Neste São João, Pernambuco dá passos importantes em direção a uma festa mais inclusiva, mas ainda sob a projeção de desafios que ainda precisam ser enfrentados para que todos possam celebrar com igualdade de condições. Entre as ações mais significativas, destacam-se o reforço na acessibilidade física e comunicacional nos polos juninos, tanto na capital pernambucana quanto no interior, e a criação de espaços de escuta e acolhimento para populações vulneráveis.
Recife: Sítio Trindade com Central de Direitos Humanos e áreas acessíveis
Na capital, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Juventude (SDHJ), está realizando a iniciativa São João de Direitos. No polo do Sítio Trindade, funcionará diariamente a Central de Direitos Humanos e Acessibilidade, próxima à entrada do evento. O local contará com equipe multidisciplinar — psicólogos, advogados, assistentes sociais, intérpretes de Libras e audiodescritores — preparada para acolher e orientar pessoas com deficiência e vítimas de discriminação (racismo, LGBTfobia, capacitismo, etarismo).
Importante: não haverá transporte acessível da Prefeitura para o Sítio Trindade. Pessoas com deficiência devem se dirigir diretamente à Central, onde serão recebidas e encaminhadas para as áreas acessíveis do polo.
As duas áreas acessíveis no Sítio são:
Em frente ao palco principal — 20 vagas por noite;
No Pavilhão das Quadrilhas — 50 vagas
Ambas funcionam por ordem de chegada, sem necessidade de inscrição prévia.
Interior: PE Conduz leva usuários a polos com estrutura acessível
No interior, o Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Prevenção à Violência (SJDH) e da Superintendência Estadual de Apoio à Pessoa com Deficiência (SEAD), mantém o programa PE Conduz, com transporte gratuito em vans adaptadas. O serviço é destinado a pessoas com deficiência física, especialmente quem usa cadeira de rodas, para os seguintes polos:
Caruaru (Pátio do Forró e Alto do Moura)
Bezerros (Serra Negra)
Vitória de Santo Antão
Santa Cruz do Capibaribe
Riacho das Almas
Museu do Estado, no Recife
Shopping Tacaruna (nos dias 16, 20 e 27 de junho, durante o Taca Mais Música, das 18h às 21h)
Importante: O PE Conduz não levará para o Sítio Trindade, no Recife.
Os interessados em utilizar o transporte devem ligar para o 0800 281 0312 e solicitar participação, sujeito à disponibilidade de vagas. O atendimento também pode ser feito por e-mail (sead@sjdh.pe.gov.br) ou, para surdos, via WhatsApp com atendimento em Libras: (81) 98275-9345, em dias úteis, das 8h às 17h.
Pontos de atenção
A acessibilidade comunicacional nos polos do interior não é garantida diretamente pela SEAD; ela depende da infraestrutura dos municípios organizadores.
Chegue cedo para ocupar as áreas acessíveis nos polos sem necessidade de inscrição.
Em caso de violação de direitos, procure a Central de Direitos Humanos no Sítio Trindade ou use os canais digitais das campanhas “Recife Sem Racismo” e “Recife Sem Preconceito e Discriminação”.
“Temos feito um esforço importante para garantir o acesso ao São João com dignidade e segurança, mas sabemos que a inclusão verdadeira exige compromisso coletivo e permanente”, afirmou Marcos Gervasio, superintendente estadual de Apoio à Pessoa com Deficiência.
Evento inédito da Prefeitura de São Paulo, busca dar visibilidade à produção literária de pessoas com deficiência e estimular uma cena literária mais plural e acessível. Inscrições seguem até 18 de julho.
A literatura ganha mais espaço para diversidade em 2025. A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED), anunciou a abertura das inscrições para a 1ª Feira Literária da Pessoa com Deficiência, que acontecerá de forma presencial entre os dias 19 e 21 de setembro de 2025, com programação voltada à valorização de autorias e narrativas produzidas por pessoas com deficiência.
As inscrições estão abertas até o dia 18 de julho, por meio do formulário disponível em bit.ly/Primeira_FLPCD. Podem participar autores(as), editoras, coletivos, livrarias e profissionais que desejam propor atividades como oficinas, rodas de conversa, contações de histórias, lançamentos de livros e outras ações culturais.
A iniciativa é uma realização conjunta entre a SMPED e a Secretaria Municipal de Cultura, e visa ampliar o acesso à literatura feita por, para e com pessoas com deficiência — um campo historicamente negligenciado em feiras, festivais e políticas culturais tradicionais.
A inscrição por si só não garante a participação automática. Todas as propostas passarão por análise curadoria, considerando critérios técnicos, disponibilidade de espaço e diversidade temática. O processo exige o envio de portfólio e materiais complementares, por isso é necessário login com conta Google para completar o formulário.
A organização destaca ainda que o cadastro não implica vínculo contratual com a Prefeitura e que a seleção será feita de acordo com as necessidades e o escopo da programação oficial do evento.
Sobre a Feira Literária da Pessoa com Deficiência
A Feira Literária da Pessoa com Deficiência nasce em um contexto em que eventos culturais acessíveis ainda são raros — e, quando ocorrem, muitas vezes reproduzem uma lógica capacitista ao colocar pessoas com deficiência apenas como público e não como protagonistas da criação.
Neste evento, o foco é inverso: reconhecer a produção intelectual, criativa e política de pessoas com deficiência no campo literário. Isso inclui também obras e editoras que dialogam criticamente com os temas da deficiência, da acessibilidade e da justiça social.
A programação prevê uma série de atividades abertas ao público, incluindo:
Lançamentos de livros;
Rodas de conversa e debates;
Sessões de leitura e contação de histórias;
Oficinas formativas;
Espaços dedicados à literatura inclusiva e acessível.
Todos os espaços e atividades deverão contar com recursos de acessibilidade, como interpretação em Libras, audiodescrição, espaços acessíveis para pessoas com mobilidade reduzida e mediação inclusiva.
No Recife, estão iniciando os preparativos para o Carnaval. Estão abertas, as inscrições para o 4º Concurso de Rei e Rainha da Pessoa com Deficiência do Carnaval do Recife 2025, até 19 de fevereiro. Este ano, a disputa será voltada para pessoas com deficiência intelectual, seguindo o formato do concurso que, a cada edição, contempla um tipo diferente de deficiência.
Promovido pela Prefeitura do Recife, por meio da Gerência da Pessoa com Deficiência da Secretaria de Direitos Humanos e Juventude, o concurso premiará os vencedores com R$ 5 mil cada. A escolha do Rei e da Rainha será durante a prévia carnavalesca do Projeto Praia sem Barreiras, no dia 22 de fevereiro, na Arena do projeto, em Boa Viagem, a partir das 10h.
Como se inscrever
Os interessados podem garantir sua participação de duas formas: – Por e-mail: enviando os documentos para reirainhapcdrecife@gmail.com. – Presencialmente: na Gerência da Pessoa com Deficiência do Recife, localizada no 6º andar do edifício-sede da Prefeitura do Recife, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 16h.
Documentação necessária
Para se inscrever, é preciso ter 18 anos ou mais e apresentar: ✔ Documento oficial com foto; ✔ Comprovante de residência; ✔ Comprovante da deficiência; ✔ Contato para comunicação.
O regulamento completo está disponível no Diário Oficial do Recife desta quinta-feira (13) e pode ser acessado pelo link: https://dome.recife.pe.gov.br/.
A educação inclusiva não é apenas um conceito pedagógico. É a garantia do direito de todos os cidadãos terem acesso à educação. Ela gera não só a igualdade de oportunidades, mas abrange diversidades étnicas, sociais, culturais, intelectuais, físicas, sensoriais e de gênero, e promove a mudança de hábito e a transformação cultural, conscientizando a população sobre práticas de inserção.
No Brasil, o cenário da educação inclusiva reflete desafios que perpassam, sobretudo, pela complexidade do sistema educacional, os estigmas sofridos pelas pessoas com deficiência (PCD) e a falta de políticas públicas eficazes que leve para sociedade o conhecimento necessário para aplicar a inclusão social das PCD, além de investimentos financeiros nesta pauta. De acordo com dados do módulo Pessoas com Deficiência, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2022, cerca de 18,6 milhões de pessoas de 2 anos ou mais de idade do país têm algum tipo de deficiência.
