• Romeu Sassaki morre aos 84 anos, também conhecido como “pai da inclusão”

    Romeu Sassaki morre aos 84 anos, também conhecido como “pai da inclusão”

    Texto: Larissa Pontes / Imagem:  Everson Bressan/SMCS

    Em 1938, o mundo estava prestes a viver a segunda guerra mundial, no Brasil, Getúlio Vargas articula para golpe do estado novo por causa do “medo comunismo”. Mas nessa mesma época, nasceu Romeu Sassaki que depois de alguns anos se tornou o pai da inclusão. Sua história com a causa da pessoa com deficiência começa em 1960, quando estava na faculdade cursando Serviço Social pela Faculdade Paulista de Serviço Social, foi fazer um estágio  no Instituto de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que tinha sido instalado pela Organização das Nações Unidas com equipamentos importados.

    Com o estágio no Instituto, ganhou uma bolsa de estudos pela ONU para estudar nos EUA e na Grã Bretanha entre 1966 e 1967. Quando retornou ao Brasil em 1967, começou a realizar diversas palestras, reuniões e cursos em entidades de reabilitação e empresas. Colocando em prática e divulgando os conhecimentos que foram de grande relevância para o movimento das pessoas com deficiência, como: de que forma eram feitas as colocações em empregos, quais recursos técnicos e tecnológicos haviam, quais eram os profissionais de equipe multidisciplinar, como esses profissionais eram formados e atualizados.

    Romeu Sassaki entre 1969 e 1974 foi vice-diretor da Faculdade de Serviço Social da então Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Em 1975 administrou o Centro de Desenvolvimento de Recursos para Integração Social (CEDRIS), por meio do qual fez parte do Movimento das Pessoas com Deficiência (MDPD) através do convite a Heloísa Chagas, que nasceu em 1979. 

    Em 1980, aconteceu o primeiro encontro do movimento das pessoas com deficiência com diversas entidades importantes em Brasília, no qual a escolha do local tem significado, naquela época Brasília era cidade nova e era o centro das decisões. Precisava começar as mudanças por lá para depois difundir para o resto do país.

    Neste encontro foi discutido que antes do movimento de luta das pessoas com deficiência, existiam diversas entidades fundadas por pessoas com deficiência com o objetivo de ajudar na sobrevivência, arrecadando dinheiro, roupas, alimentos e trabalhos. Essas entidades eram só para um tipo de deficiência, como: só para cegos, só para surdos ou só quem tivesse deficiência física. 

    Sabemos que existem diversos tipos de deficiência que são importantes e  que essas entidades se unam para que o movimento tenha força. Romeu Sassaki trouxe a ideia dos Estados Unidos, o movimento de coalizão que é a união de várias forças que antes trabalhavam sozinhas, a partir daí começaram a trabalhar em conjunto. Na reunião em Brasília criaram a coalizão Pró-Federação Nacional de Entidades de Pessoas Deficientes. 

    Tanto Romeu Sassaki tinha sido bolsista da ONU como Otto Marques que foi funcionário da ONU em Nova York  então recebiam muitas informações e publicações da Organizações Unidas, sempre levam todos os materiais para as reuniões. Eles tiveram informações de que 1981 seria o ano internacional das pessoas com deficiência. A partir de 1980, eles começaram a divulgar em São Paulo e depois para todo país. 

    Neste mesmo ano, a Rede Globo entrou em contato com o movimento, porque queriam fazer umas vinhetas de 30 segundos para passar no intervalo do show de Roberto Carlos no final de ano, queriam indicações de pessoas com deficiência. Quando o movimento viu o projeto, não concordaram. Porque queriam filmar os defeitos físicos, as feridas nas pernas ou nos braços, queriam chocar a sociedade de forma a sensibilizar a sociedade. Mas os movimentos dos PCD, não concordavam com esse tipo de abordagem, não acreditavam nessa forma de sensibilizar, porque só iria reforçar a imagem de “coitadinho”. Eles queriam que os PCD fossem vistos dessa forma, querem conscientizar e informar o público a partir das suas reivindicações, para que a sociedade mude. 

    A Rede Globo não aceitou as críticas e as modificações e filmaram do mesmo jeito. Estamos em 2021, o movimento das pessoas com deficiência conquistaram muitas coisas, mas infelizmente a sociedade tem muita  visão capacitista dos PCD. Romeu Sassaki mostra a partir da sua história que a informação e conhecimento podem fazer transformações na sociedade. 

    Em 1981, o Ano internacional da pessoa com deficiência, o MDPD conseguiu que o secretário municipal de cultura Mário Chamie, autorizasse a construção de uma rampa provisória, feita de madeira, na entrada do Teatro Municipal de São Paulo. Mesmo sendo provisória, aquela rampa representou uma grande conquista, porque era a única maneira de pessoas com deficiência poderem assistir junto com todo mundo a uma apresentação do maestro Isaac Karabtchevsky.

    Em São Paulo, na Praça Roosevelt, o movimento fez uma feira de demonstrações de barreiras e acessibilidades. Construíram caminhos com degraus e desníveis, forneceram várias cadeiras de rodas para as pessoas experimentarem as dificuldades. Também mostravam a altura orelhão, de pias, do espelho o errado e qual seria o certo.   

    Também pressionaram o presidente da república João Baptista Figueiredo, que acabou criando a Comissão Nacional do Ano Internacional das Pessoas Deficientes, mas não havia nenhuma pessoa com deficiência naquela comissão.O Núcleo de Integração de Deficientes (NID) foi uma das entidades de pessoas com deficiência a exigir a inclusão de uma pessoa com deficiência na Comissão do Ano Internacional.

