• Romeu Sassaki morre aos 84 anos, também conhecido como “pai da inclusão”

    Romeu Sassaki morre aos 84 anos, também conhecido como “pai da inclusão”

    Texto: Larissa Pontes / Imagem:  Everson Bressan/SMCS

    Em 1938, o mundo estava prestes a viver a segunda guerra mundial, no Brasil, Getúlio Vargas articula para golpe do estado novo por causa do “medo comunismo”. Mas nessa mesma época, nasceu Romeu Sassaki que depois de alguns anos se tornou o pai da inclusão. Sua história com a causa da pessoa com deficiência começa em 1960, quando estava na faculdade cursando Serviço Social pela Faculdade Paulista de Serviço Social, foi fazer um estágio  no Instituto de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que tinha sido instalado pela Organização das Nações Unidas com equipamentos importados.

    Com o estágio no Instituto, ganhou uma bolsa de estudos pela ONU para estudar nos EUA e na Grã Bretanha entre 1966 e 1967. Quando retornou ao Brasil em 1967, começou a realizar diversas palestras, reuniões e cursos em entidades de reabilitação e empresas. Colocando em prática e divulgando os conhecimentos que foram de grande relevância para o movimento das pessoas com deficiência, como: de que forma eram feitas as colocações em empregos, quais recursos técnicos e tecnológicos haviam, quais eram os profissionais de equipe multidisciplinar, como esses profissionais eram formados e atualizados.

    Romeu Sassaki entre 1969 e 1974 foi vice-diretor da Faculdade de Serviço Social da então Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Em 1975 administrou o Centro de Desenvolvimento de Recursos para Integração Social (CEDRIS), por meio do qual fez parte do Movimento das Pessoas com Deficiência (MDPD) através do convite a Heloísa Chagas, que nasceu em 1979. 

    Em 1980, aconteceu o primeiro encontro do movimento das pessoas com deficiência com diversas entidades importantes em Brasília, no qual a escolha do local tem significado, naquela época Brasília era cidade nova e era o centro das decisões. Precisava começar as mudanças por lá para depois difundir para o resto do país.

    Neste encontro foi discutido que antes do movimento de luta das pessoas com deficiência, existiam diversas entidades fundadas por pessoas com deficiência com o objetivo de ajudar na sobrevivência, arrecadando dinheiro, roupas, alimentos e trabalhos. Essas entidades eram só para um tipo de deficiência, como: só para cegos, só para surdos ou só quem tivesse deficiência física. 

    Sabemos que existem diversos tipos de deficiência que são importantes e  que essas entidades se unam para que o movimento tenha força. Romeu Sassaki trouxe a ideia dos Estados Unidos, o movimento de coalizão que é a união de várias forças que antes trabalhavam sozinhas, a partir daí começaram a trabalhar em conjunto. Na reunião em Brasília criaram a coalizão Pró-Federação Nacional de Entidades de Pessoas Deficientes. 

    Tanto Romeu Sassaki tinha sido bolsista da ONU como Otto Marques que foi funcionário da ONU em Nova York  então recebiam muitas informações e publicações da Organizações Unidas, sempre levam todos os materiais para as reuniões. Eles tiveram informações de que 1981 seria o ano internacional das pessoas com deficiência. A partir de 1980, eles começaram a divulgar em São Paulo e depois para todo país. 

    Neste mesmo ano, a Rede Globo entrou em contato com o movimento, porque queriam fazer umas vinhetas de 30 segundos para passar no intervalo do show de Roberto Carlos no final de ano, queriam indicações de pessoas com deficiência. Quando o movimento viu o projeto, não concordaram. Porque queriam filmar os defeitos físicos, as feridas nas pernas ou nos braços, queriam chocar a sociedade de forma a sensibilizar a sociedade. Mas os movimentos dos PCD, não concordavam com esse tipo de abordagem, não acreditavam nessa forma de sensibilizar, porque só iria reforçar a imagem de “coitadinho”. Eles queriam que os PCD fossem vistos dessa forma, querem conscientizar e informar o público a partir das suas reivindicações, para que a sociedade mude. 

