Neste São João, Pernambuco dá passos importantes em direção a uma festa mais inclusiva, mas ainda sob a projeção de desafios que ainda precisam ser enfrentados para que todos possam celebrar com igualdade de condições. Entre as ações mais significativas, destacam-se o reforço na acessibilidade física e comunicacional nos polos juninos, tanto na capital pernambucana quanto no interior, e a criação de espaços de escuta e acolhimento para populações vulneráveis.
Recife: Sítio Trindade com Central de Direitos Humanos e áreas acessíveis
Na capital, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Juventude (SDHJ), está realizando a iniciativa São João de Direitos. No polo do Sítio Trindade, funcionará diariamente a Central de Direitos Humanos e Acessibilidade, próxima à entrada do evento. O local contará com equipe multidisciplinar — psicólogos, advogados, assistentes sociais, intérpretes de Libras e audiodescritores — preparada para acolher e orientar pessoas com deficiência e vítimas de discriminação (racismo, LGBTfobia, capacitismo, etarismo).
Importante: não haverá transporte acessível da Prefeitura para o Sítio Trindade. Pessoas com deficiência devem se dirigir diretamente à Central, onde serão recebidas e encaminhadas para as áreas acessíveis do polo.
As duas áreas acessíveis no Sítio são:
Em frente ao palco principal — 20 vagas por noite;
No Pavilhão das Quadrilhas — 50 vagas
Ambas funcionam por ordem de chegada, sem necessidade de inscrição prévia.
Interior: PE Conduz leva usuários a polos com estrutura acessível
No interior, o Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Prevenção à Violência (SJDH) e da Superintendência Estadual de Apoio à Pessoa com Deficiência (SEAD), mantém o programa PE Conduz, com transporte gratuito em vans adaptadas. O serviço é destinado a pessoas com deficiência física, especialmente quem usa cadeira de rodas, para os seguintes polos:
Caruaru (Pátio do Forró e Alto do Moura)
Bezerros (Serra Negra)
Vitória de Santo Antão
Santa Cruz do Capibaribe
Riacho das Almas
Museu do Estado, no Recife
Shopping Tacaruna (nos dias 16, 20 e 27 de junho, durante o Taca Mais Música, das 18h às 21h)
Importante: O PE Conduz não levará para o Sítio Trindade, no Recife.
Os interessados em utilizar o transporte devem ligar para o 0800 281 0312 e solicitar participação, sujeito à disponibilidade de vagas. O atendimento também pode ser feito por e-mail (sead@sjdh.pe.gov.br) ou, para surdos, via WhatsApp com atendimento em Libras: (81) 98275-9345, em dias úteis, das 8h às 17h.
Pontos de atenção
A acessibilidade comunicacional nos polos do interior não é garantida diretamente pela SEAD; ela depende da infraestrutura dos municípios organizadores.
Chegue cedo para ocupar as áreas acessíveis nos polos sem necessidade de inscrição.
Em caso de violação de direitos, procure a Central de Direitos Humanos no Sítio Trindade ou use os canais digitais das campanhas “Recife Sem Racismo” e “Recife Sem Preconceito e Discriminação”.
“Temos feito um esforço importante para garantir o acesso ao São João com dignidade e segurança, mas sabemos que a inclusão verdadeira exige compromisso coletivo e permanente”, afirmou Marcos Gervasio, superintendente estadual de Apoio à Pessoa com Deficiência.
No Recife, estão iniciando os preparativos para o Carnaval. Estão abertas, as inscrições para o 4º Concurso de Rei e Rainha da Pessoa com Deficiência do Carnaval do Recife 2025, até 19 de fevereiro. Este ano, a disputa será voltada para pessoas com deficiência intelectual, seguindo o formato do concurso que, a cada edição, contempla um tipo diferente de deficiência.
Promovido pela Prefeitura do Recife, por meio da Gerência da Pessoa com Deficiência da Secretaria de Direitos Humanos e Juventude, o concurso premiará os vencedores com R$ 5 mil cada. A escolha do Rei e da Rainha será durante a prévia carnavalesca do Projeto Praia sem Barreiras, no dia 22 de fevereiro, na Arena do projeto, em Boa Viagem, a partir das 10h.
Como se inscrever
Os interessados podem garantir sua participação de duas formas: – Por e-mail: enviando os documentos para reirainhapcdrecife@gmail.com. – Presencialmente: na Gerência da Pessoa com Deficiência do Recife, localizada no 6º andar do edifício-sede da Prefeitura do Recife, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 16h.
Documentação necessária
Para se inscrever, é preciso ter 18 anos ou mais e apresentar: ✔ Documento oficial com foto; ✔ Comprovante de residência; ✔ Comprovante da deficiência; ✔ Contato para comunicação.
O regulamento completo está disponível no Diário Oficial do Recife desta quinta-feira (13) e pode ser acessado pelo link: https://dome.recife.pe.gov.br/.
Curso híbrido será oferecido para a comunidade circense do Recife e Região Metropolitana com parte das vagas reservadas a integrantes do circo itinerante, pessoas negras, trans ou indígenas. A iniciativa é da escola Casulo Artes Circenses com subsídio do SIC, Sistema de Incentivo à Cultura do Município do Recife.
O cenário circense do Recife e Região Metropolitana vem crescendo nos últimos 10 anos, com muitas escolas de diferentes modalidades, em especial de aéreos, virando febre por aqui. No entanto, ainda são poucos os profissionais com formação profissional formal voltada para o ensino de circo, pois faltam cursos e capacitações na região e também no país.
Por conta disso, Malu Vieira, professora de aéreos e gestora do Casulo, escola localizada em Casa Amarela, Zona Norte do Recife, está oferecendo a Formação Livre para Instrutores de Circo (FLIC), um curso híbrido com 42 horas de aula sobre diferentes aspectos do ensino circense, ministrado por 8 profissionais locais e de outros estados do Brasil. A iniciativa, que conta com apoio do Sistema de Incentivo à Cultura do Município do Recife, é totalmente gratuita e terá parte das vagas reservadas à participação de integrantes do circo itinerante, de pessoas negras, trans ou indígenas, além de incluir pessoas surdas. Serão 20 vagas no total e as inscrições vão do dia 16 a 29 de fevereiro pelo formulário disponível no Instagram @casuloartescircenses. A divulgação do resultado final do processo seletivo está prevista para 04 de março, no mesmo perfil do Instagram.