Os números, no entanto, são ainda mais preocupantes quando se observa a taxa de analfabetismo: no terceiro trimestre de 2022, ela chegou a 19,5% entre pessoas com deficiência, enquanto, para pessoas sem deficiência, essa taxa foi de apenas 4,1%. A pesquisa também destaca que apenas 25,6% das pessoas com deficiência concluíram o Ensino Médio, em comparação com 57,3% das pessoas sem deficiência. No Ensino Superior, a situação é ainda mais crítica: apenas 7% das pessoas com deficiência conseguem finalizar o processo educacional.
Esses números deixam claro que, ao longo da jornada educacional, ocorre uma queda expressiva no número de pessoas com deficiência que conseguem concluir sua formação. Para entender melhor o impacto dessa realidade, a equipe da Eficientes conduziu entrevistas entre julho e agosto com pessoas com deficiência das periferias do Recife e com gestores públicos. O resultado desse trabalho foi uma reportagem especial e uma websérie de seis episódios, disponíveis em nossas redes sociais.
“Eu tenho alguns amigos, mas a maioria da classe não se aproxima muito de mim, mas os professores estão sempre dando um jeito de me ajudar”. A fala que inicia esta reportagem foi dita por Laís Rodrigues da Silva, uma jovem de cabelos longos, lisos e pretos.
Aos quatro anos, ela contraiu uma doença rara que atingiu a sua retina e foi diminuindo os níveis de visão. Hoje, aos 15 anos, ela tem cegueira total.
Motivada por sua mãe, Laís cresceu entendendo que o preconceito e a falta de acessibilidade não tornariam sua vida fácil. Mas sempre teve certeza de que nada lhe é impossível. “Ela sempre disse que não ia ser fácil, que as pessoas poderiam me olhar diferente, me tratar diferente e achar que eu não sou capaz, mas ela sempre disse que eu posso fazer tudo que eu quero. Eu aprendi a andar de bicicleta sem rodinha sozinha, eu já participei da colônia de férias do horto, minha mãe me ensinou a pular corda, fiz natação, aula de piano, ballet”, contou.
Ela cursa o primeiro ano do ensino médio na Escola de Referência em Ensino Fundamental e Médio Joaquim Xavier de Brito, no bairro da Iputinga, no Recife, local onde aconteceu a entrevista. Ao entrar na escola, no lado direito, há uma rampa, e corrimãos onde estão presas várias bicicletas. A escola possui várias pilastras, e logo em seguida, nos deparamos com uma escada que leva à sala de recursos com quatro computadores, um bebedouro, um armário e uma estante com vários jogos acessíveis. Apesar de ser uma unidade de referência, a escola não dispõe de alguns recursos importantes para garantir a acessibilidade arquitetônica, como o piso tátil, um elemento tão importante para dar maior autonomia e segurança às pessoas cegas, já que marca o caminho que ela precisa para entrar em determinados locais.
Laís não usa bengala e sempre conta com o apoio de alguém para se locomover dentro das dependências da escola. Para a entrevista, ela foi trazida pelo seu pai até a sala de Recurso, um ambiente que dispõe de materiais educacionais acessíveis e os profissionais que aplicam as metodologias de acessibilidade. No fim da conversa, ela foi acompanhada por um amigo até outro espaço da unidade.
Laís precisa de apoio para circular pelos ambientes da escola.
Perguntada sobre a principal dificuldade que enfrenta no colégio, ela ressalta a solidão. “Eu acho que talvez pela falta de inclusão, os meninos parecem, sei lá, ter medo de se aproximarem de mim ou por não saber como me ajudar. E termina muitas vezes me ignorando e isso é doloroso. É bem ruim a dor da solidão e várias vezes eu falei na escola: ‘gente, eu sou normal’”, contou.
Na escola, a estudante tem o suporte de uma professora braillista, que recebe todas as atividades realizadas pelos professores de Laís e a encaminha em braile. “Isso é bem legal, porque eu não preciso de alguém a todo instante perto de mim. Minha mãe é muito ocupada e não dá para ficar todo tempo pedindo ajuda dela, então a tarefa em braile é importante porque a qualquer hora eu posso fazer, responder e entregar aos professores”, pontuou.
Focada em finalizar o ensino médio e a estudar algum curso universitário que trabalhe a biologia, Laís conta que ainda não pensou muito sobre sua entrada no mercado de trabalho. “Eu acho que pode ter alguma dificuldade nesse acesso, mas como tudo na vida vou vencer. Acredito nisso, eu penso isso. Eu vou fazer um curso na faculdade e depois vou dar um outro passo. Um de cada vez, mas sempre vencendo os obstáculos”, disse.
UNIVERSIDADE É AINDA MAIS HOSTIL
“Quando o professor me deu a prova com a fonte normal, eu o chamei e expliquei que não conseguia identificar as palavras. E ele disse: ‘se vire. Você que sabe se vai fazer a prova ou não. Você está deficiente visual, não era nem para estar aqui’. Ele virou e voltou a observar os outros alunos, e eu fiquei com a prova na mão sentada na cadeira, raciocinando sobre o que tinha sido me dito”.
O relato que inicia esta segunda parte da reportagem é de Elaine Silva, uma jovem negra de 26 anos que perdeu a visão aos 18 anos após uma hidrocefalia. Elaine é o nome fictício escolhido por ela que, por receio, preferiu não se identificar e nem apontar a instituição de ensino superior pernambucana onde foi palco de uma das experiências mais tristes que vivenciou.
Na época estudante de Educação Física em uma universidade pública, Elaine foi socorrida para a emergência hospitalar com fortes dores de cabeça exatamente no dia do retorno às aulas. No hospital, ela passou por uma cirurgia na cabeça para a drenagem do líquido, mas ficou em coma por pouco mais de dois meses. Ao acordar, não conseguia enxergar. “Quando eu saí de casa, eu enxergava. Quando acordei do coma, que vi a escuridão, fiquei em dúvida se eu estava acordada. Mas aí ouvi a voz da minha mãe”, contou.
Amante da leitura e dedicada aos estudos, após a alta hospitalar Elaine não trancou a matrícula na faculdade. Um ano depois, decidiu que voltaria ao curso e foi até a coordenação da universidade com sua mãe entender se o retorno seria possível. “Minha mãe alertou à faculdade que eu precisaria de alguém para me auxiliar nas avaliações ou que eu precisaria de provas com fontes maiores e um tempo maior para fazer. Na época, eu conseguia enxergar um pouco. Voltei ao curso e entrei em quatro disciplinas”, disse.
No entanto, em uma das avaliações, não foi cumprido o combinado feito com mãe e filha. Elaine recebeu uma prova com fonte pequena e não houve a opção de assistência. “Fui vendo que os alunos estavam saindo e vi que não tinha como fazer a prova. Com as linhas muito unidas umas nas outras, eu não conseguia entender. Eu simplesmente entreguei a prova, sem nem escrever meu nome, e sai da sala bem abalada”, afirmou.
O episódio fez Elaine desistir do curso. Mas o desejo pela formação superior seguiu latente, fazendo com que, anos depois, ela se matriculasse em outra instituição de ensino. Hoje, ela cursa o oitavo período do curso de Nutrição em uma faculdade particular, longe da instituição onde foi vítima do capacitismo, mas conta que as dificuldades com a falta de acessibilidade continuam. ”Falta de empatia e falta de acessibilidade vão existir em todo canto. Essa faculdade que estou hoje também disse que ia garantir todos os artifícios, todo o suporte que eu precisasse. Mas também não é assim”, apontou. “É difícil a sociedade tratar a acessibilidade. É difícil a gente tratar a empatia. A gente tem que trabalhar esses temas desde pequeno, para quando a gente crescer, aplicar e incluir às pessoas com deficiência”, destacou.