    A Rede Globo não aceitou as críticas e as modificações e filmaram do mesmo jeito. Estamos em 2021, o movimento das pessoas com deficiência conquistaram muitas coisas, mas infelizmente a sociedade tem muita  visão capacitista dos PCD. Romeu Sassaki mostra a partir da sua história que a informação e conhecimento podem fazer transformações na sociedade. 

    Em 1981, o Ano internacional da pessoa com deficiência, o MDPD conseguiu que o secretário municipal de cultura Mário Chamie, autorizasse a construção de uma rampa provisória, feita de madeira, na entrada do Teatro Municipal de São Paulo. Mesmo sendo provisória, aquela rampa representou uma grande conquista, porque era a única maneira de pessoas com deficiência poderem assistir junto com todo mundo a uma apresentação do maestro Isaac Karabtchevsky.

    Em São Paulo, na Praça Roosevelt, o movimento fez uma feira de demonstrações de barreiras e acessibilidades. Construíram caminhos com degraus e desníveis, forneceram várias cadeiras de rodas para as pessoas experimentarem as dificuldades. Também mostravam a altura orelhão, de pias, do espelho o errado e qual seria o certo.   

    Também pressionaram o presidente da república João Baptista Figueiredo, que acabou criando a Comissão Nacional do Ano Internacional das Pessoas Deficientes, mas não havia nenhuma pessoa com deficiência naquela comissão.O Núcleo de Integração de Deficientes (NID) foi uma das entidades de pessoas com deficiência a exigir a inclusão de uma pessoa com deficiência na Comissão do Ano Internacional.

    Em 1987, Romeu Sassaki e os integrantes dos movimentos estavam trabalhando no âmbito nacional e tiveram uma grande participação na Constituinte de 1988, que foi marcada como primeira Constituição Federal a tratar de garantias e direitos para as pessoas com deficiência. Em 1986, o anteprojeto da constituição já estava todo escrito pela Câmara Federal e não tinham consultado o movimento das pessoas com deficiência, mostrando uma visão bem antiga e paternalista. O MDPD construiu uma comissão, fizeram diversas reuniões para fechar as propostas feitas pelo movimento para constituição. 

    Romeu Sassaki era o secretário e ficava responsável pelas as atas, Cândido Pinto de Melo foi o coordenador em São Paulo, Carlos Burle Cardoso, em Porto Alegre, e Messias Tavares de Souza foi o porta-voz do movimento no Congresso Nacional, em Brasília. Conseguiram modificar várias coisas no anteprojeto de constituição, que foi aprovado em 1988. 

    As conquistas dos PCD foram: 

    – Artigo primeiro diz que a dignidade humana é o fundamento do nosso estado, ao dizer isso o artigo engloba todos, inclusive às pessoas com deficiência que também tem direito a uma vida digna.

    – Artigo terceiro proíbe qualquer tipo de discriminação independente de qualquer característica da pessoa.

    – Criação do benefício de prestação continuada (BPC). Ele garante um salário mínimo para a pessoa com deficiência que não consegue se sustentar.

    Em alguns relatos de Romeu Sassaki em entrevista era que o movimento das pessoas com deficiência, como eram várias entidades juntas se discutiam muito sobre desmistificações sobre visão antiga, caritativa, assistencialista, que as próprias associações também tinham. 

    O movimento atuava muito em São Paulo, no dia 20 de maio de 1989 aconteceu o 1º Fórum de Pessoas com Deficiência, Romeu Sassaki relatou esses fórum foram debatidos diversos assuntos e que tudo era documentado para eles pudessem perceber e vê o quanto eles já tinham avançado nas conquistas, então foi importante para batalharem por ônibus adaptados ou acessíveis, reivindicações, eliminação de barreiras atitudinais, o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência (21 de setembro). Uma das coisas importante foi que jornalistas e mídia estavam assustados, ficaram sempre em cima do movimento, isso fez nós aprender muito e eles também. 