    Em 1987, Romeu Sassaki e os integrantes dos movimentos estavam trabalhando no âmbito nacional e tiveram uma grande participação na Constituinte de 1988, que foi marcada como primeira Constituição Federal a tratar de garantias e direitos para as pessoas com deficiência. Em 1986, o anteprojeto da constituição já estava todo escrito pela Câmara Federal e não tinham consultado o movimento das pessoas com deficiência, mostrando uma visão bem antiga e paternalista. O MDPD construiu uma comissão, fizeram diversas reuniões para fechar as propostas feitas pelo movimento para constituição. 

    Romeu Sassaki era o secretário e ficava responsável pelas as atas, Cândido Pinto de Melo foi o coordenador em São Paulo, Carlos Burle Cardoso, em Porto Alegre, e Messias Tavares de Souza foi o porta-voz do movimento no Congresso Nacional, em Brasília. Conseguiram modificar várias coisas no anteprojeto de constituição, que foi aprovado em 1988. 

    As conquistas dos PCD foram: 

    – Artigo primeiro diz que a dignidade humana é o fundamento do nosso estado, ao dizer isso o artigo engloba todos, inclusive às pessoas com deficiência que também tem direito a uma vida digna.

    – Artigo terceiro proíbe qualquer tipo de discriminação independente de qualquer característica da pessoa.

    – Criação do benefício de prestação continuada (BPC). Ele garante um salário mínimo para a pessoa com deficiência que não consegue se sustentar.

    Em alguns relatos de Romeu Sassaki em entrevista era que o movimento das pessoas com deficiência, como eram várias entidades juntas se discutiam muito sobre desmistificações sobre visão antiga, caritativa, assistencialista, que as próprias associações também tinham. 

    O movimento atuava muito em São Paulo, no dia 20 de maio de 1989 aconteceu o 1º Fórum de Pessoas com Deficiência, Romeu Sassaki relatou esses fórum foram debatidos diversos assuntos e que tudo era documentado para eles pudessem perceber e vê o quanto eles já tinham avançado nas conquistas, então foi importante para batalharem por ônibus adaptados ou acessíveis, reivindicações, eliminação de barreiras atitudinais, o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência (21 de setembro). Uma das coisas importante foi que jornalistas e mídia estavam assustados, ficaram sempre em cima do movimento, isso fez nós aprender muito e eles também. 

    Romeu Sassaki, podemos perceber que teve um papel fundamental em cada conquista do movimento da pessoa com deficiência, foi uma das primeiras pessoas a discutir sobre inclusão nas escolas e no mercado de trabalho em 1980. Já são 50 anos de luta pelo movimento na visão de Sassaki, “Houve avanços com vários ritmos de velocidade, uns mais lentos, outros mais rápidos. Mas, desde o passado até hoje, estamos sem atingir a maioria das pessoas com deficiência. Milhões de pessoas com deficiência ainda estão vivendo como “na era da caverna”, ainda estão com problemas básicos de falta de atendimento de saúde, de remédio, de cirurgia, de reabilitação, de uma muleta, de um par de óculos. Há milhões de pessoas que nem isso têm. O que aconteceu é que, ao longo do tempo, houve estagnação, paramos de brigar.”

    Uma história que serve de grande inspiração para diversas pessoas que lutam pelo movimento, que tem muitas coisas a serem conquistadas e que é possível transformar a sociedade a partir do conhecimento. 


  • Papo Eficiente: Vamos mudar o mundo?

    Papo Eficiente: Vamos mudar o mundo?

    Texto: Yuri Euzébio (Colaborador) | Imagem: Larissa Pontes

    Continuando com nosso Papo Eficiente, a conversa dessa vez foi com as representantes do grupo Talento Incluir e da VouSer Acessibilidade. O papo começou centrado nas histórias das iniciativas e suas atuações, além de se estender sobre artes, acessibilidade e consultorias.
    Nessa segunda live da série, tivemos a representante do grupo Talento Incluir: Katya Hemelrijk, formada em Administração de Empresas e PNL, tem especialização em Neurociência do Consumo e certificada como Coach Internacional pelo International Coaching Community; e Andreza Nóbrega, coordenadora da VouSer Acessibilidade e idealizadora do Encontro de Acessibilidade Comunicacional em Pernambuco.
    No bate-papo, mediado pela fundadora do Eficientes Larissa Pontes, Katya explicou que a Talento Incluir é uma consultoria que trabalha a empregabilidade da pessoa com deficiência. “A Talento Incluir tem o propósito de trazer equidade nas relações humanas através da equidade de empregabilidade das pessoas com deficiência”, disse. De acordo com Hemelrijk, a ideia é levar informação às empresas para que sejam criadas oportunidades para pessoas com deficiência mostrarem seu potencial no mercado de trabalho.
    Já Nóbrega explicou os projetos artísticos da VouSer Acessibilidade e a nova fase do projeto. Nóbrega esclareceu que, enquanto atuante na área de acessibilidade, a VouSer enfoca no campo da arte, cultura e educação. “Ainda que façamos trabalhos e projetos em outros campos temáticos, o nosso foco maior, hoje, é na potencialização, no surgimento de novos artistas, no protagonismo e na representatividade das pessoas com deficiência também nas artes”, revelou.
    Entre outros assuntos, durante a conversa foram abordados as dificuldades de acessibilidade em ambientes públicos das cidades, os maiores desafios dos projetos, a luta por melhores condições para as pessoas com deficiência e as maiores transformações que os grupos possibilitam na vida das pessoas. A conversa, na íntegra, está disponível na página do Instagram dos Eficientes e conta com tradução simultânea em Libras.