O principal objetivo da FLIC é suprir parte da carência de cursos e formações para professores de circo no Recife e em Pernambuco, uma demanda gigante que vem sendo o foco de muitos sonhos e projetos de Malu Vieira. “Em 2021, com incentivo da Lei Aldir Blanc, lancei uma formação teórico-prática online para aerialistas, no intuito de socializar o que aprendi – e estava represado – ao longo desses 11 anos de estudos e práticas de aéreo. Em junho de 2023, a Formação chegou à sua sexta turma, totalizando cerca de 80 alunos de todo o país. Algo que esteve presente em todos os encontros foi o desejo por mais conhecimento e a constatação de que ainda são poucas as oportunidades que temos de nos aperfeiçoarmos enquanto pessoas que ensinam circo no Brasil. Nem mesmo na Escola Nacional de Circo Luiz Olimecha há capacitação nesse sentido, uma vez que o curso técnico da ENC é voltado para formação artística, e não pedagógica”. Atualmente matriculada no curso para Instrutores de Circo da École Nationale de Cirque (Montreal, Canadá) graças ao incentivo do SIC, Malu idealizou a FLIC para garantir que outras pessoas que ensinam – ou desejam – ensinar circo em Recife também possam receber treinamento específico.
O diálogo entre o ensino formal e a natureza empírica e plural do circo é outra vertente importante da FLIC. “Se, há alguns anos, as lesões no circo eram naturalizadas ou mesmo romantizadas (quem nunca ouviu o famoso ‘é a arte entrando’?), hoje sabemos que existem maneiras de prevenir essas lesões e garantir, assim, mais longevidade e qualidade para os corpos circenses – corpos esses que são nossos instrumentos de trabalho”, explica Malu Vieira.
As aulas serão ministradas ao longo de 5 semanas, de 06 de abril a 05 de maio, distribuídas entre aulas online e síncronas pelo Zoom e encontros presenciais. A carga horária total é de 42 horas e compreenderá os seguintes temas: acrobacia aérea e de solo, pedagogia e planejamento de aulas, fundamentos do aéreo, circo social, criação artística e acessibilidade. Poderão concorrer às vagas professores, artistas e praticantes de artes circenses e toda a cadeia produtiva do circo, maiores de 18 anos de idade, residentes na Região Metropolitana do Recife e com pelo menos 1 ano de experiência comprovada na linguagem.
A seleção dos participantes será por meio de um formulário de inscrição, que conterá todos os critérios e informações necessários. Como critério de desempate, será feita análise da condição socioeconômica dos participantes, para garantir acesso ao curso por quem teria menos condições de fazê-lo de forma particular.
Além de buscar suprir a demanda por mais conhecimento no ensino de circo, a FLIC também se propõe a promover o intercâmbio entre os profissionais do circo itinerante e outros agentes culturais do circo pernambucano e ainda estimular a inclusão. Haverá, portanto, garantia de no mínimo 2 vagas para integrantes do circo itinerante, além de reserva de vagas para pessoas indígenas, pessoas negras e trans.
Além disso, haverá duas ações inclusivas para a comunidade surda. Dentro da programação de aulas da FLIC, será realizada uma capacitação em ensino de tecido acrobático para pessoas surdas, onde serão desenvolvidas ferramentas metodológicas que facilitem a comunicação, que também contará com o apoio de um intérprete de LIBRAS e mediação de uma consultora com deficiência auditiva. Após essa primeira etapa, será oferecido um aulão de tecido voltado para o público surdo no dia 28 de abril, onde serão colocadas em prática as ferramentas metodológicas estudadas, além de contar com um intérprete de LIBRAS. O módulo “Circo Acessível” é uma idealização de Malu Vieira e de Andreza Nóbrega, da VouSer Acessibilidade, que assina a coordenação de acessibilidade do projeto.
“É preciso que se olhe para as ações de acessibilidade em projetos culturais com atenção. Se não há pessoas surdas praticando aéreo em Recife, é porque as políticas públicas para acessibilidade ainda estão longe de chegar em todos os espaços, e um dos objetivos da FLIC é justamente contribuir para a mudança desse cenário”.
CRONOGRAMA FLIC – Formação Livre para Instrutores de Circo
PROCESSO SELETIVO
Período de inscrições: 16 a 29 de fevereiro
Resultado: 04 de março
AULAS
Carga-horária total: 42h, sendo 15h online e 27h presenciais
Partindo do desejo de transformar os eventos no Recife mais diversos e acessíveis, o Vale PCD fará a segunda edição com o São João do Vale no dia 10 de junho. O evento, que acontece das 18 h às 4 h, no Pajubar, visa o protagonismo das pessoas com deficiência em todos os espaços.
Em março de 2023, aconteceu a primeira comemoração do Vale Pcd, chamada Vale Tudo, para celebrar os três anos da organização sem fins lucrativos e o aniversário de Priscila Siqueira, uma das fundadoras do Vale PCD. O evento mostrou-se um sucesso, o Pajubar ficou lotado de pessoas com deficiência e todos se divertiram ao som de diversas músicas internacionais e nacionais. “Ficou evidente que a inclusão e a celebração da diversidade são valores que devem ser abraçados em todos os momentos festivos” — afirma a fundadora Priscila Siqueira.
Na segunda edição da festa, o Vale PCD lançará a primeira plataforma de mapeamento de todos os espaços públicos e privados com foco em acessibilidade. As pessoas com deficiência terão acesso a informações sobre a estrutura dos locais que desejam frequentar, como rampas de acesso, banheiros adaptados e elevadores. A plataforma pode ser acessada pelos computadores e celulares. “Com essa plataforma, estaremos quebrando barreiras e promovendo a inclusão de maneira prática e eficiente” -afirma Priscila.