    Romeu Sassaki, podemos perceber que teve um papel fundamental em cada conquista do movimento da pessoa com deficiência, foi uma das primeiras pessoas a discutir sobre inclusão nas escolas e no mercado de trabalho em 1980. Já são 50 anos de luta pelo movimento na visão de Sassaki, “Houve avanços com vários ritmos de velocidade, uns mais lentos, outros mais rápidos. Mas, desde o passado até hoje, estamos sem atingir a maioria das pessoas com deficiência. Milhões de pessoas com deficiência ainda estão vivendo como “na era da caverna”, ainda estão com problemas básicos de falta de atendimento de saúde, de remédio, de cirurgia, de reabilitação, de uma muleta, de um par de óculos. Há milhões de pessoas que nem isso têm. O que aconteceu é que, ao longo do tempo, houve estagnação, paramos de brigar.”

    Uma história que serve de grande inspiração para diversas pessoas que lutam pelo movimento, que tem muitas coisas a serem conquistadas e que é possível transformar a sociedade a partir do conhecimento. 


  • Inclusão Literaturá Infantil

    Inclusão Literaturá Infantil

    Por: Letícia Mendes

    Você já leu algum livro que abordasse a temática de pessoas com deficiência? Não? Nós apresentamos para vocês algumas obras infantis com foco na inclusão de crianças. 

    Daniel no Mundo do Silêncio, do autor Walcyr Carrasco, traz a temática de um personagem que perdeu a audição aos 7 anos e de alguma forma precisa de comunicar com os pais, principalmente, com as mãos. Os pais o matriculam numa escola especializada em educação para surdos, onde Daniel aprende a Língua de Sinais (LIBRAS). Após todo processo, ele enfrenta a jornada de estudar em uma escola comum, lutando com diversas adversidades. 

        Já a obra As cores no Mundo de Lúcia, escrita por Jorge Fernando dos Santos, retrata a vida de Lúcia, menina muito inteligente e deficiente visual. Com sua sabedoria, a personagem descobre uma maneira divertida de perceber as cores, usando os 4 sentidos, a audição, o olfato e o tato. 

       O livro Serei Sereia, da autora Kely de Castro, retrata a história de Inaê, uma criança que, assim como as outras, passa por momentos de tristeza, alegria e dúvidas. Entretanto, ela tem mais um desafio pela frente, o de não poder andar. Com o apoio das mãos, Inaê compreende que, independente da sua situação, ela pode continuar crescendo e construindo sua própria história. 

       Sonhos do dia, de Claudia Werneck, traz à tona a história de uma menina que fica inconformada por não poder realizar seus desejos enquanto acordada, mas consegue quando está dormindo, em seus sonhos. Assim, ela lança a mobilização com outros colegas de sonhar acordado. Essa foi uma das primeiras obras literárias brasileiras lançada com recursos de acessibilidade, com interpretação em Libras, em braile e com audiodescrição, um exemplo de inclusão social infantil. 

       A obra literária de Marcos Ribeiro Quem disse que eu não vou conseguir? mostra várias histórias de pessoas com deficiência, trazendo relatos inspiradores e motivadores. Além disso, o livro mostra como todos são capazes de realizar suas tarefas e precisam de uma sociedade mais inclusiva e empática com essas situações. 


  • Educação inclusiva enfrenta obstáculos

    Educação inclusiva enfrenta obstáculos

    O capacitismo está presente em todas as esferas sociais, principalmente na educação.