  • Inclusão Literaturá Infantil

    Inclusão Literaturá Infantil

    Por: Letícia Mendes

    Você já leu algum livro que abordasse a temática de pessoas com deficiência? Não? Nós apresentamos para vocês algumas obras infantis com foco na inclusão de crianças. 

    Daniel no Mundo do Silêncio, do autor Walcyr Carrasco, traz a temática de um personagem que perdeu a audição aos 7 anos e de alguma forma precisa de comunicar com os pais, principalmente, com as mãos. Os pais o matriculam numa escola especializada em educação para surdos, onde Daniel aprende a Língua de Sinais (LIBRAS). Após todo processo, ele enfrenta a jornada de estudar em uma escola comum, lutando com diversas adversidades. 

        Já a obra As cores no Mundo de Lúcia, escrita por Jorge Fernando dos Santos, retrata a vida de Lúcia, menina muito inteligente e deficiente visual. Com sua sabedoria, a personagem descobre uma maneira divertida de perceber as cores, usando os 4 sentidos, a audição, o olfato e o tato. 

       O livro Serei Sereia, da autora Kely de Castro, retrata a história de Inaê, uma criança que, assim como as outras, passa por momentos de tristeza, alegria e dúvidas. Entretanto, ela tem mais um desafio pela frente, o de não poder andar. Com o apoio das mãos, Inaê compreende que, independente da sua situação, ela pode continuar crescendo e construindo sua própria história. 

       Sonhos do dia, de Claudia Werneck, traz à tona a história de uma menina que fica inconformada por não poder realizar seus desejos enquanto acordada, mas consegue quando está dormindo, em seus sonhos. Assim, ela lança a mobilização com outros colegas de sonhar acordado. Essa foi uma das primeiras obras literárias brasileiras lançada com recursos de acessibilidade, com interpretação em Libras, em braile e com audiodescrição, um exemplo de inclusão social infantil. 

       A obra literária de Marcos Ribeiro Quem disse que eu não vou conseguir? mostra várias histórias de pessoas com deficiência, trazendo relatos inspiradores e motivadores. Além disso, o livro mostra como todos são capazes de realizar suas tarefas e precisam de uma sociedade mais inclusiva e empática com essas situações. 


  • Conheçam 5 recursos de Tecnologia assistiva

    Conheçam 5 recursos de Tecnologia assistiva

    Por: Letícia Mendes

    Com o avanço tecnológico, certas demandas no cotidiano das pessoas com deficiência foram levadas à tona, o que chamou atenção para recursos básicos que permitissem o melhor desenvolvimento autônomo para essa população. Dessa forma, foram criadas tecnologias que são chamadas de assistivas, com o intuito de criar equipamentos, métodos ou qualquer solução que tenha como objetivo ajudar na reabilitação de pessoas com deficiência. Portanto, seguem algumas das novas tecnologias que proporcionam maior independência e autonomia. 

    TIX : O chamado teclado inteligente multifuncional, o TIX tem como objetivo proporcionar qualquer tipo de ação em aparelhos tecnológicos, como smartphone, tablet e computador com apenas 11 teclas que são sensíveis ao toque, ajudando assim na funcionalidade de pessoas com deficiência motora. Para isso, o TIX facilita a digitação com o acionamento das teclas iconográficas, completando as palavras de forma inteligente e tem como recurso o uso de sinais de acentuação, pontuação e símbolos. Além disso, o aparelho contém teclas grandes, bem espaçadas e sensíveis ao toque, atingindo um público com deficiências como amputações, paralisias e limitações de movimento. Assim, com suas multifunções, o TIX permite também o uso em atividades pedagógicas de ambientes escolares com crianças que precisam desse auxílio, fornecendo para o estudante autonomia para realizar atividades no colégio. Diferente de alguns produtos comercializados, o teclado TIX é produzido e desenvolvido no Brasil, trazendo assim maior atenção para sua implantação em diversos pontos no país. 

    (Imagem do site TIX LIFE)

    OrCam : Especializada com o objetivo de trazer soluções para pessoas cegas ou com baixa visão, a OrCam traz um dispositivo em formato de óculos que possui inteligência artificial, capturando imagens que estão em volta do usuário, transformando-as em sons e, de forma adaptada, descrevendo detalhadamente o espaço real. Além disso, o dispositivo faz o mesmo com os livros, transformando suas páginas em áudio. Através disso, ela traz ao usuário uma ampla experiência na vivência do ambiente por onde passa, possibilitando diferentes sensações, sentimentos e emoções, por conta de sua imaginação e audição.

    Um óculos preto retangular e ao lado direito tem um capturador de imagens.
    (Imagem do site TIX LIFE)

    Kit Livre : No Brasil, com o baixo investimento de acessibilidade para pessoas com deficiência pelas ruas de cidades, a rotina de cadeirantes se torna árdua e angustiante. Por conta dessa problemática, a empresa Kit Livre, através de recursos tecnológicos, transforma cadeiras de rodas usuais em triciclos motorizados e elétricos. Além de ser utilizado no cotidiano, ele permite a prática de atividades esportivas e o lazer, podendo ser utilizado em áreas de diferentes níveis e terra, grama, asfalto, etc. O produto pode ser adquirido através da compra ou aluguel. Entretanto, por ser uma empresa privada, o custo para usufruir do equipamento é mais elevado.