Além da plataforma, a noite terá artistas com deficiência e LGBTQIA+, como Go vinicius, Leonardo Galize, Nina Poison e Rodolfo Moura, que convidarão todos para dançarem, haverá uma barraca do beijo acessível e filtros para serem usados no evento. O evento terá listas PCD e Trans, que permanecerão disponíveis até o dia 09 de junho, entrando em contato pelo Instagram @pcdvale.
Conheça mais sobre o Vale Pcd
O Vale PCD, uma organização dedicada à promoção da inclusão e acessibilidade para pessoas com deficiência que também fazem parte da comunidade LGBTQIA+, tem se destacado no cenário nacional com suas ações de impacto. Com foco em eventos acessíveis, consultorias, emprego e saúde mental, a organização tem se esforçado para que todas as pessoas tenham a mesma oportunidade.
A ONG realizou uma consultoria no Festival do Futuro, no início deste ano, o que contribuiu para a implementação de medidas inclusivas e acessíveis para pessoas com deficiência. Essas ações visam conscientizar a sociedade e incentivar uma maior compreensão, aceitação da diversidade e garantir a interseccionalidade de pessoas com deficiência LGBTQIA+ no Brasil.
Texto: Paulo Pinheiro / Foto da capa: Larissa Pontes
Está encerrado mais um carnaval do Recife, na terça-feira (21/02), a tradicional festa de fechamento aconteceu no palco Marco Zero e contou com nomes de peso da cultura pernambucana. André Rios, Nena Queiroga, Alceu Valença, Elba Ramalho, Lenine, Maestro Spok e João Gomes, comandaram o palco do polo principal, das 18h do dia 21 até às 4h do dia 22/02. A área acessível estava disponível para os/as foliões(a) aproveitarem o último dia do carnaval e se despedirem da época mais aguardada do ano pelos pernambucanos.
André Rios, abriu a festa e comentou a importância do carnaval democrático e inclusivo “É fundamental, eu fiz questão de descer para a parte de baixo do palco, é lindo poder dá acesso para todos de forma igualitária. A gente vive em um mundo que não cabe mais nenhum tipo de preconceito ou segregação, o sol está aí para todos, então que todos tenham possibilidades”, contou.
Foto: Paulo Pinheiro
As atrações estavam atentas a questão de acessibilidade do evento, assim como André, o Maestro Spok comentou a relevância da área acessível – Nós não conseguimos saber como é a realidade de uma pessoa com deficiência, só vivendo para saber das dificuldades, mas é sempre uma questão que acompanhamos de perto. Acredito que ainda tem coisas para melhorar, mas que bom que as pessoas estão acordando para este tema tão importante, que é a inclusão – explicitou.
O Maestro ainda relembrou a participação do passista de frevo e cadeirante, Matheus Pimentel “é lindo ver ele no palco e você nota que aos poucos as coisas estão evoluindo, mas ainda tem muito a ser feito. Quando eu toco ao lado de alguém como ele, eu vejo tudo mais claro”, concluiu.
O evento contou com a equipe de intérpretes de libras, que comentou a rotina no polo principal. “Eles podem interagir com a gente e com a obra do autor, tivemos todo um preparo antes para esse momento de tradução, estamos desde a sexta-feira, participando e transmitindo para a comunidade surda presente aqui na área acessível.”, Lucas Castro, intérprete de libras. Para Simone Lime, também intérprete, o carnaval possibilitou boas experiências “é uma emoção enorme transmitir o que está acontecendo, isso é a verdadeira inclusão”, afirmou.
Às 21h50 o palco do Marco Zero foi tomado pelos versos das músicas de João Gomes, o cantor mobilizou um grande coral com seus maiores sucessos: “Eu tenho a senha”; “Se for amor”; “Que nem vovô” e “Aquelas coisas”. João Gomes, também surpreendeu a todos da área acessível, ao descer do palco e cumprimentar todas as pessoas que estavam por lá.
João Gomes emocionado ao cantar no Marco Zero (Foto: Paulo Pinheiro)
Durante a coletiva, ele comentou a participação das pessoas com deficiência em seu show – Ali na frente, tem pessoas na área acessível, todo mundo curtindo e tendo uma boa visão do palco. Estou muito feliz de estar aqui – pontuou.
Vânia Carvalho, avó de Jonatas Lima que é uma pessoa surda e usuário de cadeira de rodas, comentou o entusiasmo do neto pelos shows e sua satisfação em estar em uma área projetada para pessoas com deficiência “Ele adora festa! A área acessível está excelente, estou muito feliz pelo o que eu encontrei neste carnaval. Eles também sentem prazer em participar desta festa”, declarou.
Vânia Carvalho e Jonatas Lima curtindo os shows do Marco Zero na área acessível. (Foto: Larissa Pontes)
Com grandes atrações, o palco principal lotou cedo e consequentemente a área acessível também. O espaço destinado à acessibilidade do evento se tornou pequena, para o grande público com deficiência que compareceu ao espetáculo. Segundo a organização da área PCD, às 19h o limite de pessoas foi atingido na área reservada e consequentemente várias pessoas com mobilidade reduzida, cadeirantes e surdas ficaram desassistidas pelo evento.
“Faltou mais espaço no camarote da acessibilidade, só tem apenas um banheiro adaptado, era para ter mais. O atendimento está bom, eles foram legais com a gente, mas o espaço deixou a desejar. Eu não tive dificuldade para chegar aqui, mas tenho consciência que outros tiveram, pela quantidade de pessoas que estão aqui. A prefeitura do Recife deve procurara o Conselho da Pessoa com Deficiência, para receber orientação”, contou Amidol, Paratleta.
Para a turista Siana Guarajara, Distrito Federal (DF), a falta de informação comprometeu o último dia do carnaval no Recife “Conseguimos o veículo acessível disponibilizado pela prefeitura e chegando lá, buscamos informações para termos acesso à área acessível e houve desencontros de informações. Os bombeiros nos ajudaram a chegar no palco, lá, a organização do evento disse que não havia mais vagas e pediram para nos retirarmos, pedimos para ficar no cantinho por medo da multidão que estava fora da área reservada e eles insistiram para saímos. Foi um constrangimento que poderia ter sido evitado. A área acessível era minúscula, tudo isso só para dizer que existe inclusão? Mas não existe”, relembra.