    OPINIÃO

    Artigo: Larissa Pontes

    Na segunda-feira, 09 de agosto às 21h30 estava começando mais um programa Sem Censura, na TV Brasil. O convidado da noite foi Milton Ribeiro, o Ministro da Educação, que afirmou. “Quando um aluno com deficiência é incluído em salas de aula comuns, ele não aprende e ainda ‘atrapalha’ a aprendizagem dos colegas”. Após as alegações, uma grande indignação foi causada nas pessoas com deficiência. 

    Após dez dias, o Ministro chegou ao Recife para a cerimônia de reabertura do Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, na Zona Norte. Durante a solenidade fez outra declaração atacando as pessoas com deficiência. “Nós temos, hoje, 1,3 milhão de crianças com deficiência que estudam nas escolas públicas. Desse total, 12% têm um grau de deficiência que é impossível a convivência. O que o nosso governo fez: em vez de simplesmente jogá-los dentro de uma sala de aula, pelo ‘inclusivismo’, nós estamos criando salas especiais para que essas crianças possam receber o tratamento que merecem e precisam”, afirmou o Ministro da Educação. Essas afirmações só reforçam o capacitismo que está enraizado na sociedade e são um grande retrocesso para a luta pela educação inclusiva. 

    Em 2019, o Datafolha encomendou ao Instituto Alana, uma pesquisa sobre “ O que a população brasileira pensa sobre educação inclusiva”. Foram entrevistadas 2.074 pessoas acima de 16 anos e colhidas informações de mais de 7.000 brasileiros, de 130 municípios. Segundo os dados, 86% acreditam que as escolas se tornam melhores ao incluir pessoas com deficiência. Para 76%, crianças com deficiência aprendem mais quando estudam com crianças sem deficiência. A inclusão acontece quando pessoas com deficiência e sem deficiência estão convivendo em conjunto, valorizando cada pessoa e aprendendo com as diferenças. Na pesquisa mostra que 93% das pessoas que convivem com pessoas com deficiência dizem que as escolas se tornam melhores quando há inclusão. Esses dados são de grande importância para reafirmar o quanto primordial são as escolas inclusivas. 

    Nas últimas décadas, a educação excluía as pessoas com deficiência, muitas não frequentavam escolas, eram trancadas dentro de casa, ou tinham suas matrículas recusadas. Na década de 40, foram criadas as escolas especiais para que os alunos tivessem acesso à educação, mas reforçam um sistema de segregação e não inclusivo. 

    Entretanto, na década de 90, deu-se início aos questionamentos sobre as escolas especiais e a  discussão sobre educação inclusiva. Porque o sistema educacional passou a enxergar que a deficiência não era um problema e que precisava se adaptar às características de cada aluno. Porém a política de educação inclusiva só foi formalizada em 2008, já que o percentual de alunos com deficiência incluídos em salas regulares era de 54%. Dez anos depois, chegou a 92%, com 1,2 milhão de matrículas em escolas regulares. 

    Apesar dos avanços nas estatísticas, existem grandes obstáculos para que realmente a inclusão seja efetiva. Um deles é o Capacitismo, um termo utilizado para discriminar, oprimir ou diminuir as pessoas com deficiência. Ele está presente em todas as esferas sociais, como: família, educação, ciência, mercado de trabalho, cultura e política. A sociedade antes olhar para as pessoas com deficiência como seres humanos capazes de exercerem suas competências e capacidade, olham a deficiência delas, colocam barreiras e obstáculos para que pertençam à sociedade.

    É importante que tenham debates, eventos, visibilidade, representatividade para que haja uma desconstrução de preconceitos, um grande exemplo disso são as Paralimpíadas. 

    O Brasil levou 259 atletas paralímpicos, que participaram de 20 das 22 modalidades, batendo diversos recordes olímpicos. Nessas duas semanas de paralimpíadas,  fomos capazes de não olhar para a deficiência, mas sim para as capacidades, as habilidades, e também conhecer os esportes e suas funcionalidades. O Brasil ficou entre os dez primeiros países, com total de 72 medalhas, atingindo a sétima posição. 