    O Mestre em Fisioterapia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Luís Mendes comenta sobre a funcionalidade da cadeira elétrica da Kit Livre: “Do ponto de vista da funcionalidade, o triciclo elétrico facilita as atividades de vida diárias para pacientes cadeirantes, principalmente, paciente que apresentam dificuldade parcial ou total ao tocar a cadeira. Além disso, promove uma maior inclusão do paciente no contexto e participação perante a sociedade”.

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    (Imagem do site TIX LIFE)

    A-bLinX: Permitindo a realização de tarefas com o piscar dos olhos, o a-blinX funciona como um acionador e controlador de dispositivos digitais. Ele tem como objetivo o auxílio a pessoas que tiveram complicações e não possuem o movimento motor, mexendo apenas as pálpebras. Dessa forma, o aparelho estimula a comunicação do paciente e permite o melhor desenvolvimento em tarefas cotidianas, como as escolares. O a-bLinX possui uma interação com o Teclado Inteligente Multifuncional, o TIX, através de dispositivos tecnológicos. O sensor do óculos fica posicionado e capta o piscar dos olhos do usuário, transformando-o em um comando e traduzindo a mensagem de acordo com as configurações. 

    SENSOR DE PISCADELAS A-BLINX ********************************************************** Capta o piscar dos olhos para escrever no app TelepatiX ou controlar computadores pelo TiX. _________________________ CLIQUE PARA MAIS DETALHES
    (Imagem do site TIX LIFE)

    Tobii: com o intuito de proporcionar melhor integração entre pacientes e equipes médicas, a Tobii cria soluções assistivas que integram pessoas com deficiência nas suas atividades cotidianas. Com a tecnologia, a comunicação de pessoas que apresentam limitação com a fala fica mais prática por meio do uso de aplicativos e equipamentos avançados. Assim, a empresa também desenvolve computadores, tablets e dispositivos acessíveis para o manuseio de pessoas com deficiência. 

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    (Imagem do site TIX LIFE)


  • Pessoas com deficiência apontam falta de acessibilidade no Lolla

    Pessoas com deficiência apontam falta de acessibilidade no Lolla

    No mundo contemporâneo, os eventos e festivais reuniam diversas pessoas que promovem um intercâmbio cultural entre elas, por estilo musicais, artistas, pinturas, danças e outras expressões, existem vários detalhes que precisam ser observados na hora de realizar. Um deles é na acessibilidade, para as pessoas com deficiência, essa discussão precisa se ampliar para que a sociedade reflita e perceba o quanto é importante existirem espaços inclusivos e acessíveis para que as pessoas com deficiência tenham o direito de circular livremente e serem respeitados. No mês anterior, tivemos o Lollaplazooa que é dos maiores festivais de música do país, que reuniu mais 300 mil pessoas durante três dias, mas diversas pessoas com deficiência que foram para o festival relataram a falta de acessibilidade no evento.

    A jornalista e criadora de conteúdo, Maria Paula, 28 anos, relatou as suas experiências positivas e negativas durante o festival. Ela tem uma doença genética, nunca diagnosticada que se manifestou quando era criança com três anos, mas quando chegou na adolescência passou a usar a cadeiras de rodas. Com seu crescimento profissional como a primeira fotografa cadeirante a se consolidar no mercado brasileiro, também é modelo, atriz e ativista da causa da pessoa com deficiência, foi convidada por uma das marcas patrocinadoras para está no espaço vip. “ Fui muito bem recebida, com transporte acessível para eu ir e voltar no evento, no espaço vip tinha todo o acesso com rampas, elevadores funcionando e banheiros acessíveis”, afirma Maria.  

    Mas um das maiores preocupações de maria ao Lollapalooza era sobre a questões de acessibilidade, principalmente nos banheiros. “Então quando cheguei lá nesse espaço oferecido tinha toda acessibilidade, fiquei mais tranquila. Mas o evento não é só espaço vip, é um festival de música com mais de 20 atrações acontecendo vários artistas que eu amo, não queria ficar trancada no espaço vip, queria vivenciar o festival,” afirma Maria

    Mas a experiência de vivenciar o festival fora do espaço vip, ocorrem vários problemas pela falta de acessibilidade e Maria só conseguiu durante um dia inteiro assistir ao único show. “ O show de jonga foi único show que eu consegui ver, a distância de um palco para o outro é muito longa, também do palco para espaço vip muito longa, o local tem vários desníveis. No domingo também choveu e com isso ficou muita lama. O palco Ônix era impossível transitar e a produção estava zero preparada,” reclama a jornalista. 

    Maria cita vários erros da produção na parte de acessibilidade do festival, a área PCD (pessoa com deficiência) não tinha uma boa visibilidade para o palco, as pessoas ficavam assistindo através do telões os shows, a produção e as pessoas que trabalhavam no festival não sabiam passar informações, Maria e seu namorado chegaram a perguntar qual era o melhor caminho para chegar perto do palco e ninguém sabia informar e acabaram se deparando com escadas. “ A gente trombou com três lances de escadas, o bombeiro se prontificou em ajudar, eu e meu namorado. Quando chegamos lá em cima uma pessoa da produção solicitou um carrinho de golfe, ficamos esperando lá mais de horas o carrinho que nunca chegava,  desistimos de esperar e seguimos porque estava perto do show e estava começando a chover. Quando estamos indo para perto do palco, vimos vários artista e influenciadores utilizando o carinhos de golfe destinado para as pessoas com deficiência”.