Apenas 7% das pessoas com deficiência concluem o Ensino Superior Crédito: Carlos Pontes
Questionada quais seriam as acessibilidades que deveriam ser aplicadas na instituição de ensino em que estuda, ela inicia a resposta ressaltando a inacessibilidade que começa desde a saída de casa. “O caminho de casa até a faculdade é um grande desafio. Calçadas com buracos, falta de sinalização. Vou sozinha, então, às vezes, tem algumas crianças no caminho que me param e dizem “moça, deixa eu ir com você; você vai bater no poste”. E eu digo que não tem problema, que se eu bater, vou aprender e decorar que naquele lugar tem um poste ali, que eu não posso passar mais ali. Minha perna está toda manchada e isso tudo é pancada que eu levo na rua. Na minha rua mesmo, vocês viram as calçadas, né?!”, perguntou à equipe de reportagem.
Elaine mora no bairro do Bongi no Recife, não muito longe do campus da insituição onde estuda, local de casas simples e ruas e calçadas desniveladas e estreitas, o que a impede de se locomover com segurança e autonomia. Os dados do IBGE informam que o bairro tem taxa de alfabetização de 92,3% e renda mensal por domicílio de R$ 1.860,98.
Na faculdade, ela destacou que o mais difícil é a falta de livros acessíveis. “Seria muito importante encontrar alguns livros específicos da minha área no formato digital”, apontou. Na parte física da instituição, ela apontou a falta de piso tátil em todas as dependências da unidade de ensino e indicou a falta de manutenção nos recursos de acessibilidade que foram aplicados. “As escadas têm fitas antiderrapante, mas estão desgastadas e, apesar dos computadores terem os softwares de leitor de tela instalados, não temos o suporte de uma pessoa para nos ajudar”, afirmou. “Mas tudo isso é construção e esse tipo de construção demora muito. E não sou eu, Elaine, quem vai mudar isso. Quando todo mundo parar dizer assim ‘a gente tem que mudar isso’, é que vai mudar realmente. Mas eu acho que ainda vai demorar séculos e séculos, é muito lento para ter uma solução”, completou Elaine
COMO ATUA O GOVERNO DE PERNAMBUCO
Em 2015 foi instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência para assegurar e promover, em condições de igualdade, os direitos e as liberdades fundamentais das pessoas com deficiência, visando à sua inclusão social e à cidadania. Dentre as diretrizes estabelecidas pela lei de inclusão, o artigo 28 determina que é incumbência do poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar o sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida. No entanto, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), apesar da inclusão escolar ter avançado nos últimos anos, ainda há desafios significativos na implementação de práticas efetivas que atendam a todos os alunos equitativamente.
Em Pernambuco, há aproximadamentee 14 mil estudantes com deficiência matriculados nas 1.601 escolas estaduais. Desse número, 549 unidades dispõem de salas equipadas com recursos acessíveis, como impressoras em braille, itens pedagógicos, mobiliários acessíveis e outros, e apenas 192 estão totalmente adequadas à acessibilidade.
De acordo com a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco, a meta é que, até o final de 2026, todas as escolas do estado sejam acessíveis. “Desde 2004, com a própria organização da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e a Lei de Acessibilidade, a gente vem brigando para que cada vez mais os prédios públicos se tornem acessíveis. Nós temos estruturas nas nossas escolas de prédios antigos, mas hoje a gente tem Investe Escola e geralmente a gente foca e dá prioridade para esses pontos de acessibilidade arquitetônica”, apontou a gerente estadual de Educação Inclusiva, Sunnye Gomes.
Sunnye é gerente de Educação Inclusiva de Pernambuco Crédito: Larissa Pontes/Eficientes
O Programa Investe Escola Pernambuco (Piepe), citado pela gestora, promove a manutenção e a melhoria das infraestruturas física e pedagógica das unidades escolares. Em matéria publicada no site da secretaria em 24 de janeiro de 2024, há o indicativo de que o Governo do Estado liberou R$ 101 milhões para serviços de infraestrutura das unidades para 2024.
Sobre o orçamento estadual total previsto para a educação inclusiva, a SEE informou que do segundo semestre de 2024 ao segundo semestre de 2025 serão investidos R$ 13.060.873,48. Em relação à formação de professores, a gerente de Educação Inclusiva do Estado, destacou que a meta do ano é capacitar 1.754 professores da Educação Especial. Ela destaca que há o convite para que os professores da educação regular e outros profissionais das unidades escolares também se capacitem. “A gente inicia o nosso movimento de formações continuada desde o início do ano. Nas nossas formações, a prioridade é para os professores do Atendimento Educacional Especializado, mas convidamos sim professores da sala comum, porque a gente acha importante esse diálogo. A gente quer que esse professor chegue mais perto da gente, porque, na verdade, o aluno está mais tempo na sala de aula regular. Então, há o convite para esses professores também, assim como a gente mobiliza a equipe de gestão, os educadores de apoio e outros agentes, outros protagonistas da escola”, afirmou.
Para a gerente de Educação Inclusiva do Estado, Sunnye Gomes, Pernambuco se destaca por oferecer o Atendimento Educacional Especializado (AEE). “A estratégia mais forte, que é uma grande marca do nosso Estado, é a garantia do Atendimento Educacional Especializado. Sem a garantia desse atendimento é praticamente impossível efetivar uma inclusão. Então essa é a nossa maior estratégia e com isso, obviamente, você tem alunos surdos inclusos, com intérpretes de libras em sala de aula. Se temos alunos cegos, há professores braillistas. Então, o aluno matriculado na unidade escolar ele tem a garantia da oferta do Atendimento Educacional Especializado”, pontuou.
Mas é importante ressaltar, que a Lei da Inclusão, ainda em seu artigo 28, determina que é dever do poder público construir e oferecer um projeto pedagógico que institucionalize o Atendimento Educacional Especializado para atender os estudantes com deficiência. “A educação é um processo contínuo de aprendizagem. São 30 anos de educação especial, eu vim de internatos e hoje falo de inclusão de estudantes cegos. Não tenho como dizer que a gente não avançou. A gente avançou muito, mas ainda precisamos melhorar mais. Acredito muito no que a gente está construindo e eu sei o que a gente está crescendo”, atestou a gestora.
FALTAM AÇÕES AFIRMATIVAS
Em relação ao ensino superior, o Governo do Estado atua através da Universidade de Pernambuco (UPE). O pró-reitor de Graduação da UPE, Ernani Martins, afirma que a primeira iniciativa inclusiva acontece nos processos seletivos onde o candidato pode indicar sua demanda, apresentar o laudo e ter garantido uma equipe técnica para dar condições necessárias. “Por exemplo, um candidato com deficiência intelectual que às vezes necessita usar um computador específico. Ele faz o requerimento, traz o equipamento e esse computador é analisado por uma equipe técnica que vai atestar que aquilo que ele pede é uma condição necessária e que não será uma vantagem em relação aos outros candidatos”, explicou.
No entanto, no ingresso à instituição, o pró-reitor ressalta que ainda não há uma ação afirmativa específica para estudantes com deficiência que queiram ingressar nos cursos de graduação, pois a lei de Cotas obriga apenas as universidades federais e concursos públicos. “A gente vem trabalhando paulatinamente, discutindo com o governo estadual as condições para que a gente faça isso, como melhorar toda a infraestrutura física”, pontuou, reforçando que o mesmo não se aplica nos cursos de pós-graduação. “Já tem uma ação afirmativa, uma cota específica para pessoas com deficiência que queiram fazer mestrado e doutorado”, disse. De acordo com dados de 2023, a UPE tem cinco estudantes com deficiência auditiva, seis com deficiência física e 66 estudantes com deficiência visual, sendo baixa visão, monocular e outras. Ao todo, a universidade tem 14 mil alunos.
Ernani destacou ainda que a universidade não tem profissionais específicos para atuar na aplicação das acessibilidades necessárias no dia a dia dos estudantes com deficiência, mas indica que há formações sobre acessibilidade e inclusão para os docentes compreenderem como atuar com os alunos com deficiência, tendo 25% do quadro docente com alguma formação específica sobre os temas este ano. “A gente precisa ter uma lei que crie cargos na universidade de intérprete de libras, tradutor, braillista e outras não têm, então não podemos fazer concurso. Mas a gente pretende até 2027 ter todas essas necessidades para as políticas públicas avançarem na instituição”, afirmou.