Texto: Larissa Pontes / Foto da Capa: Wesley D’Almeida/PCR
A cidade do Recife despertou com o céu claro e o sol brilhante, o que era o brilho que o Galo da Madrugada tinha para trazer mais 2,5 milhões de pessoas para comparecer ao bloco, sendo considerado o maior do mundo. “O camarote da acessibilidade é uma parceria da prefeitura da cidade do Recife com a Fundação de Cultura e oferece para as pessoas com deficiência de mobilidade reduzida, esse espaço no maior bloco do mundo que é o Galo da madrugada. Então para a gente pessoa com deficiência é uma iniciativa muito importante, porque o Carnaval do Recife é um carnaval inclusivo” afirma dida duque, coordenadora de acessibilidade do camarote da acessibilidade.
A Prefeitura do Recife disponibilizou 200 vagas para o Camarote da Acessibilidade. As pessoas com deficiência se inscreviam através do portal do Conecta Recife e, a partir daí, concorriam via sorteio quem ia poder ir ao camarote. Mais de mil cidadãos se inscreveram no portal do Conecta Recife para o Camarote da Prefeitura. Dessa forma, muitas pessoas com deficiência questionaram porque as vagas seriam por sorteio e porque não aumentaria a capacidade.
“Sabemos que em Recife e Pernambuco tem muitas pessoas com deficiência, mas infelizmente a gente não tem estrutura para contemplar todo mundo. Então, nós esperamos também que outros camarotes do Galo também tenham acessibilidade, que dê condições para as pessoas com deficiência que queira comprar a sua camisa dos outros camarotes, que seja que possa ter acessibilidade. Mas infelizmente os empresários ainda não têm essa consciência de que a gente com deficiência se divertir. Não é só a prefeitura que tem se preocupar, as iniciativas privadas também. Tem que se preocupar com isso porque somos cidadãos, tem pessoas com deficiência que têm condições de comprar as camisas dos camarotes, mas infelizmente não vão, porque não tem acessibilidade. Então é um recado que deixo aí para os organizadores do Galo e pros organizadores também de Camarote que garantam acessibilidade para que nós pessoas com deficiência. Nós não queremos nada de graça, e sim nosso direito. A gente só quer que tenha que garanta a sensibilidade para gente poder estar nesses espaços. ” afirma Dida duque.
Pessoas com deficiência acompanham o desfile do Galo da Madrugada (Foto: Larissa Pontes)
O camarote da acessibilidade fica localizado o Pátio do Carmo, na Avenida Dantas Barreto, foi planejado desde dezembro. Ofereceu os serviços de Interpretação de Libras e audiodescrição. “Desde dezembro que a gente começa com esse trabalho, com toda a questão de estrutura, a Fundação de Cultura que mantém faz toda essa estrutura então. São quatro meses de preparo do camarote da acessibilidade para tudo sai ok”, explica Dida.
Um das pessoas sorteada foi Célio Ricardo, paratleta que chegou cedo ao camarote da acessibilidade e falou que as pessoas com deficiência estão saindo de casa. “O mundo globalizado com mais inclusão e acessibilidade, então muito cadeirante que ficavam em casa hoje consegue percorre a cidade do recife, que está bastante adaptável. O galo é um exemplo clássico para cadeirantes não ficar em casa, porque tem tudo aqui. Neste carnaval, como sou pernambucano estou esperando o frevo, orquestra de frevo, as outras é só mais um detalhe, mais o carnaval de pernambuco é frevo”, afirma Célio.
No Galo da Madruga estava presente a Rei e a Rainha das pessoas com deficiência. O Eficientes conversou com a rainha do carnaval, Nina Souza, microempreendedora, intérprete de libras e professora de dança. Com dez anos de experiência na dança, ela loga se interessou pelo concurso que envolvia a dança. “Não tinha esperança que eu ia ganhar, mas assim fui na empolgação dos amigos, então fui lá, dei o meu melhor e tô aqui hoje como rainha. É a emoção inexplicável, é cada momento, cada evento é uma emoção diferente. Eu particularmente estou fechando meus 10 anos de dança, comecei no frevo sobre Rodas e agora como rainha do carnaval e assim sendo reconhecida sendo conquistando mais espaço ainda para dança e para mostrar a pessoa que a gente pode chegar em qualquer lugar” relata Nina.
Rei e Rainha da pessoa com deficiência e da pessoa idosa, Secretária de Desenvolvimento Social (Foto: Larissa Pontes)
Saímos do galo diretamente para o Carvalheira na Ladeira, sendo uma festa privada com vários shows como Anitta, Durval, Jorge Matheus, Mari Fernandes que estão disponibilizando acessibilidade, embarcamos nessa aventura com nossa repórter Pamela Melo que irá relatar o que vivenciou. Confira a próxima reportagem.
Texto: Larissa Pontes / Foto da Capa: Marcos Pastich/PCR e Ed Machado/PCR
A longa espera para o Carnaval do Recife acabou na última sexta-feira (17), com a abertura do Carnaval na praça do Marco Zero. A cerimônia iniciou com as tradições pernambucanas com o desfile e apresentação das agremiações, depois o Maestro do Forró iniciou a cerimônia de abertura com a orquestra da bomba do Hemetério. Na sua apresentação teve a participação especial de Matheus Teixeira, o Rei da pessoa com deficiência do Carnaval, que transmitiu uma mensagem maravilhosa “O carnaval do Recife é isso, está aberto o carnaval da diversidade, da inclusão e do amor, muita paz e muito frevo”.
João Victor fez aniversário em 16 de fevereiro e estava na apresentação para celebrar os seus 14 anos com o pai, Edgar. Ele disse-nos: “Eu e meu filho João Victor gostamos muito da Orquestra Popular da Bomba do Hemisfério. Somos amigos de Chico, o maestro do forró, há muito tempo, e viemos prestigiá-lo mais uma vez”.
