• Educação inclusiva enfrenta obstáculos

    Educação inclusiva enfrenta obstáculos

    O capacitismo está presente em todas as esferas sociais, principalmente na educação.

    OPINIÃO

    Artigo: Larissa Pontes

    Na segunda-feira, 09 de agosto às 21h30 estava começando mais um programa Sem Censura, na TV Brasil. O convidado da noite foi Milton Ribeiro, o Ministro da Educação, que afirmou. “Quando um aluno com deficiência é incluído em salas de aula comuns, ele não aprende e ainda ‘atrapalha’ a aprendizagem dos colegas”. Após as alegações, uma grande indignação foi causada nas pessoas com deficiência. 

    Após dez dias, o Ministro chegou ao Recife para a cerimônia de reabertura do Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, na Zona Norte. Durante a solenidade fez outra declaração atacando as pessoas com deficiência. “Nós temos, hoje, 1,3 milhão de crianças com deficiência que estudam nas escolas públicas. Desse total, 12% têm um grau de deficiência que é impossível a convivência. O que o nosso governo fez: em vez de simplesmente jogá-los dentro de uma sala de aula, pelo ‘inclusivismo’, nós estamos criando salas especiais para que essas crianças possam receber o tratamento que merecem e precisam”, afirmou o Ministro da Educação. Essas afirmações só reforçam o capacitismo que está enraizado na sociedade e são um grande retrocesso para a luta pela educação inclusiva. 

    Em 2019, o Datafolha encomendou ao Instituto Alana, uma pesquisa sobre “ O que a população brasileira pensa sobre educação inclusiva”. Foram entrevistadas 2.074 pessoas acima de 16 anos e colhidas informações de mais de 7.000 brasileiros, de 130 municípios. Segundo os dados, 86% acreditam que as escolas se tornam melhores ao incluir pessoas com deficiência. Para 76%, crianças com deficiência aprendem mais quando estudam com crianças sem deficiência. A inclusão acontece quando pessoas com deficiência e sem deficiência estão convivendo em conjunto, valorizando cada pessoa e aprendendo com as diferenças. Na pesquisa mostra que 93% das pessoas que convivem com pessoas com deficiência dizem que as escolas se tornam melhores quando há inclusão. Esses dados são de grande importância para reafirmar o quanto primordial são as escolas inclusivas. 

    Nas últimas décadas, a educação excluía as pessoas com deficiência, muitas não frequentavam escolas, eram trancadas dentro de casa, ou tinham suas matrículas recusadas. Na década de 40, foram criadas as escolas especiais para que os alunos tivessem acesso à educação, mas reforçam um sistema de segregação e não inclusivo. 

    Entretanto, na década de 90, deu-se início aos questionamentos sobre as escolas especiais e a  discussão sobre educação inclusiva. Porque o sistema educacional passou a enxergar que a deficiência não era um problema e que precisava se adaptar às características de cada aluno. Porém a política de educação inclusiva só foi formalizada em 2008, já que o percentual de alunos com deficiência incluídos em salas regulares era de 54%. Dez anos depois, chegou a 92%, com 1,2 milhão de matrículas em escolas regulares. 

    Apesar dos avanços nas estatísticas, existem grandes obstáculos para que realmente a inclusão seja efetiva. Um deles é o Capacitismo, um termo utilizado para discriminar, oprimir ou diminuir as pessoas com deficiência. Ele está presente em todas as esferas sociais, como: família, educação, ciência, mercado de trabalho, cultura e política. A sociedade antes olhar para as pessoas com deficiência como seres humanos capazes de exercerem suas competências e capacidade, olham a deficiência delas, colocam barreiras e obstáculos para que pertençam à sociedade.

    É importante que tenham debates, eventos, visibilidade, representatividade para que haja uma desconstrução de preconceitos, um grande exemplo disso são as Paralimpíadas. 

    O Brasil levou 259 atletas paralímpicos, que participaram de 20 das 22 modalidades, batendo diversos recordes olímpicos. Nessas duas semanas de paralimpíadas,  fomos capazes de não olhar para a deficiência, mas sim para as capacidades, as habilidades, e também conhecer os esportes e suas funcionalidades. O Brasil ficou entre os dez primeiros países, com total de 72 medalhas, atingindo a sétima posição. 