Martins, pró-reitor da UPE, acredita ser possível adequar infraestrutura Crédito: Larissa Pontes/Eficientes
Apesar disso, o gestor frisa haver estudantes com deficiência na UPE e que, quando o aluno necessita de tecnologias assistivas, são ofertadas pela instituição os recursos e equipamentos necessários “Quando eles entram, a gente faz um estudo para entender sua condição e ofertar uma formação equitativa, respeitando as características de cada curso”, afirmou.
Diferente do ingresso para a formação universitária, a UPE aplica a política de cotas afirmativas no processo de seleção profissional, garantindo o percentual determinado por lei para a contratação de pessoas com deficiência. “Quando elas passam no concurso e são convocadas, depois da junta médica, tem uma equipe que acolhe na pró-reitoria de Desenvolvimento Pessoas para entender as necessidades dessas pessoas e alocar no setor que vai atuar e dar toda a infraestrutura do que é possível dentro da universidade para que essa pessoa trabalhe da melhor forma possível”, disse.
Para sanar as faltas de acessibilidade na instituição, a Universidade de Pernambuco instituiu em 2021 o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão. “Ele funciona dando essa assistência em várias direções, em apoio psicopedagógico, em equipamentos, para que a gente tenha, de fato, um tratamento equitativo para todos os alunos que estão nas graduações da universidade, em todas as macrorregiões do estado onde a UPE está distribuída”, detalhou indicando que a perspectiva é que até 2027 o núcleo seja ampliado. “O objetivo maior é a gente não só dar o acesso à universidade, mas instituir a permanência dessas pessoas, entendendo a universidade como um espaço plural para todas as pessoas.”
Embora a ampliação do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão seja um passo na direção certa, é necessário questionar por que os processos de implementação de acessibilidade avançam tão lentamente. O núcleo existe desde 2021, mas só em 2024 foi possível iniciar a capacitação dos professores. E isso não se limita a UPE; é importante que outras instituições exerçam políticas inclusivas, como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Rural de Pernambuco (UFRPE), que não forneceram à equipe de reportagem os questionamentos sobre suas políticas de inclusão. Será que há, de fato, um comprometimento das instituições de ensino e do poder público com a criação de um ambiente acadêmico inclusivo e acessível?
Uma coisa é certa: a implementação de ações que promovam a inserção e permanência de estudantes com deficiência não deveria ser uma exceção, mas sim uma regra. No entanto, ainda há um longo caminho para que esse compromisso se transforme em práticas consistentes e eficazes, capazes de gerar um impacto real na sociedade, fortalecendo a diversidade e garantindo a equidade no ensino médio e superior, ao invés de cumprir apenas metas institucionais.
E NO MERCARDO DE TRABALHO?
Roberta Soares, professora de libras, sempre foi incentivada pela família a estudar. Para isso, até o ensino médio, frequentou uma unidade de ensino particular e bilíngue, onde existiam alunos surdos e professores que se comunicavam na língua de sinais. Após esse período, ela foi matriculada na Escola Técnica Estadual Professor Agamenon Magalhães (Etepam) e passou a vivenciar os problemas que a falta de inclusão na sociedade gera às pessoas com deficiência, sobretudo aos surdos.
Ela conta que no começo a escola não disponibilizou intérprete de libras e nenhum professor sabia a língua de sinais. “Os surdos ficavam lutando para conseguir esse profissional, que chegou depois. Mas o ensino médio foi difícil, foi tudo diferente do que eu tinha vivido. A maioria dos alunos eram ouvintes, a metodologia de ensino não era a mesma. Mas eu me esforcei, estudei, fiz reforço, principalmente para matemática e química, e consegui passar por essa fase”, pontuou.
Com o ensino escolar concluído, Roberta foi em busca de um trabalho numa fábrica. E nessa etapa, ela enfrentou novos desafios. “Foram nove anos nesse emprego e, para as pessoas com deficiência é bem difícil, tem muitas barreiras, muito preconceito e tinha muito impedimento comunicacional. Minha ideia sempre foi evoluir, sair de lá e me formar professora efetiva”, contou. Foi então que, conciliando com o emprego fabril, ingressou na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para cursar o primeiro curso de Letras Libras.
Para Roberta, entrar na UFPE não foi algo difícil. A prova para o vestibular era toda em libras e o curso tinha apenas alunos surdos. “Me lembrou a escola bilíngue e eu não tive dificuldade. A gente teve disciplinas de português, para praticar a leitura, mas o professor sabia libras, os trabalhos eram feitos nessa linguagem”, ressaltou. Sobre a equipe administrativa da universidade, ela destacou que, em 2008, ano em que iniciou o curso, não existia uma estrutura inclusiva completa. “A coordenação não sabia libras, mas os professores que sabiam apoiavam e tinha os intérpretes também, além de grupos de ouvintes que sabiam libras e grupos de surdos. Com o tempo, eles foram evoluindo e hoje, em 2024, melhorou muito”, reforça. “Lembro que, na minha época, tinha uma mulher surda no curso de Matemática e foi muito difícil para ela”, completou.
Durante os estudos na graduação, Roberta mirava para o futuro: sua meta seria estudar e ser aprovada em um concurso público. “Hoje, sou professora da rede estadual”, contou. Como docente de libras, ela ensina pessoas ouvintes e surdas, mas já teve experiência com pessoas cegas. “Foi um desafio para mim, por que fiquei pensando ‘qual material irei utilizar?’. Porque existiam várias possibilidades, acabou sendo difícil no início. Mas foi importante para mim, porque aprendi a trabalhar, mudar a estrutura de trabalho e pensar nas adaptações”, afirmou. A partir das vivências no trabalho, Roberta destacou que vão se criando ferramentas para ultrapassar os desafios que o mercado de trabalho apresenta. Mas será que recorrer ao concurso público será a única perspectiva de futuro para as pessoas com deficiência no mercado de trabalho?
*Esta reportagem foi produzida pelo Portal Eficientes, em parceria com a Marco Zero Conteúdo, e financiada pelo Instituto Fala!, uma organização sem fins lucrativos fundada por quatro mídias independentes referências no jornalismo de causas: Alma Preta, Marco Zero Conteúdo, 1Papo Reto e Ponte Jornalismo.
A Inova.aê contribuiu para o desenvolvimento acessível da 19ª edição do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que aconteceu em julho, no campus Álvaro Alvim da ESPM-SP, na Vila Mariana, em São Paulo. O trabalho foi idealizado para que o evento pudesse incluir e receber bem as pessoas com deficiência. Além disso, a Inova.aê também ministrou oficinas e palestras sobre comunicação e jornalismo acessível.
Durante os meses de março a abril, o Instituto realizou treinamentos com a equipe da Abraji, fornecendo informações de como aplicar as diretrizes de acessibilidade comunicacional em eventos e quais seriam as intervenções físicas necessárias para garantir a locomoção com autonomia do público com deficiência. Para garantir a fluidez do site para as tecnologias assistivas, os consultores da Inova.aê verificaram o site e apontaram os itens que precisavam ser melhorados.
Para oferecer capacitação e fortalecer a discussão em torno de um jornalismo inclusivo e acessível, os especialistas da Inova.aê ministraram duas mesas e uma oficina no Domingo de Dados. Na sexta-feira (12) a mesa “Quem cabe no seu todos? Tecnologia na garantia do direito à informação para pessoas com deficiência”, foi mediada por Mariana Clarissa, diretora de projetos da Inova.aê. A atividade discutiu as possibilidades de união entre a tecnologia e a comunicação para a construção de projetos inovadores e que contribuam para que as pessoas com deficiência tenham acesso à informação jornalística com qualidade.
Mariana pontuou como foi elaborada a construção da Lume Acessibilidade, um aplicativo agregador de notícias jornalísticas construído a partir das diretrizes de acessibilidade digital. Acessível à população com deficiência visual no Brasil, a ferramenta nasceu a partir do desdobramento do projeto Acessibilidade Jornalística: um problema que ninguém vê, vencedora do Innovation Challenge do GNI em 2021. Estiverem presente também Gabriel Sales, que é estudante de estatística da UFF e criador do projeto IA Libras, e Carla Beraldo, pesquisadora, especialista em acessibilidade e idealizadora do Protocolo Reverta de Acessibilidade.