Pai e filho assistindo à Orquestra da bomba do Hemetério (Foto: Paulo Pinheiro)
O Carnaval do Recife teve como tema “#VolteiRecife Com Todos os Carnavais”, uma homenagem aos Carnavais antigos, devido ao grande anseio dos foliões por essa celebração tão democrática, que proporciona alegria para todos durante cinco dias. A capital pernambucana recebeu 2,7 milhões de pessoas, com média de 300 mil visitantes por dia no Marco Zero. Dentre eles, a mineira Carolina Ayres Lavourinha, designer e usuária de cadeiras de rodas, que veio do Rio de Janeiro com sua família. “Nós sempre viemos para o Carnaval do Recife, por minha mãe ser Pernambucana e gostamos muito do Carnaval daqui. Estou na expectativa para ver todos os cantores, Caetano Veloso, Duda Beat, Geraldo Azevedo, Alceu e Elba..” relata a designer.
Família reunida para se diverti no Carnaval do Recife (Foto: Paulo Pinheiro)
O Marco Zero dispôs de um espaço acessível para as pessoas com deficiência, onde podiam assistir aos shows, levar um acompanhante e usufruir do serviço de audiodescrição, além de contar com intérpretes de Libras.
Liliana Tavares, responsável pela equipe de audiodescrição, explicou como funciona. “ Nós temos um aparelho, no qual, falamos e as pessoas com deficiência visual escuta tudo se que se passa no palco, traduzimos as imagens, é nosso segundo ano realizando esse trabalho aqui no Carnaval”. A equipe “com a acessibilidade” estuda toda a programação do Carnaval para que este trabalho seja realizado. “Nós temos um glossário do carnaval, pegamos as informações que saíram do carnaval, a gente vem antes, fotografa, faz o roteiro da audiodescrição antes, mas claro que carnaval é carnaval, acontece muita coisa simultânea, as roupas das pessoas, nós vamos saber no dia, como a gente tem muita experiência trabalhamos a mais de 10 anos, nós também fazemos isso de forma simultânea e qualquer coisa pode acontecer, porque a gente está perto do público, temos vê o que estão fazendo, o que estão vestindo, porque carnaval não é só show é quem está perto da gente também” conta Liliana.
Equipe da audiodescrição no Marco Zero (Foto: Paulo Pinheiro)
Esses recursos de acessibilidade faz com que todos tenha acesso igualmente a aproveitar festa como o Carnaval. Liliana muito animada conta qual é sensação pode realizar esse trabalho. “Então, quando vemos, eles dançando, quando falamos assim, as pessoas estão levantando os braços com dedo para cima e eles fazem, é quando eles se sentem parte do grupo. Às vezes eles perguntam como se dança, maracatu, por exemplo. A gente vai e diz, mostra então assim fazer com eles façam parte da cultura e possam usufruir da festa e se sintam parte do grupo”, relata a coordenadora.
Michell Platini, publicitário, servidor público do Recife e pessoa com deficiência, visual, estevem presentem em vários dias na parte de acessibilidade e utilizando os recursos de audiodescrição, conta um pouco o que levar ele brincar o carnaval. “Sou carnavalesco, eu gosto de folia de povo e ter o recurso de acessibilidade para poder acompanhar o carnaval e fez, está aqui hoje. A experiência do carnaval está sendo muito rica, porque vivenciar o carnaval já é ótimo, vivencia o carnaval tendo acesso a imagens, faz você guardar na memória um momento como esse. Depois de dois anos sem carnaval a gente fica meio destreinado, mas é igual andar de bicicleta, quem já vivenciou o carnaval lembra como é emoção, lembra como é o passo do frevo, lembra qual é sensação de está no meio do povo. Então estou muito contente e alegre de está de volta ao carnaval” conta Michell.
Nesta noite de abertura do carnaval, está presente vários artistas, secretários, ministros e o prefeito do Recife, João Campos, explica sobre como foi montado a acessibilidade e a importância desses espaço. “ O carnaval do Recife é um carnaval inclusivo, significa que todos têm o acesso em participar. Fizemos o acesso especial para as pessoas com cadeiras de rodas, o galo da madrugada tem um camarote especifico da acessibilidade, tem que dar direito a todos, agora ninguém fica para trás, todo mundo pode brincar e se diverti”, explica o prefeito.
É importante que evento culturais tenha a preocupação e dê acesso às pessoas com deficiência poderem se divertir nos eventos. Silvério Pessoa, Secretário da Cultura, fala sobre a importância das práticas de acessibilidade na cultura. “ A acessibilidade que não seja nada excepcional, que seja uma prática natural, prática humana. O conceito de diferença ter que ser reconfigurado, revisto e o que percebo é que todas as atividades, as práticas, as ações não só da prefeitura, como a governadora do estado, a questão de acessibilidade, de inserção, de acolhimento, respeito, com naturalidade cada vez mais é acentuado. Então estou muito feliz de dizer, vê e perceber que essa ação está cada vez mais espontânea”, afirma Secretário.
Mas Recife ainda tem muitas questões a acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência para evoluir e aprimorar os serviços oferecidos, na noite de sexta-feira muitos detalhes de decoração, de serviços estavam sendo finalizados. Fernanda Lira Ayres, mãe de Carolina, também relatou que entrou em contato com a prefeitura do Recife e se informou que ia ter vans adaptadas para trazer até o Marco Zero. “Mas o transporte não era acessível, era uma van, que não era adaptada para a cadeira de rodas. Ela entrou no veículo nos braços do motorista, que foi muito solícito, mas mesmo assim é uma situação constrangedora. Quando chegamos no palco principal no início da tarde, ainda não tinha uma equipe para dar suporte”, afirma Fernanda.
Michell também relata que para chegar até Palco do Marco zero, não é muito fácil. “Sempre tempos dificuldades infelizmente não há uma rota acessível para essa área, o transporte público podia para mais perto. Mas sem está mar de gente para a gente curtir o carnaval”, afirma Michel.