    Porém, quando analisamos a fundo, ainda percebemos a falta de visibilidade das Paralimpíadas. Podemos destacar vários pontos: nas Olimpíadas a federação de atletas do Brasil levou 302 atletas,  que receberam 21 medalhas em 20 dias, para as Paralimpíadas a federação levou 259 atletas, que receberam 72 medalhas em 13 dias. Um outro ponto bem crítico é o valor das medalhas, enquanto atletas nas olimpíadas receberam 250 mil nas medalhas de ouro, 150 mil nas medalhas de prata e 100 mil nas medalhas de bronze, nas Paralimpíadas chegaram a ganhar 36% a menos, levando 160 mil nas medalhas de ouro, 64 mil nas medalhas de prata e 32 mil nas medalhas de bronze.  

    Na cobertura da mídia das Olimpíadas, a Rede Globo, que é o canal responsável pela transmissão, disponibilizou o canal da TV aberta, quatro canais do Sportv, e o Globoplay. Com coberturas exclusivas e mais 840 horas de transmissões. Já nas Paralimpíadas, o canal da Tv aberta fez um compacto da abertura e de alguns jogos, o Sportv disponibilizou um canal para as coberturas que tiveram só 100 horas de transmissão. 

    A partir dessas análises vimos como as barreiras são colocadas para que as pessoas com deficiência não tenham acesso à educação, esportes e informações. Esses comportamentos da sociedade são atos excludentes e que só reforçam os preconceitos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, analisou o acesso às tecnologias da informação e comunicação, registrou que 63,1 milhões de domicílios tinham televisão com conversor para receber o sinal digital de televisão aberta, que corresponde a 89,8% dos domicílios. Já a TV por assinatura corresponde a 30,4%. Isso quer dizer que 44 milhões de brasileiros ficaram sem acesso à cobertura das paralimpíadas. 

    A representatividade é um dos primeiros passos para combater o preconceito, a partir do momento que não há visibilidade para as paralimpíadas, ou não é promovida uma educação inclusiva, estamos desvalorizando a capacidade das pessoas com deficiência e reforçando os preconceitos. Por isso é de grande relevância que a televisão aberta levante essas pautas, para que a sociedade quebre paradigmas e tenha acesso às informações.


  • Os desafios do ensino online para crianças PCD e a possível volta das aulas presenciais.

    Os desafios do ensino online para crianças PCD e a possível volta das aulas presenciais.

    Entre várias discussões levantadas nesse período de pandemia, a educação tem se tornado um tema central. Muitas dúvidas, questionamentos e posicionamentos opostos tem cercado o assunto. Essa situação está causando diversos impactos no setor. Segundo estudo feito pela Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 9,7 milhões de crianças de todo mundo vão abandonar a escola para sempre até o final de 2020. No Brasil, a volta das aulas presenciais começa a ser planejada, qual sua opinião? É seguro retornar para as escolas nesse momento?

    Pensando nisso, o Eficientes conversou com mães de crianças com deficiência para entender como foi a adaptação das aulas online e saber o que elas pensam em relação a retomada do ensino presencial. Renata Martins, é mãe do Bernardo de seis anos e conta como a família está passando pela quarentena.

    Bernardo tem Mielomeningocele e, em função disso é cadeirante. A Mielo é uma condição que afeta a formação da coluna vertebral e traz uma série de complicações físicas e de saúde.
    “Meu filho é incrível, uma criança feliz e ativa. Os tratamentos fazem total diferença no processo de desenvolvimento dele, por isso, ficar sem natação, fisioterapia e escola não é bom, porém diante da possibilidade de contágio preferimos seguir o isolamento total desde março. Somos privilegiados em ter a possibilidade de ficar em casa de forma segura, sabemos que infelizmente muitos não podem fazer isso” – Explica Renata.