O segundo momento aconteceu no sábado (13), com a mesa “Cultura interna: como os gestores podem promover diversidade e inclusão no jornalismo”, que trouxe um panorama atual da diversidade no jornalismo brasileiro. Foram apresentados os resultados da pesquisa “Retrato do Jornalismo Brasileiro”, expostos por Angela Werddemberg que coordenou o projeto na Enóis. A atividade também destacou a diversidade racial, de gênero e territorial através da fala de Mário Rogério, diretor de programa de indicadores do CEERT.
Além disso, foi discutido os desafios enfrentados pelas iniciativas para promover práticas inclusivas e sugestões para criar ambientes mais representativos, fala feita por Michel Platini, consultor em Acessibilidade da Inova.aê. O debate foi mediado por Gabi Coelho, jornalista independente e diretora da Abraji.
Domingo de Dados – No Domingo de Dados, programação que tem ênfase no jornalismo de dados, a Inova.aê apresentou a oficina “Jornalismo de dados acessível: como planejar gráficos interativos e informativos para pessoas com deficiência ou baixa visão” ministrada por Larissa Pontes, presidente Inova.aê, e Mariana Clarissa, diretora de projetos. A atividade expôs os recursos necessários para a criação de infografias acessíveis.
O projeto Visões Sonoras da Cidade, vai criar audiodescrições de seis paisagens da área central da capital pernambucana
Contemplar prédios históricos, pontes, ruas e pontos turísticos localizados na área central do Recife vai se tornar uma prática mais inclusiva. A Com Acessibilidade Comunicacional, empresa que coordena e executa projetos de acessibilidade comunicacional, idealizou o projeto Visões Sonoras da Cidade, uma iniciativa que vai descrever, por meio da técnica da audiodescrição, as paisagens da capital pernambucana para que turistas e recifenses com deficiência visual possam experienciar a memória e as referências culturais da cidade.
Em sua etapa inicial, o projeto prevê a audiodescrição de seis locais de destaque da primeira Região Político Administrativa do Recife (RPA1), área que reúne uma série de paisagens como fachadas de equipamentos históricos, casarões, praças, pontes, pátios e outros elementos que protagonizam as vivências de cidade da população em geral. São eles: o Marco Zero, a Rua do Bom Jesus, a Torre de Malakoff, parte do casario da Rua da Aurora, a fachada do Teatro de Santa Isabel, e a Praça da República.
O projeto tem como principal objetivo acessibilizar pontos importantes do Recife e permitir que as pessoas com deficiência sensorial possam imergir na paisagem e nos elementos que caracterizam os pontos turísticos da região. Com uma equipe de audiodescritores, historiadores, arquitetos e consultores em acessibilidade comunicacional, o trabalho realizado será armazenado no soundcloud, disponibilizado em um QR Code hospedado no site da Com Acessibilidade Comunicacional, além de ser entregue para o equipamento público e para as secretarias de Cultura, de Turismo e Lazer, e de Direitos Humanos do Recife. “É um projeto da cidade para a cidade, que busca contribuir com novas perspectivas de vivenciar o Recife. Com o Visões Sonoras da Cidade as paisagens serão traduzidas para que as pessoas com deficiência visual reconheçam e ressignifiquem sua percepção da cidade e seus monumentos”, destaca a diretora executiva da Com Acessibilidade Comunicacional, Liliana Tavares.
A gestora pontua ainda que, como conclusão da primeira etapa do projeto, será promovida uma visita guiada com audiodescrição e Libras aberta aos usuários dessas tecnologias assistivas. “Será uma recepção que nos permitirá presenciar as sensações manifestadas no público usuário e apontar necessidades de ajustes, analisar a funcionalidade do trabalho e observar se o acesso está sendo feito de forma autônoma”, explica.
A previsão é que o projeto, realizado a partir do incentivo da Prefeitura do Recife e do Governo Federal por meio do edital da Lei Paulo Gustavo, seja concluído no final de maio. “Espera-se que o projeto contribua para que a cidade seja mais inclusiva. Que as pessoas com deficiência visual possam se aproximar da cidade, conhecer e vivenciar espaços públicos de imagens acessadas por pessoas que enxergam. Acreditamos que o projeto irá colaborar para que as pessoas cegas ou com baixa visão vão construir uma sensação de pertencimento desses lugares”, finaliza Liliana.
Projeto realiza sessões de cinema acessível e atividades formativas a partir de terça (07/05)
Cinema, Educação e Acessibilidade são áreas interligadas que, juntas, possuem um grande potencial para fortalecer a inclusão, a diversidade e as oportunidades. A partir dessa perspectiva, surge o Plano Conjunto, um projeto com o objetivo de realizar sessões de cinema acessível e atividades formativas, como oficinas e masterclasses.
O principal público-alvo são os estudantes com deficiência das Escolas Municipais do Recife, bem como profissionais do cinema, da acessibilidade, professores, técnicos e gestores escolares. As sessões de cinema acessível são abertas ao público em geral.
A programação é dividida em três ciclos, que acontecem a partir de hoje (07/05) e se estendem até junho. As atividades são realizadas gratuitamente. O projeto é realizado pelo produtor Túlio Rodrigues com incentivo pelo Sistema de Incentivo à Cultura/Prefeitura do Recife.
Projetos como este são importantes para a sociedade compreender a importância da acessibilidade no contexto cultural e educacional. De acordo com dados da Gerência de Educação Especial da Cidade do Recife, no ano de 2023, aproximadamente 4.500 alunos com deficiência estão matriculados na Rede de Ensino do Recife. Dentre eles, 1.031 estudantes possuem Transtorno do Espectro Autista (TEA), 306 têm Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), 196 apresentam surdez ou algum grau de deficiência auditiva, 111 possuem cegueira ou baixa visão, e 112 têm síndrome de Down.
Foto: Divulgação
O primeiro ciclo do Plano Conjunto inicia com a exibição da animação “Além da Lenda”(Classificação Livre, 1h26m), de Marcos França e Marília Mafé, na terça-feira (07/05), às 14h30, no Cinema da Fundação (Derby, Recife). O filme é o primeiro longa-metragem de animação produzido em Pernambuco e aborda lendas brasileiras como Saci, Comadre Fulozinha e Curupira. A sessão acessível terá recursos de Audiodescrição (AD) para pessoas cegas e com baixa visão, Língua Brasileira de Sinais (Libras) e Legenda para Surdos e Ensurdecidos (LSE).
A sala de cinema funciona em modo adaptado, com o ambiente mais iluminado e o som reduzido, para melhor receber pessoas neurodiversas, o que inclui pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), síndrome de Down, entre outras. O público será acolhido por uma equipe que conta com audiodescritores e intérpretes de Libras e, ao final da sessão, participará de uma mediação acessível.
A programação ainda conta com atividades que propiciam diálogos sobre cinema, acessibilidade e educação inclusiva. “Durante os três ciclos, o Plano Conjunto oferece encontros com temáticas diferentes, oportunizando o debate da pluralidade do estudante com deficiência e mobilizando discussões específicas sobre cada individualidade”, explica Túlio Rodrigues, coordenador do projeto.
A masterclass online “Educação audiovisual: percursos criativo-pedagógicos entre escola e comunidade” será realizada na quinta (09/05), às 19h30, com Felipe Leal, da Semente – Escola de Educação Audiovisual (PB). Nos dias 10 e 17 de maio, o Plano Conjunto oferece a oficina Introdução às Legendas para Surdos e Ensurdecidos (LSE) com Deise Medina (BA). Os encontros da oficina acontecem das 14h30 às 17h30, em formato online. Os interessados devem se inscrever através dos formulários disponibilizados através do perfil do projeto no Instagram: https://www.instagram.com/plano.conjunto.lab/
Plano Conjunto – Laboratório de Cinema, Educação e Acessibilidade
Programação: Ciclo 1:
07/05, 14h30 – Sessão Acessível no Cinema da Fundação/Derby (AD, Libras e LSE) Filme: Além da Lenda, Marcos França e Marília Mafé, Animação, Livre, 1h26m
09/05, 19h30 – Masterclass – Educação audiovisual: percursos criativo-pedagógicos entre escola e comunidade com Felipe Leal, Semente – Escola de Educação Audiovisual (PB).