    A jornalista também enfrentou problema na hora de sair do show. “Na saída do show de djonga para voltar para o espaço vip, nós víamos que tinha um espaço mais fácil pela área onde passava os carros e a produção quis impedir a gente de ir por ali. Então argumentamos que seria mais fácil o deslocamento. E aí o cara da organização do festival falou assim, olha você quer ir por aí então por sua conta em risco”. 

    Maria ficou se questionando se acontece algo com ela naquele percurso, não tinha importância? Também percebeu não tinha banheiros acessíveis fora do espaço vip e outra pessoas com deficiência que não tem o privilégio de esta em espaços vip? O que passaram para está naquele festival com falta de acessibilidade?

    Na divulgação do festival Lollapalooza Brasil, o marketing feito sobre acessibilidade contavam com vários serviços e dispositivos, como: acesso pcd pelo portão 7, área pcd com plataformas elevadas nos quartos palcos para assistir aos shows, carinho de golfe para fazer o transporte do portão 7 até o festival, interpretes de libras em cada plataforma elevada das pessoas com deficiência que fica na área dos palcos, áudio descrições através de um equipamento de transmissão que serão distribuídos por recepcionistas e um kit livre que é um equipamento motorizado que possui a função de transformar a cadeiras de rodas em um triciclo motorizado elétrico para locomoção nas dependências do autódromo de Interlagos.

    O festival trabalhou a informação que teria acessibilidade, chamando o público a também vivenciar a experiência do festival, mas, na prática, não aconteceu e essas situações sobre falta de acessibilidade relatadas são recorrentes em eventos e até no dia-a-dia. No Brasil, existem 45 milhões de pessoas com deficiência, representando 23% da população e acessibilidade é de extrema importância para garantir o acesso e a segurança. 

    A influenciadora digital, Giovana Massera, 25 anos, estudante de moda, modelo e influenciadora digital também conhecida por Toranja mecânica, também foi convidada para está Lollapalooza e acabou sofrendo com falta de acessibilidade colocando sua saúde em risco. “ Quando eu cheguei de van, o motorista não tinha informação e deixou a gente na entrada perto do palco Adidas, nessa entrada não tinha nenhuma ou estande para dar informações. Inclusive também não tinha o posto para pessoas deficientes. Esse posto ficava na outra entrada que estava do outro lado do autódromo, então eu tive que atravessar todo Autódromo para achar exposto e ter acesso às cadeiras, me fizeram subir várias escadas, pegar caminho errado e fazendo tudo isso a pé”. 

    Giovana tem Lúpus e a doença foi agressiva no seu corpo, com isso desde 12 anos lida com alguma limitações, para se locomover utilizar uma bengala e não pode andar longas distâncias. Quando conseguiu chegar no local não estavam disponibilizando os carrinhos de golfe, mas conseguiu pegar kit livre que era triciclo motorizado elétrico, que também não era apropriado para utilizar tem terrenos com muito desníveis, pode gerar riscos de acidentes. “ O triciclo elétrico estava com problema na ré e bateria que quase queimou a minha coxa. A cadeira atolava na lama e não havia bombeiros por perto para ajudar, então minha irmã tinha que empurrar sozinha, às vezes apareciam pessoas ao redor que disponibilizava para ajudar. Devido aos barrancos eu quase capotei com a cadeira e ela atolou na lama. Eu chorava de dor, de cansaço, desespero e não conseguia pisar no chão devido às dores”. 

    A sua experiência no Lollapalooza também com muito dificuldade devia a falta de acessibilidade, só conseguiu assistir um show, pontuou diversas pontos que festival deve melhora como: postos para as pessoas com deficiência em todas as entradas, cadeiras de rodas sem defeitos, carinhos de golfe funcionando para ir aos palcos, liberassem as parte cimentadas atrás do palco para quem está de cadeira ou simulassem uma estrada para cadeiras de rodas, banheiros maiores para pessoas com deficiência, treinassem a equipe de funcionários e orientassem melhor os bombeiros. 

    A falta de acessibilidade nos eventos está ligada ao Capacitismo estrutural que limita o direito ao acesso das pessoas com deficiência. A sociedade tem a concepção que as pessoas com deficiência vivem reclusa em casa, que não estudam, nem trabalham e também não saem para divertir. Atualmente, as pessoas com deficiência representam um 1% no mercado de trabalho formal, isso significa também o quanto é difícil do ponto vista poder aquisitivo da população com deficiência está presentes em eventos privados de custos elevados. 

    Por isso é tão importante trabalhos como da Maria e Giovana como influenciadoras digitais, para que as pessoas com deficiência sejam representadas e falem suas vivência para possamos transforma a sociedade mais inclusiva. “É de extrema importância que a gente ocupe todos os espaços, para que as pessoas entendam que nós existimos e temos vida ativa, que nós realizamos sonhos,  namoramos, trabalhamos, divertimos e também continuar se comunicando” afirma Maria paula. 