O pai João Victor também faz algumas críticas sobre divulgação da acessibilidade chegue a mais pessoas com deficiência. “Seria bom que mais pessoas pudessem participar mais, a gente vê aqui dois cadeirantes, no estado de Pernambuco só tem dois cadeirantes? Se todo mundo se conscientizassem e terem acesso, muitas pessoas também não tem esse conhecimento de ter acessibilidade e essa facilidade que a gente tem de trazer nossos entes. Há 3 anos não temos o evento, já foi melhor, estou achando esse espaço muito pequeno, na hora que encher mesmo será meio complicado. Esse ano o espaço está sendo o menor de todos, apesar de só ter duas cadeiras só. Mas poucas pessoas vão respeita isso depois que convidados, convidado do convidado aí terminará lotando isso daqui”.
Na sexta-feira, a área de acessibilidade estava do lado direito do palco e era menor que nos outros dias em que realizamos a cobertura. Além disso, foi possível perceber a dificuldade de locomoção quando o espaço estava cheio de convidados da Prefeitura do Recife. Muitos cadeirantes tiveram que ser auxiliados pelos bombeiros para terem acesso ao banheiro ou sair dessa área.
A cerimônia de abertura terminou com o espetáculo do Caetano Veloso, que animou a noite com canções do seu disco “Meu Coco”, mas também tocou algumas músicas mais antigas. Caetano tem uma ligação profunda com Pernambuco, já ganhou o título de cidadão Pernambucano e quis homenagear Pernambuco com a música “evocação” de Nelson Ferreira, um grande sucesso de Carnaval. A praça do Marco Zero estava cheia de pessoas ansiosas pelo show, pois fazia 10 anos que Caetano havia feito uma apresentação no Carnaval do Recife.
O Manoel, que é estudante de publicidade e tem mobilidade reduzida, estava ansioso pelo show do Caetano. “Eu amo carnaval desde criança. A minha família é muito carnavalesca e eu só simplesmente amo. Por o carnaval ser isso, é a festa do povo, é uma grande festa contagiante, é a festa mais democrática que a gente tem no Brasil todo. Então eu amo estar nessa Folia e fazer parte desse carnaval na volta, né? Então eu não ia perder ele jamais e esse carnaval que marca volta e dois anos sem carnaval e hoje vim para vê o Caetano, porque ele embalar a minha vida são várias músicas dona da minha cabeça ela vem como um carnaval”, afirma o estudante de publicidade.
Já duda beat estava emocionada de cantar na cidade onde nasceu e viveu por anos, relembrou quando ia ao Carnaval do Marco Zero com sua avó e fez uma homenagem a ela cantando a música “Voltei Recife”. O carnaval está oficialmente aberto para a brincadeira de sábado de Zé Pereira no maior bloco Galo da Madrugada.
O carnaval de Recife em 2023 começará no dia 17 de fevereiro, trazendo vários artistas como: Caetano Veloso, Duda Beat, Alceu Valença, Elba Ramalho, Pabllo Vittar, Melim, Nando Reis, João Gomes, Nena Queiroga, André Rios e outros convidados para animar os foliões. A Prefeitura do Recife irá garantir acessibilidade para as pessoas com deficiência.
Paulo Fernandes, gerente de pessoas com deficiência na Secretaria Executiva de Direitos Humanos da Prefeitura do Recife, explica como irá funcionar a acessibilidade no Recife Antigo e Galo da Madrugada.
No palco do Marco Zero, as pessoas com deficiência terão acesso ao Frontstage, que fica na frente do palco, com acesso Interpretação de Libras e Audiodescrições. “A audiodescrição será apenas no Marco Zero, às pessoas cegas que forem para o Frontstage receberão o equipamento e o audiodescritor estará próximo fazendo a narração das informações visuais”, explica Paulo Fernandes.
Para ter acesso ao Frontstage, as pessoas com deficiência precisam se dirigir para o lado esquerdo do palco principal do Marco Zero, haverá uma equipe da Central de Direitos Humanos e Acessibilidade para fornecer pulseiras de acesso à área acessível. As pessoas com deficiência deverão apresentar um documento que comprove a sua deficiência.
“O número de pulseiras é limitado e elas são distribuídas conforme a ordem de chegada e a capacidade do local. Além disso, haverá um espaço acessível nos polos da Praça do Arsenal e do Cais da Alfândega”, conta o gerente da pessoa com deficiência.
A Prefeitura Municipal também disponibiliza intérpretes de Libras para as pessoas surdas em todos esses polos do Recife Antigo, além de vans adaptadas do PE Conduz, que sairão da frente da Prefeitura do Recife até o Palco Central do Marco Zero, para transportar usuários de cadeiras de rodas, de muletas e com mobilidade reduzida. O serviço das vans estará disponível das 18 horas à meia-noite.
O Galo da Madrugada também terá um espaço para pessoas com deficiência, o Camarote da Acessibilidade, com Interpretação em Libras e Audiodescrições. Para ter acesso às pessoas com deficiência precisam se inscrever.
As inscrições para este ano diferirá das dos anos anteriores. As pessoas com deficiência poderão se inscrever pelo Conecta Recife nos dias 13 e 14 de fevereiro, à tarde. “Neste ano, os candidatos concorrerão a 200 vagas, que serão selecionadas através de um sorteio online, ao vivo, que contará com a presença do prefeito João Campos. Ressaltamos que todos os inscritos receberão a confirmação com o horário do sorteio”, conta Paulo Fernandes.
Para se inscrever para o Camarote da Acessibilidade, só poderão pessoas a partir de 14 anos e residir no Recife. Na entrada do Camarote, será necessário apresentar um documento comprobatório da deficiência e o comprovante de residência.
As vans da empresa PE Conduz farão o transporte para Galo Madrugada apenas para as pessoas inscritas para Camarote da Acessibilidade, que sejam usuárias de cadeira de rodas, muletas ou mobilidade reduzida. O transporte sairá da Praça do Derby, às 07 horas e retornará ao mesmo local às 17 horas.