    Bernardo realizando exercícios escolares. Foto: Renata Martins

    Ainda segundo Renata, seu filho gosta muito da rotina “Bernardo adora todas as suas atividades, principalmente ir para escola, ele tem um ótimo rendimento escolar e boa relação com amigos e professores. Tudo isso faz falta no cotidiano, mas a adaptação para o ensino online foi tranquila. A escola fez um esquema dinâmico através do uso de fichas, livros e vídeoaulas no Google Meet, eu consigo acompanhar todo esse processo auxiliando-o quando necessário”.

    O que a família acha sobre a possível volta das aulas presenciais? “Em nenhum momento pensamos em suspender a escola, sabemos da importância da mesma se manter, mas ainda não nos sentimos preparados e seguros em mandar nosso filho para a escola de forma presencial, e como ele se adaptou muito bem a esse novo formato então preferimos mantê-lo em casa, com as aulas à distância, evitando o risco de contaminação” – Conclui Renata.

    Cada família tem uma realidade diferente para Sabine Stark, mãe do Guilherme de dez anos o ensino remoto não está sendo fácil. “Guilherme nasceu surdo, com 1 ano de idade fez a cirurgia de Implante Coclear “A princípio pensávamos que o implante traria uma vida “normal” ao Gui, com o tempo aprendemos sobre a surdez e suas nuances. Hoje, o Gui tem a Libras como primeira língua e o normal para nós é respeitá-lo como surdo e indivíduo”.

    No início da pandemia, Sabine e Guilherme sentiram bastante dificuldade para se adaptar a nova rotina de aulas remotas. “Eu fiquei muito assustada com tudo que estava acontecendo, a escola do Gui se adaptou rapidamente às aulas remotas continuando com o conteúdo praticamente normal e eu precisava de um tempo para entender e reorganizar a nova rotina na minha cabeça. No começo ele reclamou muito porque não queria aulas em vídeo, sentia falta do contato com a professora e amigos. Foi preciso muita conversa para entender que isso seria a nova rotina sem data para acabar”.- Conta Sabine.

    Guilherme estuda em uma escola regular que tem salas voltadas ao ensino bilíngue ( libras primeira língua e português escrito como segunda língua), mas a instituição segue o ensino que é voltado para ouvintes. “Mesmo a professora sendo surda, a educação bilíngue no Brasil é muito difícil, faltam materiais, adaptações e conhecimento dos gestores. Eu estava há mais de um ano questionando várias coisas na escola, pedindo algumas mudanças, tentando mostrar as dificuldades que estávamos enfrentando com o passar dos anos. Gui está no 5º ano e o conteúdo só aumenta. Se não temos um respaldo da escola, tudo se torna mais difícil”. – Explica Sabine.

    Guilherme no aprendizados da
    Língua Brasileira de Sinais. Foto: Sabine Stark

    Na Escolas do Guilherme as aulas têm duração de 40 minutos e foram implementadas na plataforma do Google. As lições com explicações em vídeo são postadas também na plataforma, são duas tarefas por dia. Sabine fala os pontos positivos dessa dinâmica “Nesse ponto acho bom porque a questão da concentração é bem difícil assim a distância. Eu tento não sobrecarregá-lo porque sei que não vai adiantar. Ainda mais porque na Libras precisa da atenção total. Um minuto que você olha para outra coisa, quando volta para quem está sinalizando, você já perdeu muito”.

    Sabine acredita que o ensino foi prejudicado “Os danos causados vão se refletir nos próximos anos, as escolas não estavam preparadas para EAD e principalmente pensando nas crianças que demandam outros recursos e adaptações de acessibilidade”. Ela contou que não pretende retornar às aulas presenciais. “Nem agora e nem depois. Eu já avisei a escola que esse ano o Guilherme não volta para aula presencial. Não terá lei que obrigue meu filho a voltar para escola colocando ele e nossa família em risco. Estou atenta as portarias e manifestações do Governo e espero que tenhamos a opção de escolha” – Relata Sabine.