10/05 e 17/05 (14h30 às 17h30)- Oficina de Introdução às Legendas para Surdos e Ensurdecidos (LSE) com Deise Medina (BA). Inscrições na página do instagram: @plano.conjunto.lab Link: https://www.instagram.com/plano.conjunto.lab/
Curso híbrido será oferecido para a comunidade circense do Recife e Região Metropolitana com parte das vagas reservadas a integrantes do circo itinerante, pessoas negras, trans ou indígenas. A iniciativa é da escola Casulo Artes Circenses com subsídio do SIC, Sistema de Incentivo à Cultura do Município do Recife.
O cenário circense do Recife e Região Metropolitana vem crescendo nos últimos 10 anos, com muitas escolas de diferentes modalidades, em especial de aéreos, virando febre por aqui. No entanto, ainda são poucos os profissionais com formação profissional formal voltada para o ensino de circo, pois faltam cursos e capacitações na região e também no país.
Por conta disso, Malu Vieira, professora de aéreos e gestora do Casulo, escola localizada em Casa Amarela, Zona Norte do Recife, está oferecendo a Formação Livre para Instrutores de Circo (FLIC), um curso híbrido com 42 horas de aula sobre diferentes aspectos do ensino circense, ministrado por 8 profissionais locais e de outros estados do Brasil. A iniciativa, que conta com apoio do Sistema de Incentivo à Cultura do Município do Recife, é totalmente gratuita e terá parte das vagas reservadas à participação de integrantes do circo itinerante, de pessoas negras, trans ou indígenas, além de incluir pessoas surdas. Serão 20 vagas no total e as inscrições vão do dia 16 a 29 de fevereiro pelo formulário disponível no Instagram @casuloartescircenses. A divulgação do resultado final do processo seletivo está prevista para 04 de março, no mesmo perfil do Instagram.
O principal objetivo da FLIC é suprir parte da carência de cursos e formações para professores de circo no Recife e em Pernambuco, uma demanda gigante que vem sendo o foco de muitos sonhos e projetos de Malu Vieira. “Em 2021, com incentivo da Lei Aldir Blanc, lancei uma formação teórico-prática online para aerialistas, no intuito de socializar o que aprendi – e estava represado – ao longo desses 11 anos de estudos e práticas de aéreo. Em junho de 2023, a Formação chegou à sua sexta turma, totalizando cerca de 80 alunos de todo o país. Algo que esteve presente em todos os encontros foi o desejo por mais conhecimento e a constatação de que ainda são poucas as oportunidades que temos de nos aperfeiçoarmos enquanto pessoas que ensinam circo no Brasil. Nem mesmo na Escola Nacional de Circo Luiz Olimecha há capacitação nesse sentido, uma vez que o curso técnico da ENC é voltado para formação artística, e não pedagógica”. Atualmente matriculada no curso para Instrutores de Circo da École Nationale de Cirque (Montreal, Canadá) graças ao incentivo do SIC, Malu idealizou a FLIC para garantir que outras pessoas que ensinam – ou desejam – ensinar circo em Recife também possam receber treinamento específico.
O diálogo entre o ensino formal e a natureza empírica e plural do circo é outra vertente importante da FLIC. “Se, há alguns anos, as lesões no circo eram naturalizadas ou mesmo romantizadas (quem nunca ouviu o famoso ‘é a arte entrando’?), hoje sabemos que existem maneiras de prevenir essas lesões e garantir, assim, mais longevidade e qualidade para os corpos circenses – corpos esses que são nossos instrumentos de trabalho”, explica Malu Vieira.
As aulas serão ministradas ao longo de 5 semanas, de 06 de abril a 05 de maio, distribuídas entre aulas online e síncronas pelo Zoom e encontros presenciais. A carga horária total é de 42 horas e compreenderá os seguintes temas: acrobacia aérea e de solo, pedagogia e planejamento de aulas, fundamentos do aéreo, circo social, criação artística e acessibilidade. Poderão concorrer às vagas professores, artistas e praticantes de artes circenses e toda a cadeia produtiva do circo, maiores de 18 anos de idade, residentes na Região Metropolitana do Recife e com pelo menos 1 ano de experiência comprovada na linguagem.
A seleção dos participantes será por meio de um formulário de inscrição, que conterá todos os critérios e informações necessários. Como critério de desempate, será feita análise da condição socioeconômica dos participantes, para garantir acesso ao curso por quem teria menos condições de fazê-lo de forma particular.
Além de buscar suprir a demanda por mais conhecimento no ensino de circo, a FLIC também se propõe a promover o intercâmbio entre os profissionais do circo itinerante e outros agentes culturais do circo pernambucano e ainda estimular a inclusão. Haverá, portanto, garantia de no mínimo 2 vagas para integrantes do circo itinerante, além de reserva de vagas para pessoas indígenas, pessoas negras e trans.
Além disso, haverá duas ações inclusivas para a comunidade surda. Dentro da programação de aulas da FLIC, será realizada uma capacitação em ensino de tecido acrobático para pessoas surdas, onde serão desenvolvidas ferramentas metodológicas que facilitem a comunicação, que também contará com o apoio de um intérprete de LIBRAS e mediação de uma consultora com deficiência auditiva. Após essa primeira etapa, será oferecido um aulão de tecido voltado para o público surdo no dia 28 de abril, onde serão colocadas em prática as ferramentas metodológicas estudadas, além de contar com um intérprete de LIBRAS. O módulo “Circo Acessível” é uma idealização de Malu Vieira e de Andreza Nóbrega, da VouSer Acessibilidade, que assina a coordenação de acessibilidade do projeto.
“É preciso que se olhe para as ações de acessibilidade em projetos culturais com atenção. Se não há pessoas surdas praticando aéreo em Recife, é porque as políticas públicas para acessibilidade ainda estão longe de chegar em todos os espaços, e um dos objetivos da FLIC é justamente contribuir para a mudança desse cenário”.
CRONOGRAMA FLIC – Formação Livre para Instrutores de Circo
PROCESSO SELETIVO
Período de inscrições: 16 a 29 de fevereiro
Resultado: 04 de março
AULAS
Carga-horária total: 42h, sendo 15h online e 27h presenciais
Iniciativa é realizada em parque ambiental público e completará seis anos, contabilizando mais de mil passeios já realizados
Texto: Daniel Nardin / Foto da Capa: Everaldo Nascimento
Ao longo da trilha de cerca de quatro quilômetros cercada da exuberante fauna e flora amazônica, corredores e ciclistas que frequentam o Parque Estadual do Utinga, em Belém, passaram a dividir o espaço com pessoas com deficiência e idosos que circulam em bicicletas adaptadas, conduzidas por voluntários.
O projeto Ponto de Apoio completará em junho seis anos de existência. Começou de forma despretensiosa – com o passeio de um irmão levando o outro para ter contato com a natureza ao ar livre – e inicia o ano com um novo fôlego: a terceira edição do ano terá dez bicicletas e cerca de cem voluntários, que se revezam nas datas dos eventos. “Com mais equipamentos e melhor manutenção, fizemos um treinamento de novos voluntários, onde tivemos alta adesão, felizmente. Queremos já a partir de março nos programar para estarmos todos os finais de semana no parque e com isso atender mais gente”, destaca Daniel Nardin Tavares, idealizador e coordenador do Ponto de Apoio. O empurrão para a nova fase só foi possível com o primeiro patrocínio que o projeto recebeu, após cinco anos de atividade, da empresa de alumínio Albras, localizada no Estado do Pará.