Texto: Larissa Pontes / Revisão de Texto: Antonio Moura
No último sábado (04), tivemos o bloco de bar em bar, também chamado de bloco da galera, com grandes atrações, como Xand Avião, Zé Vaqueiro, Mari Fernandez, Léo Santana e Menos é mais, prometendo uma edição histórica. A estrutura do evento era grandiosa, com um palco amplo e uma passarela, além de um show de fogos de artifício.
O evento prometeu que todos os ambientes teriam estrutura para acessibilidade e disponibilizaria um espaço para as pessoas com deficiência. Contudo, recebemos queixas de falta de acessibilidade no bloco.
Nicole Aguiar, formada em Direito, narrou a sua experiência ruim no evento. Ela tem meningocele, uma má formação que acontece durante a gravidez, e, por isso, usa cadeira de rodas. Ela esperava assistir e curtir os shows dos seus cantores favoritos, especialmente do Zé Vaqueiro, já que nunca havia ido a um show dele. Ao chegar ao evento por volta das 17h30, percebeu-se a ausência de acessibilidade. Não havia autonomia para entrar e sair da área destinada às pessoas com deficiência, sem contar a falta de segurança e fiscalização, o que permitia que pessoas sem deficiência invadissem o local.
“Quando cheguei ao evento perguntei aos segurança sobre a área pcd, ele não soube me informar e chamou uma pessoa da organização que estava perto. A organização falou que eu havia entrado local errado, que a entrada da pessoa com deficiência era outra entrada, porque a área pcd ficava do outro lado.” relatou Nicole.
Nicole questionou a ausência de um comunicado nas redes sociais sobre a entrada para pessoas com deficiência, viu apenas que tinha uma entrada para todos. A organização solicitou que os bombeiros acompanhassem até o local acessível. “Chegando na área acessível, os bombeiros me largaram lá e foram embora. Percebi existirem pessoas sem deficiência na área, que não tinha nenhum segurança na área acessível olhando se pessoas sem deficiência estavam invadindo. Eles só colocaram um pano preto para dividir a área pcd”, descreve Nicole.
Visão da pessoa com deficiência para o palco . Foto: Nicole Aguiar
Nicole não podia enxergar o palco devido às pessoas que estavam em pé à frente quando os shows começaram. Ela pediu para a pessoa que estava na sua frente para dar um pouco de espaço, para que avistasse o palco e aproveitar o show. A pessoa respondeu: “Você já está na área acessível e ainda quer ver o show?” Esse tipo de atitude é uma forma de discriminação contra pessoas com deficiência.
O Estatuto da pessoa com deficiência no artigo 4 assegura que “Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”. No primeiro parágrafo fala-se o que é discriminação: “Discriminação é toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que prejudique, impeça ou anule o reconhecimento ou o exercício dos direitos fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.”
É crime descriminar uma pessoa com deficiência, segundo o artigo 88 da Lei Nº 13.146/2015 “Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência.” A punição para quem infringe a lei é a reclusão de 1 a 3 anos e multa.
Nicole permaneceu tentando de alguma forma assistir ao show. Quando Zé Vaqueiro, começou a se apresentar, começou a chover muito forte e mais pessoas sem deficiência começaram a pular na área de acessibilidade. “Fiquei no fundo da área de acessibilidade, ao lado de uma mulher grávida que estava com medo de ser agredida. Eu e meu amigo pedimos que ela se colocasse atrás da minha cadeira para que as pessoas não a machucassem”, disse a bacharelada em direito.
Anderson Gomes, produtor de conteúdo e estudante de Educação Física, que acompanhava Nicole, relatou que a área de acessibilidade ficava localizada ao lado do centro de convenções e na frente havia uma ladeira. “Nós sempre timos que ficar conferindo se o freio cadeiras de rodas estava acionado, teve uma hora que Nicole foi empurrada e quase caiu”. Nicole não caiu porque alguém que estava na sua frente a segurou.
Outra impossibilidade era o consumo de bebidas, devido à ausência de organização. “Não bebemos nada durante a noite, porque havia muitas pessoas e os atendentes não dava conta de todos os consumidores. Além disso, as pessoas que acompanhavam as pessoas com deficiência não tinham nenhuma identificação que íamos comprar bebida para eles. Só conseguimos alimentação, porque eu sair dessa área da pessoa com deficiência para poder comprar, porque para chegar aos quiosque não existia acessibilidade” — relata Anderson.
Nicole e Anderson não puderam assistir aos outros shows que haviam programado para a noite, pois, devido às inúmeras dificuldades de acessibilidade, não conseguiram permanecer no evento após o show de Zé Vaqueiro. Mas para sair do evento enfrentaram mais problemas de acessibilidade. Porque durante o evento choveu bastante, deixando diversas áreas com lama.
“A área destinada às pessoas com deficiência estava, aproximadamente, a 50 metros da saída, o que não era tão longe, mas, para sair, só havia duas opções: uma por uma ladeira cheia de barro ou no meio do evento, onde havia diversas pessoas, o que tornava a situação meio impossível, uma vez que eu precisaria de ajuda e não havia bombeiros presentes. Então tivemos que sair na ladeira de barro” conta o estudante Educação física.
Esses exemplos revelam a necessidade que a sociedade tem de dar mais atenção às pessoas com deficiência, que são invisibilizadas constantemente. “Eu nunca me senti tão constrangia, por conta de um grande descaso com as pessoas com deficiência. Para mim foi um dos piores eventos que já fui na minha vida. Eu já fui em vários eventos gratuitos, mas com estrutura de acessibilidade bem melhor. Eu e meu acompanhante pagamos no total R$250,00 no ingresso e eles ainda entregavam um abadá enorme para todo mundo, tamanho GG para gente ser obrigado a fazer customização com eles que são do evento. Eventos como este mostram que a única intenção era lucrar”, descreve Nicole.
Quando os eventos não são acessíveis, diversas pessoas com deficiência e necessidades especiais são desrespeitadas e seus direitos legais não são garantidos. Acessibilidade é uma questão séria, não deve ser tratada como qualquer outra coisa. Existem pessoas que precisam que esse direito seja garantido para poderem ter independência, liberdade para aproveitar os eventos como todas as outras pessoas.