    Realmente esse assunto ainda divide opiniões. Você tem filho, filha ou parentes nessa dúvida? Qual sua opinião? Vamos permanecer atentos para observar o desenrolar de toda situação.


  • Educação e inclusão, o exemplo do Colégio Apoio

    A escola é o primeiro passo para o mercado de trabalho. É nela que os alunos se desenvolvem no meio educacional, depois crescem e exercem uma profissão. Dentro desse segmento, o Colégio Apoio surgiu no Recife com uma proposta de ensino construtivo e não tradicional como era oferecido na maioria das escolas da cidade. A instituição foi uma das primeiras escolas particulares a olhar para as pessoas com deficiência de forma inclusiva, além de se preparar estruturalmente para receber esses alunos.

    A coordenadora e pedagoga do Colégio Apoio, Elisa Maria Araújo Moreira em entrevista ao site eficientes

    Elisa Maria Araújo Moreira é pedagoga, trabalha no Colégio Apoio há 21 anos e atualmente é coordenadora de práticas inclusivas da escola. Ela conta como tudo começou: “Em 2018 o Apoio completa 34 anos e na época de sua inauguração não era muito comum a sociedade olhar e aceitar as pessoas com deficiência, mas essa sempre foi uma preocupação nossa, mostrar que essas pessoas existem e que são capazes. Inicialmente a escola surgiu para atender especificamente esse público, mas com o crescimento nos tornamos um colégio “regular”, explica.

    A partir desse ponto, o Apoio precisou entender como trabalharia a integração entre alunos sem e com deficiência. “Acreditamos que a escola é para todos, então as pessoas com deficiência que estudam aqui são incluídas em sala de aula e podem desenvolver sua aprendizagem. Isso é positivo para eles que se sentem incluídos e veem outras pessoas com deficiência na escola e também é positivo para os alunos sem deficiência que desde crianças aprendem a conviver e respeitar as diferenças”.

    O colégio Apoio deu o pontapé inicial, porém para as pessoas com deficiência ingressarem numa escola continuou sendo complicado. A rede pública de ensino, apesar de muitas vezes não ter estrutura, não pode negar vaga a um aluno com deficiência, mas nas escolas particulares era bem diferente. Seja por falta de estrutura ou apenas por norma institucional, muitos colégios particulares não aceitavam alunos com deficiência. A advogada Walleska Maranhão é ativista dos direitos das pessoas com deficiência e conta uma situação que presenciou do preconceito dos colégios na hora de receber um aluno com deficiência. Confira o áudio:

    Transcrição completa do áudio de Walleska Maranhão

    Em 2015 as coisas começaram a mudar. A elaboração da LBI (Lei Brasileira de Inclusão), que entrou em vigor em 2 de janeiro de 2016, trouxe muitos avanços para as pessoas com deficiência. No campo educacional ficou definido que as escolas particulares são obrigadas a aceitar alunos com deficiência e também devem fazer as adaptações necessárias para receber esses estudantes. Essa conquista demonstra que a sociedade está começando a olhar com mais respeito para as pessoas com deficiência, uma vez que agora eles têm o direito de escolher onde querem estudar.

    Novamente levando em consideração que a escola é o primeiro passo para o mercado de trabalho e mostrando o exemplo do Colégio Apoio, eles também se preocupam com a forma como essa inclusão se dá. “Como empresa, nós acreditamos que a deficiência não impede a pessoa de desenvolver um bom trabalho e sempre tivemos funcionários com deficiência na equipe. Já ocorreram casos de alunos com deficiência que concluíram o ciclo educacional conosco e acabaram trabalhando aqui como “estagiários”. Atualmente, nós temos cinco pessoas com deficiência em nosso quadro de funcionários e todos eles desempenham muito bem as suas funções”, finaliza.

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