Foto: Relry Aviz/LED
A ideia do projeto é simples: realizar passeios gratuitos em bicicletas adaptadas para pessoas com deficiência e idosos. “O simples fato da família se programar e essa pessoa sair da rotina casa-hospital-casa já é muito positiva, pois estimula, melhora autoestima e mostra para os demais frequentadores do parque, que é público, que esse é um espaço de todos”, afirma a terapeuta ocupacional Márcia Nunes, voluntária do projeto desde a primeira edição, em 2018. Ela era a profissional que acompanhava João Paulo Nardin Tavares, hoje com 43 anos e que aos 36 anos ficou com sequelas neurológicas após uma parada cardíaca. “Os pacientes que acompanho sempre converso muito com a família, para criar estímulos. Nesse caso o irmão mostrou a foto de uma bicicleta nesse modelo e disse que ia ver como encontrar alguém para fazer e achou. Fez o primeiro passeio com o João Paulo e é nítido como ele gosta. Quem não gosta de ver essa beleza toda do parque, não é? Então virou um projeto e a gente tem muitas pessoas que esperam a semana para estar conosco aqui”, destaca.
Outro voluntário que está no projeto desde o início é Reinaldo Brasil, analista de sistemas de 41 anos. Em 2004, ele sofreu um acidente de moto e teve a perna esquerda amputada. No esporte, encontrou motivação para enfrentar os novos desafios. E com o projeto, Reinaldo ressignificou a deficiência. Ele é um dos ciclistas condutores mais ativos e hoje é um dos coordenadores do projeto. “Muita gente fica curiosa e até estranha quando percebe que pedalo com uma perna. Mas isso aí é o de menos. O bem maior que faz para mim e para outros voluntários não é a atividade física, que já é um benefício, claro, mas o ganho que temos de saúde mental, de provocar sorrisos em crianças, idosos e jovens que fazem o passeio conosco. A trilha está aí, qualquer pessoa pode acessar. Mas, esse público não frequentava o parque e com o nosso projeto as pessoas vêm e participam, por isso ele é inclusivo e tem tanto benefício”, destaca.
As bicicletas são pintadas na cor vermelha, em alusão à pintura dos aviões da Esquadrilha da Fumaça na década de 1990, que nos anos 2000 mudou para azul e verde. “A primeira bicicleta foi feita para passear com meu irmão, que sempre foi apaixonado por aviação e pela Esquadrilha. Ele comentava que achava a pintura vermelha mais bonita, então é como se fosse o avião para ele voar, como uma cabine de avião onde ele fica. A ideia do projeto veio depois e mantivemos a cor, por ter combinado e pelo fato que estamos no Pará, que tem uma linda bandeira nessa cor com a estrela azul”, explica Daniel.
Com a foto que achou na internet de uma moto dos anos 1950 com um carrinho acoplado, Daniel fez como todo jornalista costuma atuar quando busca pessoas para contar uma história. “A gente brinca na nossa profissão que jornalista pode não saber muita coisa, mas sabe quem sabe. Então acionei grupos de ciclistas de Belém e encontrei o Robin Van Deer.
O holandês radicado no Pará, conhecido como Gringo, fez a bicicleta em apenas uma semana. “Eu já tinha feito bicicletas assim e não foi novidade para mim. Hoje, quando venho ao parque, fico emocionado, vendo que meu trabalho gera tantos momentos bons para tanta gente”, afirma.
Este ano, o Ponto de Apoio estreou a primeira bicicleta que foge do padrão das “vermelhinhas”, como são chamadas. A bike apelidada de “Ararajuba” é amarela com detalhes em verde, em homenagem à espécie que estava em extinção e, graças ao projeto com viveiro no Utinga, tem povoado novamente as copas das altas árvores do parque. “Nossa cidade está na Amazônia e cai receber a COP 30 em 2025, a maior conferência sobre mudanças climáticas do mundo e que aborda muito fortemente a importância da preservação ambiental. Então queremos incluir também um trabalho de conscientização no nosso trabalho que já é inclusivo”, afirma Mariana Nardin Tavares, irmã de Daniel e João Paulo.
Uma das passageiras frequentes nas bikes do Ponto de Apoio é Sthefane Mota, de 16 anos, que desde as primeiras edições faz passeios com o grupo. “Eu gosto de ver as árvores, os bichos e de passear. O pessoal também é sempre bacana comigo e gosto muito de vir”, afirma. Para a mãe, Elizabeth Mota, o projeto merece todo apoio e reconhecimento. “Eu sempre comento com outros familiares e incentivo a participar do projeto, pois promove na prática a inclusão para as pessoas com deficiência e idosos em um espaço público e o contato direto com a natureza linda que temos, sem o projeto, seria impossível”, avalia. Além de Sthefane, Elizabeth é mãe de Alice, que também possui mobilidade reduzida e participa dos passeios. “Sem esse apoio, seria muito complicado passear com as duas que têm mobilidade reduzida no parque. E cada vinda nossa a gente está sempre em família, o que é também algo muito positivo”, afirma.
Foto: Relry Aviz/LED
O projeto Ponto de Apoio recebeu esse nome por outra lembrança familiar. “Uma vez, quando eu era criança ainda, nosso carro atolou. Com um pedaço de madeira, meu pai tirou e a gente seguiu viagem. Curioso, perguntei como ele tinha conseguido aquilo com uma coisa tão pequena, mover algo tão grande e pesado como um carro. Aí ele disse a frase do Arquimedes: Dei-me um ponto de apoio e uma alavanca e posso mover o mundo. Ficou isso na minha lembrança. Às vezes não é preciso muito e nem temos a pretensão de mudar o mundo. Mas podemos sim, com um pouquinho de esforço, mover e mudar o meu mundo, a minha realidade, minha volta. Todos aqui acreditam nisso e são alavancas para essa transformação, simples, mas necessária na sociedade, com mais respeito, mais inclusão e mais ocupação de espaços públicos por todos. Espero que um dia todas as cidades tenham espaços como esse e com iniciativas como essa ou melhores, que tão bem fazem de maneira tão simples”, afirma Daniel.
Serviço – O Ponto de Apoio é realizado no Parque Estadual do Utinga (PEUt), uma Unidade de Conservação Estadual localizada em Belém. Para conhecer mais o projeto e as bicicletas, basta acessar as redes @pontodeapoiopa.
De 20 de novembro a 02 de dezembro, o Festival, acessível às pessoas com deficiência, terá duas mostras competitivas de curtas e exibições de filmes de longa metragem
O Festival Verouvindo chega à sua 8ª edição, celebrando o cinema de rua e promovendo uma experiência inclusiva no audiovisual brasileiro, entre 20 de novembro a 02 de dezembro, no Cinema do Museu (Fundaj – Casa Forte) e no Cinema da Universidade Federal de Pernambuco. A programação apresenta uma seleção de filmes de curta e de longa-metragem, todos apresentados com recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência: audiodescrição (AD), Tradução Audiovisual em Língua de Sinais (Tals) e Legendas para Surdos e Ensurdecidos (LSE).
Com o objetivo de contribuir para a inclusão cultural das pessoas com deficiência, o Festival exibe filmes com as acessibilidades aparentes, isto é, sem a mediação de aplicativos, e sempre em sessões bilíngues (português e Libras). Na programação, o público verá curtas pernambucanos, como Dorme Pretinho, de Lia Letícia; Ciranda feiticeira, de Thiago Delácio, e Recife de dentro para fora, de Kátia Mesel, frutos do Prêmio Serviço VerOuvindo de Acessibilidade.
Nesta edição do VerOuvindo, a já tradicional Sessão Memória tem como foco a defesa da importância do cinema de rua. Por isso, o sábado, dia 2 de dezembro, será dedicado ao tema. Pela manhã, haverá a exibição do filme Censura livre (28 min, doc, livre, 1981), de Ivan Cordeiro. Um dos clássicos do movimento Super-8 pernambucano, o média-metragem mostra a transformação de muitos dos cinemas de rua do Recife. Logo em seguida, haverá a aula: “Das telas às ruas: o Recife Cinematográfico”, a cargo da curadora do VerOuvindo, professora de Cinema da UFPE, Amanda Mansur. Em seguida, haverá ainda a exibição do curta Quem me quer, de Tiago Pinheiro, documentário sobre o nosso majestoso Cinema São Luiz. O público poderá participar fazendo perguntas e comentários. No turno da tarde, o festival promove uma excursão pelos antigos cinemas do Centro do Recife. Essa ação, comandada pelo Coletivo #CineRuaPE, é intitulada de “Passeio Fantasma” (91 min, doc, classificação 12 anos, 2023) em alusão ao mapa afetivo que o cineasta Kleber Mendonça Filho apresenta em seu último filme, Retratos fantasmas. Representante do Brasil no Oscar de 2024, essa obra será exibida com as acessibilidades abertas para todos os públicos, à noite, no encerramento do Festival.