Existem empresas e organizações que fazem um trabalho sério de garantir a acessibilidade em eventos, a maioria dos eventos não quer contratar esses serviços porque acham que são serviços que podem ser dispensados.
A acessibilidade em eventos é assegurada pela Lei nº 10.098/2000, a qual estabelece a remoção de obstáculos arquitetônicos, de comunicação, metodológicos e instrumentais, a fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida para todas as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
Todos esses entraves à acessibilidade poderiam ter sido solucionados se olhassem para as pessoas com deficiência respeitosamente e inclusiva. “Precisamos de lugares para que as pessoas com deficiência possam circular pelo evento, ir à lanchonete, ao bar, ficar mais perto do palco para poderem ver os artistas melhor, sem ninguém na frente e com uma cerca atrás, e seguranças nos protegendo. Além disso, precisamos de intérpretes de libras e de outras medidas”, explica Nicole.
A produção do evento do bloco de bar em bar não respondeu à nossa solicitação de entrevista até o fechamento dessa reportagem.
A primeira edição do festival La folie, está concluída com sucesso! Nesta edição, se apresentaram artistas renomadas da comunidade LBTQIAPN+ e mulheres do brega pernambucano, com a exemplo de Pablo vittar, Gloria Groove, Luisa Sonza, Rebecca, Karol Conká, Priscila Senna e Tayara Andreza. O vento aconteceu na área externa do centro de convenções com três áreas para o público: arena, front e open bar, com dois palcos que alternaram as apresentações.
Além das atrações, o festival pautou a responsabilidade socioambiental em parceria com Ecoe sustentabilidade, para desenvolver práticas sustentáveis alinhadas aos objetivos sustentável da ONU. O evento contou ainda com a iniciativa “Lixo Zero” e destinou 90% do lixo gerado pelo festival para compostagem, reuso e reciclagem.
O “Transforma Pride”, uma feira de empreendedorismo LGBTQIAPN+ com cerca de 30 expositores com roupas de moda agênero, produtos artesanais e ecológicos, marcou presença no festival, promovendo a geração de renda para a comunidade LGBTQIAPN+ que ainda luta contra o preconceito e a discriminação no mercado de trabalho.
Acessibilidade no La folie
Mas vamos ao que nos interessa! O evento realizou uma parceria com Vale PCD, coletivo formado por pessoas com deficiência e LGBTQIAPN+, que busca a inserção das pessoas com deficiência em todos os espaços. No La Folie, eles foram responsáveis em dar todo suporte para os PCDS, orientando, distribuindo as pulseiras da área de acessibilidade, disponibilizando intérpretes de Libras nos palcos, cadeiras, abafadores de ruídos (para quem tem hipersensibilidade auditiva), trazendo conforto sensorial.
A cofundadora do Vale PCD, Priscila Siqueira, comentou os desafios de organizarem eventos com acessibilidade. “É pode entender o público que queremos alcançar, porque não vai ser todo mundo terá acesso, então precisamos pensar em um espaço projetado que atenderá a maioria das pessoas e tão adaptar na hora quando alguém demanda da gente, então maior desafio é na adaptação e no planejamento”, contou.
Para promover um evento deste porte, é necessário visar a diversidade e pluralidade de pessoas, para que todos e todas possam participar, principalmente quando falamos sobre pessoas com deficiência. Nesse quesito o La folie entregou! Dando espaço para influenciadores com deficiência, como a exemplo do Ivan Brown, um dos apresentadores do festival, para que isso se torne comum na sociedade e as pessoas com deficiência sejam inseridas em todos os espaços, inclusive nos ambientes de lazer.
“É importante que a gente possa transitar tranquilamente, estou amando, me sentindo muito acolhida aqui e não sentir dificuldades para chegar até o festival e ansiosa para pode conferir a Glória Groove. Minha mensagem para outras pessoas com deficiência que venham se divertir também, estou amando muito.” Jéssica, 26 anos, para paraplégica há 3 anos, relatou nunca havia ido a um show com acessibilidade.
Pedro Filipe, 20 anos, estudante de contabilidade, relatou o quanto está feliz, está vivenciando o festival “Está sendo uma experiência incrível, estou muito ansioso, muito animado pela estrutura. Estou bem ansioso para o show de Pablo vittar e Glória Groove acredito será pontos fortes da noite. Fui à área pcd a gente tem uma visão incrível de todos os shows, então acho que será uma experiência ótima. O acesso foi tranquilo, eu já tinha vindo em outros eventos aqui já tinha familiaridade. Minha expectativa para show é dançar muito e me divertir muito e só sair de manhã” contou ao Eficientes.
Pontos a melhorar:
A produção do festival La Folie acabou pecando em alguns pontos, por falta da comunicação e organização geográfica do festival, reduzindo a área PCD a um único local, que ficava no meio do evento, entre o Open e o Front. Para compensar a falha o festival liberou o lounge Open bar, para todas as pessoas com deficiência. Mas a retirada de bebida ficou inviável, devido à distância da área PCD dos quiosques por ficar na parte central do evento. Houve também dificuldade para visualizar as/os intérpretes de libras, devido à distância do palco. A área da pessoa com deficiência contava com apenas um banheiro acessível, mas não tinha papel.
Caso a pessoa com deficiência escolhesse ficar com os amigos(a) ou namorados(a) em outras áreas, teriam dificuldade de acesso aos banheiros, porque na área do front contava com apenas um, que estava localizado numa região inacessível por conter uma pequena ladeira. Na área open, o banheiro ficava muito distante e as pessoas com deficiência física tiveram dificuldade de se locomover até os toaletes.
Editorial
Fica o alerta do Eficientes, para próximas edições o La folie: O evento deve-se atentar as diversas formas de acessibilidade, respeitando e propondo conforto ao seu público com deficiência, para que todos e todas sejam assistidos da forma correta, apreciando o festival tranquilamente, colocando a área PCD próxima ao palco, com mais banheiros e quiosque para as pessoas com deficiência, seja na Arena, Front ou Open bar. Acessibilidade não é difícil, difícil é quem lida com a falta dela.