  • Turismo Acessível: Conheça 2 lugares no Recife

    Turismo Acessível: Conheça 2 lugares no Recife

    A acessibilidade, cada vez mais, tem sido pauta em diversos debates na sociedade brasileira. Há o entendimento da necessidade de promover oportunidades iguais a todos cidadãos. Em equipamentos culturais, a falta de investimento em prol do acesso universal à cultura ainda é uma barreira que pessoas com alguma deficiência (PcDs) têm de lidar diariamente. Em Recife, essa realidade não é diferente. Ainda assim, existem espaços culturais para visita e lazer turísticos adequados às pessoas com alguma deficiência. Confira abaixo 3 indicações:

    Cinemas
    Os cinemas saem na frente com relação à acessibilidade motora. Todas as salas de cinema da cidade, com exceção do Cineteatro Apolo, contam com espaços para cadeirantes. Um festival de filmes com acessibilidade, o VerOuvindo, acontece anualmente em Recife, geralmente no fim do ano.

    Museu do Estado
    Aberto de terça a sexta-feira, das 9h às 17h; e aos fins de semana, das 14h às 17h. Entrada: R$ 5. Avenida Rui Barbosa, 960, Graças. O espaço apresenta rampas de acesso na calçada, na entrada e em todos os desníveis. Há um elevador disponível em um dos prédios. Embora não haja sinalização adequada, o museu dispõe de um livro em braile sobre o prédio histórico. Em breve, será criado um mapa do local em braile. Ele também mantém um banheiro para usuários de cadeira de rodas.

    Caixa Cultural Recife
    O local conta com três galerias de exposições, um teatro com capacidade para 202 espectadores e salas de oficina e dança. Aberto de terça-feira a domingo, das 12h às 20h. Entrada gratuita. Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife. O ambiente possui rampas de acesso na calçada, pela Rua do Bom Jesus, na entrada e em todos os desníveis. Apresenta também elevador, audiodescrição e Libras em algumas exposições e espetáculos e banheiro adaptado para usuários de cadeira de rodas.


  • Papo Eficiente: Vamos mudar o mundo?

    Papo Eficiente: Vamos mudar o mundo?

    Texto: Yuri Euzébio (Colaborador) | Imagem: Larissa Pontes

    Iniciando a 3° edição do Papo Eficiente, recebemos representantes de quatro iniciativas que abordam a causa da pessoa com deficiência. Essa edição do projeto traz, em uma série de encontros ao vivo, algumas iniciativas que abordam a inclusão da pessoa com deficiente em um papo para esclarecer suas ações e história.

    Essa primeira leva de encontros foi dividida em dois momentos: No primeiro, a mediadora Larissa Pontes reuniu o cineasta e estudante de Rádio e TV Emmanuel Castro, 34, militante pela diversidade e cofundador do Vale PCD (@pcdvale) com o jornalista Rafael Ferraz, 37, criador da página Jornalista Inclusivo no facebook, em 2017, e editor chefe do portal Jornalista Inclusivo.

    Rafael explicou que o Jornalista Inclusivo surgiu da sua busca por informações sobre o tema quando ficou tetraplégico, em 2011, e de uma percepção da carência de espaço para esse assunto. “Era uma época em que as redes sociais estavam começando a crescer, mas as informações não eram tão fidedignas, então eu, com meu olhar jornalístico, entendia que toda a pesquisa que tinha feito ao longo dos anos necessitava de um compartilhamento, então no facebook eu criei a página onde compartilhava matérias de sites mais confiáveis”, explicou. Durante a pandemia, a página virou site, no ar há um ano.

    Já o Vale PCD surgiu de uma observação de Emmanuel da ausência das pessoas com a deficiência em espaços de lazer. “A partir de 2016, eu saía muito pras baladas, festas, bares e não via muita gente com deficiência nesses espaços. Eu sentia muita falta, porque eu via gente de todo tipo, menos pessoas com deficiência, e o Vale PCD surge dessa ausência. Quando eu conheci Priscila, ela tem nanismo, nós saíamos muito e isso também incomodava ela”, disse. “Quando fomos saber o porquê disso, descobrimos que havia falta de informação sobre a acessibilidade dos locais, então foi aí que resolvemos criar o projeto”, completou.


    Durante a conversa, tanto Rafael quanto Emmanuel mostraram incômodo com as abordagens da mídia tradicional às pautas da pessoa com deficiência. E relataram como os trabalhos deles impactaram na vida das pessoas e as mudanças na sociedade ao longo dos anos.


    No segundo momento da live, a mediadora recebeu Elizabete de Lima, 25, formada em Serviço Social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Pós-graduada em políticas sociais com ênfase na família pela Faculdade de Tecnologia do Vale do Ivaí (FATEC), representando o Nanismo Brasil, e Andressa Linhares, que se formou em Relações Públicas na Universidade Federal do Maranhão(UFMA) e Fundadora do Comunica PCD, que foi criado em 2020.


    O Comunica PCD surgiu de uma pesquisa realizada por Andressa sobre a falta de comunicação na sua universidade entre as pessoas com deficiência e para as pessoas com deficiência. O projeto rompeu a bolha da universidade e, atualmente, é referência no meio digital. Já Elizabete explicou o contexto do surgimento do Nanismo Brasil e os desafios de representar a pessoa com nanismo. A conversa, na íntegra, está disponível na página do Instagram dos Eficientes e conta com tradução simultânea em Libras.

    Confira o Papo Eficiente completo no nosso Instagram (@eficientes_) !

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  • Conheça três artistas com deficiência

    Conheça três artistas com deficiência

    Arte e cultura são direitos garantidos das pessoas com deficiência pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que está inserida dentro da Constituição Federal. Apesar disso, a carência de espaços culturais com acessibilidade, a ausência de iniciativas públicas para fomentar a acessibilidade, a desinformação e o desinteresse de iniciativas públicas e/ou privadas dificultam o acesso e as produções para as pessoas com deficiência. Deste modo, uma parcela importante deste grupo encontra limitações que as impede de se engajar culturalmente e contribuir diretamente para a efetiva inclusão.