    Porém, quando analisamos a fundo, ainda percebemos a falta de visibilidade das Paralimpíadas. Podemos destacar vários pontos: nas Olimpíadas a federação de atletas do Brasil levou 302 atletas,  que receberam 21 medalhas em 20 dias, para as Paralimpíadas a federação levou 259 atletas, que receberam 72 medalhas em 13 dias. Um outro ponto bem crítico é o valor das medalhas, enquanto atletas nas olimpíadas receberam 250 mil nas medalhas de ouro, 150 mil nas medalhas de prata e 100 mil nas medalhas de bronze, nas Paralimpíadas chegaram a ganhar 36% a menos, levando 160 mil nas medalhas de ouro, 64 mil nas medalhas de prata e 32 mil nas medalhas de bronze.  

    Na cobertura da mídia das Olimpíadas, a Rede Globo, que é o canal responsável pela transmissão, disponibilizou o canal da TV aberta, quatro canais do Sportv, e o Globoplay. Com coberturas exclusivas e mais 840 horas de transmissões. Já nas Paralimpíadas, o canal da Tv aberta fez um compacto da abertura e de alguns jogos, o Sportv disponibilizou um canal para as coberturas que tiveram só 100 horas de transmissão. 

    A partir dessas análises vimos como as barreiras são colocadas para que as pessoas com deficiência não tenham acesso à educação, esportes e informações. Esses comportamentos da sociedade são atos excludentes e que só reforçam os preconceitos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, analisou o acesso às tecnologias da informação e comunicação, registrou que 63,1 milhões de domicílios tinham televisão com conversor para receber o sinal digital de televisão aberta, que corresponde a 89,8% dos domicílios. Já a TV por assinatura corresponde a 30,4%. Isso quer dizer que 44 milhões de brasileiros ficaram sem acesso à cobertura das paralimpíadas. 

    A representatividade é um dos primeiros passos para combater o preconceito, a partir do momento que não há visibilidade para as paralimpíadas, ou não é promovida uma educação inclusiva, estamos desvalorizando a capacidade das pessoas com deficiência e reforçando os preconceitos. Por isso é de grande relevância que a televisão aberta levante essas pautas, para que a sociedade quebre paradigmas e tenha acesso às informações.


  • Os desafios do ensino online para crianças PCD e a possível volta das aulas presenciais.

    Os desafios do ensino online para crianças PCD e a possível volta das aulas presenciais.

    Entre várias discussões levantadas nesse período de pandemia, a educação tem se tornado um tema central. Muitas dúvidas, questionamentos e posicionamentos opostos tem cercado o assunto. Essa situação está causando diversos impactos no setor. Segundo estudo feito pela Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 9,7 milhões de crianças de todo mundo vão abandonar a escola para sempre até o final de 2020. No Brasil, a volta das aulas presenciais começa a ser planejada, qual sua opinião? É seguro retornar para as escolas nesse momento?

    Pensando nisso, o Eficientes conversou com mães de crianças com deficiência para entender como foi a adaptação das aulas online e saber o que elas pensam em relação a retomada do ensino presencial. Renata Martins, é mãe do Bernardo de seis anos e conta como a família está passando pela quarentena.

    Bernardo tem Mielomeningocele e, em função disso é cadeirante. A Mielo é uma condição que afeta a formação da coluna vertebral e traz uma série de complicações físicas e de saúde.
    “Meu filho é incrível, uma criança feliz e ativa. Os tratamentos fazem total diferença no processo de desenvolvimento dele, por isso, ficar sem natação, fisioterapia e escola não é bom, porém diante da possibilidade de contágio preferimos seguir o isolamento total desde março. Somos privilegiados em ter a possibilidade de ficar em casa de forma segura, sabemos que infelizmente muitos não podem fazer isso” – Explica Renata.

