmente, é estudante de direito. Apesar de suas graduações, enfrentou e ainda se depara com muitos desafios no mercado de trabalho por ser uma pessoa com deficiência.
(Pâmela Melo)
Então é muito difícil a pessoa com deficiência ingressar no mercado de trabalho. Primeiro para ela conseguir se profissionalizar, porque para uma pessoa com deficiência chegar ao nível superior, chegar numa universidade. Ela vai enfrentar diversos tipos de barreiras, como físicas e atitudinais. Quando ela chega as oportunidades são bem pequenas, mesmo tendo nível superior eu conseguia vagas de trabalho para call center, para atendente, para secretária e não que essa profissão de secretária, de call center, seja algo desmerecido, é uma profissão digna e boa. Porém, não é aquilo que eu estudei para ser. Eu sou jornalista e nunca consegui um emprego, uma oportunidade na minha área.
(Locução Mariana)
Diante desse contexto, embarcar na construção do seu próprio negócio foi a oportunidade que Pamela encontrou para destacar suas habilidades e garantir recursos financeiros. Inicialmente, vendendo bolos decorados. Depois, encontrou alternativas de renda como maquiadora e como artesã.
(Pâmela Melo)
Eu sempre gostei de maquiagem e decidi fazer o curso no Senac, depois como em 2020 depois da pandemia não conseguir emprego. Comecei a fazer laços infantis e tiara de luxo de cristal bordada porque também na época não tinha eventos para maquiar pessoas, e depois comecei a fazer bolos para vender
(Locução Larissa)
Mas, o empreendedorismo não é um mar de rosas, principalmente para as pessoas com deficiência. Além da falta de acessibilidade física das cidades e das empresas, elas precisam combater as atitudes capacitistas que estão enraizadas em nossa sociedade e que sempre os colocam à prova.
(Pâmela Melo)
Mesmo sendo empreendedora pela dificuldade que se tem no mercado de trabalho, a gente ainda sofre capacitismo no empreendedorismo. Por quê? Porque muitas vezes, as pessoas ou olham com olhar de surpresa para mim. Porque “nossa você que faz bolo?”, “é você que faz a maquiagem?” ou teve muitas pessoas que quando me indicam outra pessoa me indica e diz que eu sou uma pessoa com deficiência, elas querem vir na minha residência para ver, sou eu mesmo que estou fazendo bolo, sou eu que faço a maquiagem mesmo. É como se quisesse colocar à prova, aquilo que eu tô fazendo.
(Locução Mariana)
Para aqueles que irão embarcar nesse universo complexo que é o empreendedorismo, Claudia dá um conselho.
(Claudia)
Bom o conselho, que eu daria para as pessoas com deficiência, que estão considerando abrir o seu próprio negócio. Seria primeiro verificar na sua área, né? O que não tem e que daria para ela fazer como um diferencial, né? E chamar atenção dos clientes, né? O ramo de comida, ramo de bebida, ver o que tem e o que ela pode fazer com o diferencial com qualidade, né? E que possa estimular os clientes a quererem conhecer o produto dela.
(Música)
(Locução Larissa)
Este é o primeiro episódio da terceira série do Lumecast. No próximo episódio a gente apresenta para você as histórias de Daniel e Daniele.
(Locução Mariana)
Pessoas com deficiência e empreendedorismo: um caminho para o mercado de trabalho é uma produção da Lume acessibilidade em parceria com o portal eficientes, empresas do Instituto de Inovação em Comunicação Acessível, a Inova.aê. Eu sou Mariana Clarissa, idealizadora deste podcast e co-criada deste roteiro e a voz por trás da locução deste episódio.
(Locução Larissa)
E eu sou Larissa Pontes, produtora desta série, co-criadora do roteiro e a voz que também narra este episódio. A gente se encontra no próximo episódio!
Você sabia que existem 45 milhões de brasileiros com deficiência e apenas 1% dessas pessoas estão inseridas no mercado de trabalho? Para driblar as inúmeras barreiras e preconceitos enfrentados ao procurar um emprego, muitos têm buscado o empreendedorismo como alternativa. Embora ainda enfrentem desafios significativos e preconceitos nesse universo, esses empreendedores estão encontrando maneiras inovadoras de transformar suas realidades e as comunidades ao seu redor.
O ‘Pessoas com deficiência e o empreendedorismo: um caminho para o mercado de trabalho” é uma realização do Portal Eficientes e da Lume Acessibilidade, empresas da Inova.aê, um instituto de comunicação e tecnologia assistiva. No podcast, contaremos as histórias inspiradoras de empreendedores com deficiência e destacar como eles estão impactando positivamente suas localidades. Além disso, traremos um panorama sobre o cenário atual do mercado de trabalho para pessoas com deficiência, explorando as dificuldades e as oportunidades existentes.
Sérgio Miguel Buarque é cofundador e coordenador executivo da Marco Zero Conteúdo. Formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, trabalhou no Diario de Pernambuco entre 1998 e 2014. Começou a carreira como repórter da editoria de Esportes onde, em 2002, passou a ser editor assistente. Ocupou ainda os cargos de editor-executivo (2007 a 2014) e de editor de Política (2004 a 2007). Em 2011, concluiu o curso Master em Jornalismo Digital pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais. Venceu o Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo (2005/2020/2021), o Prêmio Caixa de Jornalismo Social (2006), do BNB (2021) e foi finalista do Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo (2004/2005), do Prêmio Embratel de Jornalismo (2007), do Vladimir Herzog (2020) e do Gabo (2021).
Mestra em Gestão, Inovação e Consumo pela Universidade Federal de Pernambuco – PPGIC/UFPE (2019-2021). Graduada em administração pela UFPE (2016). Durante a graduação participei durante dois anos do grupo de estudo e pesquisa em operações e sustentabilidade (GEPOS) e, atualmente, gerente de inovação do Armazém da Criatividade.