    Medidas simples como a criação e o desenvolvimento de políticas públicas, o investimento em acessibilidade, a ação de iniciativas privadas e o consumo das produções dos artistas com deficiência são formas de democratizar o circuito cultural.


    Reflita: quantos artistas com deficiência você conhece, acompanha ou investe? Pensando nisso, preparamos uma lista com artistas brasileiros para você conhecer:


    Emílio Figueira
    Emílio é escritor e cientista, e já publicou 74 livros e escreveu outros 76. O autor tem paralisia cerebral, causada por uma asfixia durante o parto. O seu primeiro livro – um compilado com 56 poesias românticas – foi publicado quando tinha 16 anos.


    Hebert Vianna
    Vocalista, guitarrista e principal compositor do grupo Os Paralamas do Sucesso, um dos grupos-base do rock brasileiro, Herbert Vianna sofreu um acidente aéreo no dia 4 de fevereiro de 2001, em Mangaratiba, RJ, quando o ultraleve que pilotava caiu no mar, após uma tentativa de executar um looping. Ele estava acompanhado de sua mulher, Lucy, que morreu no acidente. O músico ficou internado durante 44 dias, parte deles em estado de coma, e ficou paraplégico, além de perder parcialmente a memória. Mesmo após o acidente, o líder da banda retomou a sua carreira e continua compondo e cantando com seus amigos dos Paralamas.


    Ronaldo Cupertino da Silva
    A arte na vida de Ronaldo Cupertino surgiu após um acidente sofrido ao mergulhar nas águas rasas de um riacho. Ele ficou tetraplégico, em 1992. Depois de alguns anos, começou a pintar e escrever com a boca, e não parou mais. Assim, o artista se inspira nas formas da natureza e na utilização de cores em tinta para criar as suas obras.


  • História e conquistas da Língua Brasileira de Sinais

    História e conquistas da Língua Brasileira de Sinais

    Por muito tempo, pessoas surdas foram excluídas dos ambientes educacionais. Foi apenas com o Abade de L’Épée que esse cenário mudou. Através de um destaque maior à língua gestual, de L’Épée fez com que o ensino alcançasse mais do que apenas alguns nobres e respeitasse as características dos não-oralizados.

    No Brasil, foi graças a Dom Pedro II que a educação dos surdos teve o seu início. Por conta de seu neto surdo, o imperador convidou o francês Eduard Huet, surdo, para ensinar no país. Em 1857, Eduard veio ao Brasil e fundou aquilo que viria a ser conhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos – o famoso INES.

    A Língua Brasileira de Sinais, popularmente conhecida como Libras, foi criada em conjunto com o INES. Sua base tem origem na Língua Francesa de Sinais e também em gestos já usados cotidianamente no Brasil. 

    Apesar de existir há muito tempo, muitos ainda acreditam que a Libras é uma versão gestual da língua portuguesa. Ela, assim como as outras línguas de sinais, possui gramática, vocabulário e até sotaque próprios. Atualmente, existem mais de 200 línguas de sinais utilizadas ao redor do mundo e cada uma possui suas próprias particularidades e regras!

    Em 1880,  em um congresso sobre surdez em Milão, foi proibido o uso das línguas de sinais, por acreditarem que a oralização faria com que os surdos tivessem uma maior integração na sociedade. Essa ideia continuou sendo defendida por cerca de 100 anos, e, apesar disso, os não-ouvintes continuaram a se comunicar por sinais.

    Em 1993, a comunidade surda buscava um projeto de lei que regulamentasse o idioma no Brasil. Mas apenas em 2002 que a Língua Brasileira de Sinais foi finalmente reconhecida como uma língua no Brasil. Essa demora reflete o preconceito que muitas vezes fica velado na sociedade. 

    Desde que a Libras foi reconhecida como uma língua oficial, a comunidade surda vem conquistando mais direitos, como a lei que determina o uso de recursos visuais e legendas nas propagandas oficiais do governo, a instituição do Dia Nacional do Surdo e a Lei Brasileira de Inclusão.

    Mesmo com essas conquistas, as línguas de sinais são pouco conhecidas pelas pessoas ouvintes. Para mudar essa realidade, é preciso que haja uma maior conscientização e uma busca daqueles que ouvem por entender as vivências e as realidades dos surdos que os cercam. 


  • Educação inclusiva enfrenta obstáculos

    Educação inclusiva enfrenta obstáculos

    O capacitismo está presente em todas as esferas sociais, principalmente na educação.

    OPINIÃO

    Artigo: Larissa Pontes

    Na segunda-feira, 09 de agosto às 21h30 estava começando mais um programa Sem Censura, na TV Brasil. O convidado da noite foi Milton Ribeiro, o Ministro da Educação, que afirmou. “Quando um aluno com deficiência é incluído em salas de aula comuns, ele não aprende e ainda ‘atrapalha’ a aprendizagem dos colegas”. Após as alegações, uma grande indignação foi causada nas pessoas com deficiência. 