Um dos momentos mais esperados do VerOuvindo é o das mostras competitivas que reúne profissionais da acessibilidade atuantes em vários estados brasileiros, experientes e iniciantes, para concorrer aos prêmios de Melhor Audiodescrição e de Melhor Tals, nas categorias: ficção, documentário e animação. O público também poderá votar, com cédulas em braile, em tinta e em fonte ampliada, para eleger a Melhor Audiodescrição e a Melhor Tals pelo Júri Popular.
Para o público infanto-juvenil, haverá a exibição do filme Pedrinho e a chuteira da sorte (44 min, animação, livre, 2018), animação da Viu Filmes, que conta a história e um menino, apaixonado por futebol, que sonha em se tornar o maior jogador do mundo. Em sua jornada, a chuteira da sorte lhe ajuda a aprimorar suas habilidades e superar obstáculos no campeonato do bairro.
“Na primeira edição, em 2014, o VerOuvindo tornou-se pioneiro no Brasil na difusão audiovisual com as acessibilidades gravadas. É um festival que produz, exibe e discute a acessibilidade no cinema, refletindo sobre a técnica e a estética da audiodescrição, da Libras e da legenda para surdos e ensurdecidos – LSE”, ressalta Liliana Tavares, diretora executiva do VerOuvindo e gestora da Com Acessibilidade Comunicacional, empresa que atua na execução de projetos de acessíveis, principalmente, no audiovisual e nas artes visuais. “É um evento que, além de promover o acesso do público com deficiência às salas de cinema, atua também na formação e no reconhecimento dos profissionais da acessibilidade no audiovisual”, complementa.
HOMENAGEADOS – O 8º Festival Verouvindo prestará uma homenagem ao professor e tradutor de Libras Alessandro Vasconcelos, e à audiodescritora e doutora em Estudos de Linguagem Larissa Costa.
A abertura oficial, no dia 29 de novembro, às 19h, contará com as palestras dos homenageados: “Relato de experiência: AD simultânea da Copa do Mundo na TV e AD gravada da novela Todas as flores, para o streaming e para a TV”, por Larissa Costa; “A importância da atuação da pessoa surda na equipe de tradução para Libras no audiovisual”, por Alessandro Vasconcelos.
Gratuito, o Festival tem incentivo do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), Fundação de Cultura Cidade do Recife, Secretaria de Cultura e Prefeitura do Recife. Premiado, em 2018 foi vencedor do Concurso de Boas Práticas da Sociedade Civil do Mercosul em Acessibilidade no Audiovisual, da Recam. No mesmo ano, recebeu o Voto de Aplauso, da Câmara dos Vereadores da Cidade do Recife, e, em 2021, recebeu o Voto de Aplauso da Assembleia Legislativa de Pernambuco.
Jornada VerOuvindo – Em paralelo ao festival, é realizada a Jornada VerOuvindo, com atividades formativas, como: cursos, oficinas, palestras e debates sobre acessibilidade comunicacional, reunindo especialistas, profissionais, estudantes e o público interessado.
A programação das apresentações de trabalhos pode ser conferida na página do Festival.
Confira a programação completa do Festival VerOuvindo:
Segunda, dia 20 de novembro | Cinema da UFPE
14h – O documentário “A Carta de Esperança de Garcia”, com duração de 105 minutos, realizado por Douglas Machado em 2023, conta a história de Esperança Garcia, a primeira advogada negra do Brasil. O filme, que conta com a participação da aclamada atriz Zezé Motta, relata o ato de coragem de Esperança, que em 6 de setembro de 1770 redigiu uma carta ao governador da Capitania, denunciando os abusos e violência sofridos por ela, sua família e outros cativos. Encontrada no Arquivo Público do Piauí em 1979 por Luiz Mott, antropólogo, essa carta se tornou um ícone de resistência nos movimentos afrodescendentes.
Domingo, dia 26 de novembro | Fundaj/Museu
19h –“Paloma”, um filme de ficção dirigido por Marcelo Gomes com duração de 104 minutos, classificado para maiores de 16 anos, narra a história de Paloma, uma mulher trans determinada a concretizar seu grande sonho: um casamento tradicional na igreja com seu namorado Zé. Apesar de trabalhar arduamente como agricultora em uma plantação de mamão para juntar dinheiro e custear a celebração, ela se depara com a recusa do padre em realizar a cerimônia, forçando-a a confrontar os preconceitos e desafios da sociedade rural. Paloma enfrenta violência, traição, discriminação e injustiça, porém sua fé permanece inabalável.
Terça-feira, dia 28 de novembro | Fundaj/Museu
9h – “Pedrinho e a Chuteira da Sorte” é uma série de animação da Viu Filmes composta por 4 episódios de 11 minutos, totalizando 44 minutos, livre, lançada em 2018. A narrativa gira em torno de Pedrinho, um jovem apaixonado por futebol, determinado a se tornar um renomado jogador. Ele é auxiliado por um artefato enigmático, a Chuteira da Sorte, que o ajuda a aprimorar suas habilidades e superar desafios no torneio local. Ao lado de seus talentosos colegas de time, Pedrinho enfrenta competições emocionantes e absorve importantes lições sobre esporte, amizade e vida. Ao longo da série, eles exploram novas técnicas de jogo e conhecem diversas pessoas, tornando-a um deleite para os entusiastas de futebol e aventura.
Quarta-feira dia 29 de novembro | Fundaj/Museu
Às 9h, a competição de filmes em Libras apresentará três filmes: “Caryocar Coriaceum” (21 min, doc, livre, 2023), dirigido por Valéria Pinheiro, Adriana Pimentel, Marcelo Paes de Carvalho. O audiovisual explora o papel das mulheres na preservação do Piqui na região da Chapada do Araripe, hoje ameaçado pela devastação da Floresta do Araripe. O documentário destaca o esforço diário dessas mulheres para garantir seu sustento através desse fruto, revelando os processos sociais envolvidos nessa prática e mostrando as histórias envolventes das personagens locais.
Outro filme em destaque é “Além da lenda: Bicho Papão”, que conta a história emocionante da Cabra Cabriola, um animal sonhador que almejava ser artista de circo. Essa narrativa exige a crença e a imaginação do espectador para se envolver na trama.
Por fim, “Luta” retrata a luta de Camila Guedes contra a burocracia e o preconceito para importar canabidiol, o único recurso capaz de controlar as convulsões do seu filho de um ano, que sofre de uma forma rara de epilepsia.
14h – Mostra competitiva de audiodescrição
Quinta-feira, dia 30 de novembro | Fundaj/Museu
14h30 – Mostra de curtas pernambucanos do Prêmio Serviço VerOuvindo de Acessibilidades (com a presença de Lia de Itamaracá). Exibição dos filmes: Recife de dentro para fora, de Kátia Mesel; Ciranda feiticeira, de Thiago Delácio; e Dorme Pretinho, de Lia Letícia.
Sexta-feira, 1º de dezembro | Fundaj/Museu
14h – Surdes, de Thays Prado
Sábado, dia 02 de dezembro | Fundaj/Museu
10h – Censura livre, de Ivan Cordeiro
10h30 – Das telas às ruas: o Recife Cinematográfico:Aula com Amanda Mansur, curadora do Festival.
11h30 – Quem me quer, de Tiago Pinheiro
16h – Passeio fantasma, com o Coletivo #CineRuaPE (excursão pelo mapa afetivo de Kleber Mendonça Filho)
19h – Premiação da Mostra Competitiva
19h30 – Retratos fantasmas, de Kleber Mendonça Filho