    Bernardo realizando exercícios escolares. Foto: Renata Martins

    Ainda segundo Renata, seu filho gosta muito da rotina “Bernardo adora todas as suas atividades, principalmente ir para escola, ele tem um ótimo rendimento escolar e boa relação com amigos e professores. Tudo isso faz falta no cotidiano, mas a adaptação para o ensino online foi tranquila. A escola fez um esquema dinâmico através do uso de fichas, livros e vídeoaulas no Google Meet, eu consigo acompanhar todo esse processo auxiliando-o quando necessário”.

    O que a família acha sobre a possível volta das aulas presenciais? “Em nenhum momento pensamos em suspender a escola, sabemos da importância da mesma se manter, mas ainda não nos sentimos preparados e seguros em mandar nosso filho para a escola de forma presencial, e como ele se adaptou muito bem a esse novo formato então preferimos mantê-lo em casa, com as aulas à distância, evitando o risco de contaminação” – Conclui Renata.

    Cada família tem uma realidade diferente para Sabine Stark, mãe do Guilherme de dez anos o ensino remoto não está sendo fácil. “Guilherme nasceu surdo, com 1 ano de idade fez a cirurgia de Implante Coclear “A princípio pensávamos que o implante traria uma vida “normal” ao Gui, com o tempo aprendemos sobre a surdez e suas nuances. Hoje, o Gui tem a Libras como primeira língua e o normal para nós é respeitá-lo como surdo e indivíduo”.

    No início da pandemia, Sabine e Guilherme sentiram bastante dificuldade para se adaptar a nova rotina de aulas remotas. “Eu fiquei muito assustada com tudo que estava acontecendo, a escola do Gui se adaptou rapidamente às aulas remotas continuando com o conteúdo praticamente normal e eu precisava de um tempo para entender e reorganizar a nova rotina na minha cabeça. No começo ele reclamou muito porque não queria aulas em vídeo, sentia falta do contato com a professora e amigos. Foi preciso muita conversa para entender que isso seria a nova rotina sem data para acabar”.- Conta Sabine.

    Guilherme estuda em uma escola regular que tem salas voltadas ao ensino bilíngue ( libras primeira língua e português escrito como segunda língua), mas a instituição segue o ensino que é voltado para ouvintes. “Mesmo a professora sendo surda, a educação bilíngue no Brasil é muito difícil, faltam materiais, adaptações e conhecimento dos gestores. Eu estava há mais de um ano questionando várias coisas na escola, pedindo algumas mudanças, tentando mostrar as dificuldades que estávamos enfrentando com o passar dos anos. Gui está no 5º ano e o conteúdo só aumenta. Se não temos um respaldo da escola, tudo se torna mais difícil”. – Explica Sabine.

    Guilherme no aprendizados da
    Língua Brasileira de Sinais. Foto: Sabine Stark

    Na Escolas do Guilherme as aulas têm duração de 40 minutos e foram implementadas na plataforma do Google. As lições com explicações em vídeo são postadas também na plataforma, são duas tarefas por dia. Sabine fala os pontos positivos dessa dinâmica “Nesse ponto acho bom porque a questão da concentração é bem difícil assim a distância. Eu tento não sobrecarregá-lo porque sei que não vai adiantar. Ainda mais porque na Libras precisa da atenção total. Um minuto que você olha para outra coisa, quando volta para quem está sinalizando, você já perdeu muito”.

    Sabine acredita que o ensino foi prejudicado “Os danos causados vão se refletir nos próximos anos, as escolas não estavam preparadas para EAD e principalmente pensando nas crianças que demandam outros recursos e adaptações de acessibilidade”. Ela contou que não pretende retornar às aulas presenciais. “Nem agora e nem depois. Eu já avisei a escola que esse ano o Guilherme não volta para aula presencial. Não terá lei que obrigue meu filho a voltar para escola colocando ele e nossa família em risco. Estou atenta as portarias e manifestações do Governo e espero que tenhamos a opção de escolha” – Relata Sabine.

    Realmente esse assunto ainda divide opiniões. Você tem filho, filha ou parentes nessa dúvida? Qual sua opinião? Vamos permanecer atentos para observar o desenrolar de toda situação.