    Após dez dias, o Ministro chegou ao Recife para a cerimônia de reabertura do Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, na Zona Norte. Durante a solenidade fez outra declaração atacando as pessoas com deficiência. “Nós temos, hoje, 1,3 milhão de crianças com deficiência que estudam nas escolas públicas. Desse total, 12% têm um grau de deficiência que é impossível a convivência. O que o nosso governo fez: em vez de simplesmente jogá-los dentro de uma sala de aula, pelo ‘inclusivismo’, nós estamos criando salas especiais para que essas crianças possam receber o tratamento que merecem e precisam”, afirmou o Ministro da Educação. Essas afirmações só reforçam o capacitismo que está enraizado na sociedade e são um grande retrocesso para a luta pela educação inclusiva. 

    Em 2019, o Datafolha encomendou ao Instituto Alana, uma pesquisa sobre “ O que a população brasileira pensa sobre educação inclusiva”. Foram entrevistadas 2.074 pessoas acima de 16 anos e colhidas informações de mais de 7.000 brasileiros, de 130 municípios. Segundo os dados, 86% acreditam que as escolas se tornam melhores ao incluir pessoas com deficiência. Para 76%, crianças com deficiência aprendem mais quando estudam com crianças sem deficiência. A inclusão acontece quando pessoas com deficiência e sem deficiência estão convivendo em conjunto, valorizando cada pessoa e aprendendo com as diferenças. Na pesquisa mostra que 93% das pessoas que convivem com pessoas com deficiência dizem que as escolas se tornam melhores quando há inclusão. Esses dados são de grande importância para reafirmar o quanto primordial são as escolas inclusivas. 

    Nas últimas décadas, a educação excluía as pessoas com deficiência, muitas não frequentavam escolas, eram trancadas dentro de casa, ou tinham suas matrículas recusadas. Na década de 40, foram criadas as escolas especiais para que os alunos tivessem acesso à educação, mas reforçam um sistema de segregação e não inclusivo. 

    Entretanto, na década de 90, deu-se início aos questionamentos sobre as escolas especiais e a  discussão sobre educação inclusiva. Porque o sistema educacional passou a enxergar que a deficiência não era um problema e que precisava se adaptar às características de cada aluno. Porém a política de educação inclusiva só foi formalizada em 2008, já que o percentual de alunos com deficiência incluídos em salas regulares era de 54%. Dez anos depois, chegou a 92%, com 1,2 milhão de matrículas em escolas regulares. 

    Apesar dos avanços nas estatísticas, existem grandes obstáculos para que realmente a inclusão seja efetiva. Um deles é o Capacitismo, um termo utilizado para discriminar, oprimir ou diminuir as pessoas com deficiência. Ele está presente em todas as esferas sociais, como: família, educação, ciência, mercado de trabalho, cultura e política. A sociedade antes olhar para as pessoas com deficiência como seres humanos capazes de exercerem suas competências e capacidade, olham a deficiência delas, colocam barreiras e obstáculos para que pertençam à sociedade.

    É importante que tenham debates, eventos, visibilidade, representatividade para que haja uma desconstrução de preconceitos, um grande exemplo disso são as Paralimpíadas. 

    O Brasil levou 259 atletas paralímpicos, que participaram de 20 das 22 modalidades, batendo diversos recordes olímpicos. Nessas duas semanas de paralimpíadas,  fomos capazes de não olhar para a deficiência, mas sim para as capacidades, as habilidades, e também conhecer os esportes e suas funcionalidades. O Brasil ficou entre os dez primeiros países, com total de 72 medalhas, atingindo a sétima posição. 

    Porém, quando analisamos a fundo, ainda percebemos a falta de visibilidade das Paralimpíadas. Podemos destacar vários pontos: nas Olimpíadas a federação de atletas do Brasil levou 302 atletas,  que receberam 21 medalhas em 20 dias, para as Paralimpíadas a federação levou 259 atletas, que receberam 72 medalhas em 13 dias. Um outro ponto bem crítico é o valor das medalhas, enquanto atletas nas olimpíadas receberam 250 mil nas medalhas de ouro, 150 mil nas medalhas de prata e 100 mil nas medalhas de bronze, nas Paralimpíadas chegaram a ganhar 36% a menos, levando 160 mil nas medalhas de ouro, 64 mil nas medalhas de prata e 32 mil nas medalhas de bronze.  

    Na cobertura da mídia das Olimpíadas, a Rede Globo, que é o canal responsável pela transmissão, disponibilizou o canal da TV aberta, quatro canais do Sportv, e o Globoplay. Com coberturas exclusivas e mais 840 horas de transmissões. Já nas Paralimpíadas, o canal da Tv aberta fez um compacto da abertura e de alguns jogos, o Sportv disponibilizou um canal para as coberturas que tiveram só 100 horas de transmissão. 

    A partir dessas análises vimos como as barreiras são colocadas para que as pessoas com deficiência não tenham acesso à educação, esportes e informações. Esses comportamentos da sociedade são atos excludentes e que só reforçam os preconceitos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, analisou o acesso às tecnologias da informação e comunicação, registrou que 63,1 milhões de domicílios tinham televisão com conversor para receber o sinal digital de televisão aberta, que corresponde a 89,8% dos domicílios. Já a TV por assinatura corresponde a 30,4%. Isso quer dizer que 44 milhões de brasileiros ficaram sem acesso à cobertura das paralimpíadas. 

    A representatividade é um dos primeiros passos para combater o preconceito, a partir do momento que não há visibilidade para as paralimpíadas, ou não é promovida uma educação inclusiva, estamos desvalorizando a capacidade das pessoas com deficiência e reforçando os preconceitos. Por isso é de grande relevância que a televisão aberta levante essas pautas, para que a sociedade quebre paradigmas e tenha acesso às informações.